12 de novembro de 2008

REINO DE DEUS NO ANTIGO TESTAMENTO

A proposta deste ensaio é tratar sobre o Reino de Deus numa perspectiva da Teologia Bíblica do Antigo Testamento. Estaremos expondo a respeito do termo “Reino” no Antigo Testamento, a compreensão do reinado de Deus nesse tempo e um vislumbre do cumprimento messiânico na pessoa de Cristo, o Reino escatológico.

O termo “reino” no hebraico é malkuth, tem o sentido de “poder soberano”. Tem por raiz %lm (mlk), que está relacionada com “rei”, “reino”, “domínio real”, “soberania”.[1] Esses usos ocorrem de acordo com as variações da raiz. Em linhas gerais, o termo tWkl.m é usado para denominar tanto reis humanos (e.g., Dn 9.1; Et 5.1; Ez 26.7; 1 Cr 12.23), como ídolos religiosos, tal como Molek, no português Moloque, um deus amonita ao qual até reis de Israel sacrificaram seus filhos no vale de Hinom (1 Rs 11.7; 2 Rs 23.10).

O que nos importa aqui é a relação entre Deus e Reino. No Antigo Testamento vários textos nos dão conta de que Deus é Rei. Gostaríamos de dar pelo menos três dimensões do reinado de Deus: (1) reinado sobre Israel e os que a compõe individualmente (Sl 5.3; 10.16; 44.5; 48.3); (2) reinado sobre toda a terra (Sl 47.3, 8; 97.1; 99.1); (3) reinado sobre Israel referindo-se ao Messias (Sl 2.6; 18.51).

Nas palavras de Gerard van Groningen, “Deus é o rei por virtude de quem e o que Ele é como Deus; porque Ele criou, sustenta, governa, controla e dirige todas as coisas na criação; porque Ele é o Senhor da redenção; e porque ele é o Consumador e o Juiz final e absoluto de toda a humanidade, coisas e eventos”.[2] Deus é Rei não por instituição, mas por Aquilo que Ele é por natureza, e não poderia deixar de ser.

Não se pode deixar de incluir um dentro do aspecto da criação, a idéia da vice-regência da humanidade nomeada e estabelecida por Deus, “criada à sua imagem e designada para servir sob e com o Criador”.[3] Vemos esse aspecto nos mandatos que Deus deu para o homem. Não podemos limitar a ordem que Deus deu a Adão e Eva somente a não comerem do fruto proibido. Pois há outros mandatos que demonstravam que o homem era vice regente no reinado de Deus sobre a criação. São estes os mandatos: cultural (Gn 2.15), social (Gn 2.24) e espiritual (2.3; 2.16).

Mas além dessa dimensão da vice regência sob a criação terrena, e de reinado de Deus sobre todo o universo, há um aspecto do Reino especificamente redendivo. Obviamente, isso se deu após a queda relatada em Gênesis 3. Geerhardus Vos diz que normalmente que este é chamado ‘a Teocracia’, e “a primeira referência explícita ao Reino redentivo aparece no tempo do êxodo, Ex 19.6, onde Jehovah promete ao povo, que, se obedecerem Sua lei, eles serão feito para Ele ‘um reino de sacerdotes’”.[4] Jehovah Deus fala isso na proximidade da doação da Lei no Sinai, registrado no capítulo vinte. Esse é o ponto de vista presente do Reino do Antigo Testamento.

Numa perspectiva futura vemos uma relação do Reinado de Deus com o trono de Israel. Referindo-se a Davi e sua linhagem, Deus diz: “mas o confirmarei na minha casa e no meu reino para sempre, e o seu trono será estabelecido para sempre” (1 Cr 17.14; ver também 1 Cr 28.5; 1 Rs 2.12; 2 Cr 9.8). Quando Salomão estava prestes a subir ao trono, o Cronista relata: “Pela segunda vez fizeram rei a Salomão, filho de Davi, e o ungiram ao Senhor por príncipe, e Zadoque por sacerdote. Salomão assentou-se no trono do Senhor, rei, em lugar de Davi seu pai” (1 Cr 29.22-23). Desse modo, percebe-se que o Cronista não se restringe a dizer que Salomão, da linhagem de Davi, ‘assentou-se no trono de Israel, povo do Senhor’. Não, ele foi mais longe e específico. Salomão assentou-se “no trono de Jehovah como rei”. Nas palavras de O. Palmer Robertson, “o trono dos descendentes de Davi não era nada menos do que o trono do próprio Deus”.[5]

O Antigo Testamento também aponta para um Reino escatológico. É o reino messiânico. Vários textos proféticos apontam para um Rei-Messias. Enquanto os reis da linhagem de Davi estão se desvanecendo em sua desobediência à Lei de Deus, os profetas anunciam a promessa do “Ungido” de Deus. Pois “virá um ocupante maior do trono de Davi. Irá assentar-se para sempre no trono de Davi, seu pai. Reinará com justiça sobre toda a terra. Fundirá o trono de Deus com o seu, porque será Emanuel, Deus-poderoso, Deus mesmo”.[6]

Chegamos à conclusão que o tema é abrangente e cativante. É difícil conceituar o Reino de Deus, mas como vimos, envolve domínio sobre tudo e todos. Primeiro, Deus reina como Criador sobre a Sua criação. Segundo, envolve Seu povo, Israel, como sacerdotes perante Ele, ou seja, a Teocracia. Em terceiro, quando Israel torna-se uma monarquia, o trono do Senhor passa a associar-se com aquele. E, por último, o Antigo Testamento aponta para o reino messiânico, personificado na pessoa do Senhor Jesus. Segundo W. T. Conner, em seu livro O Evangelho da Redenção (p.90), “Jesus mesmo era a personificação do reino. O reino não é inseparável de sua pessoa… Sua vinda e obra eram a iniciação do reino. Sua presença e obra que agora faz na história são o progresso do reino. Sua manifestação final será a culminação do reino e a iniciação do reino eterno”.[7] Desse modo, o Reino em todas as suas dimensões se cumprem em Cristo, “todo o reino universal de Deus converge para Jesus”.[8]

BIBLIOGRAFIA
Brown, Colin, ed. ger., Dicionário Internacional de Teologia do Antigo Testamento, São Paulo: Vida Nova, 1998.
Padilla, René, e Carlos del Pino, Reino, Igreja, Missão, 1a edição, Goiânia: SPBC, 1998.
Robertson, O. Palmer, Cristo dos Pactos, 1a edição, trad. Américo J. Ribeiro, Campinas: Luz Para o Caminho, 1997.
van Groningen, Gerard, Revelação Messiânica no Velho Testamento, Campinas: LPC, 1995.
Vos, Geerhadus, Theological Biblical: Old and New Testament , Edinburgh: The Banner of Truth, 1975.

CITAÇÕES
[1] Ver esses conceitos em R. D. C, “Melek”, Dicionário Internacional de Teologia do Antigo Testamento (São Paulo: Vida Nova, 1998), 840-841.
[2] Gerard van Groningen, Revelação Messiânica no Velho Testamento (Campinas: LPC, 1995), 56.
[3] Ibid.
[4] Geerhadus Vos, Theological Biblical: Old and New Testament, (Edinburgh: The Banner of Truth, 1975), 373. Minha tradução.
[5] O. Palmer Robertson, Cristo dos Pactos (Campinas: LPC, 1997), 225.
[6] Ibid. Ver, e.g., Am 9.11ss.; Os 1.11; 3.4ss.; Mq 4.1-3; 5.2; Is 7.14; 9.6; 11.1-10; Jr 23.5, 6; 33.15-26; Ez 34; 37.24, entre outras passagens.
[7] Citado por Carlos del Pino, em Reino, Igreja, Missão, (Goiânia: SPBC, 1998), 20.
[8] Ibid., 21.

Um comentário:

  1. e verdade so jesus salve e estamos preparados para quando Jesus voltar e reinarmos com Ele aqui na terra a paz

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