7 de outubro de 2020

As três frases mais comuns de igrejas moribundas | Thom S. Rainer

Se as igrejas pudessem falar, quais seriam suas palavras em seu leito de morte?

Você não tem que esperar até que uma igreja feche suas portas para ouvir algumas das sentenças que levaram à sua morte. Na verdade, essas três frases, ou algo semelhante às palavras, são difundidas em muitas igrejas.

1. “Nunca fizemos assim antes.” Essa frase se tornou o exemplo clássico de uma igreja que resiste à mudança. Embora nunca devamos mudar ou comprometer as verdades da Palavra de Deus, a maior parte da resistência à mudança é sobre metodologias, preferências e desejos. Infelizmente, essas batalhas geralmente são sobre questões de minúcia. Uma igreja recentemente teve uma batalha sobre o uso de uma tela nos cultos de adoração. Uma matriarca argumentou que o apóstolo Paulo não tinha uma tela de projeção. Acho que Paul estava confortável com seu hinário impresso.

2. “Nosso pastor não visita o suficiente”. As igrejas com essa reclamação geralmente têm expectativas altamente irracionais em relação ao pastor. O pastor poderia visitar os membros 24 horas por dia, 7 dias por semana e ainda não seria o suficiente. Alguns dos membros dessas igrejas comparam a duração e a frequência das visitas pastorais para ver quem está recebendo mais atenção. Essas igrejas estão focadas internamente e estão caminhando para o declínio e, muitas vezes, a morte iminente.

3. “As pessoas sabem onde nossa igreja está se quiserem vir aqui.” Esta frase está repleta de problemas. Primeiro, assume que a igreja é um lugar, que a localização física do prédio da igreja é a igreja. A igreja, trabalhando sob essa suposição errônea, nunca poderá sair de seus muros porque deixará de ser a igreja. Em segundo lugar, essa frase é freqüentemente usada como desculpa para as congregações permanecerem em seus “encontros sagrados” e nunca evangelizar a comunidade. Terceiro, em alguns casos, é uma sentença de encobrimento de preconceito e racismo. A comunidade fora da igreja mudou, mas a igreja não. Os membros da igreja realmente não querem “aquelas pessoas” invadindo sua fortaleza.

Muitas igrejas estão fechando suas portas todos os dias. E os membros dessas igrejas nunca teriam pensado que aquele dia triste chegaria.

Você tem a oportunidade agora de olhar os sinais de alerta em sua igreja. Se essas sentenças, ou alguma variação delas, fizerem parte da linguagem comum de sua congregação, a igreja está em apuros.

Sim, sua igreja pode mudar no poder de Deus. Infelizmente, a maioria dos membros dessas congregações não abrirá mão de suas preferências, confortos e preconceitos pessoais para mudar.

E esse tipo de mentalidade, infelizmente, é um certo caminho para a morte.

Thom S. Rainer

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Original disponível em inglês: The Three Most Common Sentences of Dying Churches
Acesso: 07 out. 2020.
Tradução: Google tradutor (Revisão: Robson Santana)

1 de setembro de 2020

É possível conciliar a fé cristã com a ideologia socialista?


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Vídeo Youtube AQUI

Texto inicial: Lucas 10:29-37 (Parábola do bom samaritano)

O assunto da nossa palestra é sobre a questão da Justiça Social. O que nós, como povo de Deus, devemos pensar e agir para socorrer os pobres, diminuir as desigualdades e lutar por uma sociedade mais justa, menos desigual, menos opressora em relação aos menos favorecidos?

Samuel Sey, no artigo Por que os Cristãos Reformados são Vulneráveis à Justiça Social, afirma que o problema ao tratar do assunto é partir da cultura, em vez das Escrituras. Ou seja, o problema é identificado pelos socialistas, mas os pressupostos e os objetivos para resolver a questão são totalmente diferentes do que ensinam a Palavra de Deus.

 

O pressuposto dos comunistas e socialistas é apenas histórico, material e econômico. O problema da humanidade é resolvido solucionando seus problemas terrenos através de uma reforma política e econômica radicais; através do que chamam de revolução, que normalmente ocorre de forma violenta, na força das armas e com derramamento de sangue.

 

Biblicamente, a busca da justiça social é o desembocar do amor ao próximo que todos os cristãos devem exercitar. Bem como uma ação do Estado, que também foi designado por Deus. Em 1 João 4.20-21 está escrito que não podemos dizer que amamos a Deus, se não amamos ao próximo, aqueles que estão ao nosso redor.

 

O pastor reformado, parlamentar, escritor e ex-Primeiro Ministro da Holanda, Abraham Kuyper (1937-1920), em uma palestra num Congresso para tratar do Problema da Pobreza, disse:

É necessária misericórdia diante da miséria temporal e também diante do sofrimento espiritual de homens cativos a falsos evangelhos, incluindo os evangelhos dos ideais revolucionários e de seus sonhos emancipatórios. (O problema da pobreza, p. 16).

É inegável que existe, e sempre existiu, uma sociedade injusta e até perversa, fundamentada no pecado e no engano, sendo os maiores deles, os pecados da avareza e da ambição desenfreadas.

 

Como já havia observado o Rei Salomão, em Eclesiastes 4.1: “Vi ainda todas as opressões que se fazem debaixo do sol: vi as lágrimas dos que foram oprimidos, sem que ninguém os consolasse; vi a violência na mão dos opressores, sem que ninguém consolasse os oprimidos”. 


No entanto, que é o que queremos argumentar, a “questão social não precisa ser necessariamente resolvida por meio do entendimento socialista” (O problema da pobreza (p. 119).

 

Vejamos, então, a proposta comunista/socialista original, e atual, e analisemos se é possível conciliar a questão da justiça social com a ideologia socialista.

 

No Manifesto Comunista, de Marx e Engels, de 1848, no segundo capítulo do livro, que tem por título PROLETÁRIOS E COMUNISTAS, está escrito:

 O objetivo imediato dos comunistas é o mesmo que o de todos dos demais partidos proletários: constituição do proletário em classe, derrubada da supremacia burguesa, conquista do poder político pelo proletariado. (p.51).

No cerne do pensamento comunista está uma mudança total no status quo das sociedades, ou seja, em tudo que estava estabelecido em termos de riqueza e cultura em geral. Segundo eles, houve a transição do sistema feudal para o burguês, mas isso não mudou muito a situação daqueles que estão com a mão na massa, ou seja, a situação do trabalhador ou proletário.

 

Logo, a mudança proposta por eles se dá de forma radical. Ainda no MANIFESTO COMUNISTA, é dito: “os comunistas podem resumir sua teoria numa única expressão: supressão da propriedade provada” (p.52).

 

No entendimento de Marx e Engels, o sistema de geração de riqueza gerado pelas propriedades privadas só acumulava riqueza para os proprietários. Eles entendiam que o problema humano girava em torno da seguinte situação antagônica (conflitante): o sistema capitalista explora o trabalho assalariado.

 

A ideia, então, era - e é - abolir a propriedade privada para que os trabalhadores (proletários) possam usufruir do capital. Como isso vai acontecer? Através de revoluções armadas. Foi assim na Rússia, China, Coreia do Norte, Cuba, Vietnã, Camboja, etc.

 

Só que, na experiência prática, esse governo do proletariado e em prol do proletariado nunca existiu. No lugar dos burgueses ficaram ditadores e tecnocratas. Em outras palavras, continuaram as desigualdades, e agora sem a iniciativa privada, sem as liberdades políticas, familiares e individuais. O Estado se torna um deus. Seus ditadores seus profetas inquestionáveis; que também deveriam ser venerados e adorados.

 

Outro desdobramento da ideologia comunista é que a ideia de família em seu conceito mais tradicional precisava ser abolida. Será que estou exagerando? Vejamos o que está no MANIFESTO COMUNISTA:

Supressão da família! Até os mais radicais se indignam com esse propósito infame dos comunistas.
[...] Censurai-nos por querermos abolir a exploração das crianças pelos seus próprios pais? Confessamos esse crime.
Dizeis também que destruímos as relações mais intimas, ao substituirmos a educação domestica pela educação social. (p.55)
Para alcançar seus objetivos era preciso “arrancar a educação da influência da classe dominante” (p.55), especialmente no Ocidente (Europa e Américas), o conceito de família está, de alguma forma, condicionado ao que a Bíblia ensina (judaico-cristão).

 

A ideologia socialista não apenas foi colocada em práticas em países comunistas – ontem e hoje – mas também em países democráticos no Ocidente. Por exemplo, A então candidata pelo Partido Democrata nos EUA, Hilary Clinton, advogava que o Estado deveria intervir mais diretamente na criação dos filhos, para inculcar o pensamento liberal e progressista mais à esquerda de seu partido.

 

O que vemos em tudo isso até aqui?

 

Na prática, a ideia comunista é realizada de forma ditatorial pelo Estado, abolindo a propriedade privada, as liberdades individuais, a autonomia das famílias e à própria religião.

 

Segundo escreveu Marx, “a religião é o ópio do povo” (Crítica da Filosofia do Direito de Hegel, 1843). Isso por que esteve atrelada ao sistema anterior, seja feudal, burguês ou capitalista. Logo, a solução é que a religião seja abolida.

 

Não somente isso. A ideia de pátria não existe. Ainda segundo o Manifesto Comunista:

os operários não têm pátria. não se lhes pode tirar aquilo que não possuem. como, porém, o proletariado tem o objetivo conquistar o poder político e elevar-se a classe dirigente da nação, tornar-se ele próprio nação, ele é, nessa medida, nacional, mas de nenhum modo no sentido burguês da palavra.

Logo depois de implantar o comunismo na Rússia, com o assassinato da família real, da dinastia Romanov, o próximo passo foi tentar expandir o comunismo para o resto da Europa. A Polônia estava no caminho. Disseram que iriam implantar o comunismo na Europa - e alhures - mesmo que fosse sobre os cadáveres dos poloneses. Mas nessa batalha foram derrotados. Talvez Marx e Engels não tivessem noção do que iria ocorrer décadas depois quando o comunismo fosse implantado em alguns países.

 

Eles diziam que o capitalismo iria acabar pouco a pouco em globalização. O comunismo iria apressar esse processo:

À medida que for suprimida a exploração do homem pelo homem será suprimida a exploração de uma nação pela outra (p.56).

Como a revolução comunista poderia ser colocada em prática? eles deixaram o passo-a-passo para isso:

Todavia, nos países mais adiantados, as seguintes medidas poderão geralmente ser postas em prática: 

· Expropriação da propriedade latifundiária e emprego da renda da terra em proveito do Estado.
· Imposto fortemente progressivo.
· Abolição do direito de herança.
· Confiscação da propriedade de todas os emigrados e sediciosos.
· Centralização do crédito nas mãos do Estado por meio de um banco nacional com capital do Estado e com o monopólio exclusivo.
· Centralização, nas mãos do Estado, de todos os meios de transporte.
· Multiplicação das fábricas e dos instrumentos de produção pertencentes ao Estado, arroteamento das terras incultas e melhoramento das terras cultivadas, segundo um plano geral.
· Trabalho obrigatório para todos, organização de exércitos industriais, particularmente para a agricultura.
· Combinação do trabalho agrícola e industrial, medidas tendentes a fazer desaparecer gradualmente a distinção entre a cidade e o campo
· Educação pública e gratuita de todas as crianças, abolição do trabalho das crianças nas fábricas, tal como é praticado hoje. Combinação da educação com a produção material, etc. (p.58).

No parágrafo final do Manifesto Comunista, Marx e Engels dizem:

 Os comunistas se recusam a dissimular suas opiniões e seus fins. Proclamam abertamente que seus objetivos só podem ser alcançados pela derrubada violenta de toda a ordem social vigente. Que as classes dominantes tremam à ideia de uma revolução comunista! Nela os proletários nada têm a perder a não ser os seus grilhões. Tem uma munda a ganhar. PROLETÁRIOS DE TODOS OS PAÍSES, UNI-VOS. (p.69).

 

"Qual deve ser a posição e a atitude dos que confessam a religião cristã frente a este movimento socialista?" Pergunta Kuyper (o problema da pobreza, p. 128).

 


1) Os problemas sociais e as desigualdades devem gerar em nós profunda misericórdia

 

Exemplo: Bom samaritano. Dois religiosos passaram longe, mas um samaritano sentiu a dor do outro, comoveu-se, deu assistência necessária imediata e proveu ajuda através de outras pessoas.

 

De fato, Kuyper diz que devemos exercitar o contentamento, como diz Paulo, “Tendo sustento e com que nos vestir, estejamos contentes” (1Tm 6.8). Ao mesmo tempo, podemos simplesmente usar erroneamente as palavras de Cristo: “os pobres sempre tendes convosco” (Mt 26.11), querendo nos isentar da nossa responsabilidade com o próximo. Desse modo, devemos reagir biblicamente quando pessoas são oprimidas e seu sustento é tirado mesmo quando tenha trabalhando para isso.

 

Kuyper disse também: 

“Uma misericórdia que só oferece dinheiro não é amor cristão. Amor cristão se caracteriza por uma doação completa. Não somente doação de dinheiro, mas doação de si mesmo, do seu tempo, de suas forças e da sua empatia. Somente então sairás em liberdade, quando sua doação transcender, com o fim de ajudar a solucionar o problema e colocar para sempre um fim a esta transgressão e, assim, minimizar os erros de uma vez por todas. Também nada do que se encontra escondido na casa do tesouro da sua religião cristã.” (O problema da pobreza (p. 130).


2) “Outra questão prática que deve ser levada em conta é que “o primeiro artigo de qualquer programa social, que se prepara para a aplicação do resgate, sempre será: creio no deus altíssimo, criador do céu e da terra.”  Kuyper. (p. 132).

 

Nos movimentos socialistas puramente materialista, Deus foi abolido, seja na Revolução Francesa, seja nos movimentos comunistas que vingaram no século XX.

 

Movimentos que buscaram diminuir os poderes autoritários e melhorar a vida da sociedade e que desemborram em sistemas democráticos e melhoraram de fato a sociedade, colocaram Deus no centro de seus projetos, seja na Inglaterra, Holanda ou Estados Unidos.

 


3) A questão da propriedade privada

 

De acordo com a Bíblia, as pessoas podiam acumular riqueza de forma honesta e sua herança passar para sua descendência (herdeiros). Isso não quer dizer que o Estado não deva estar atento às necessidades urgentes dos pobres e menos favorecidos.

 

No Brasil temos o Bolsa Família, Seguro Defeso. Recentemente o Auxílio Emergencial, etc. Mas a solução não dever ser apenas assistencialista. O Estado e outras entidades civis e religiosas devem auxiliar pessoas e famílias a encontrarem um caminho onde possa trabalhar e adquirir renda para sua família, empreender, etc.

 

O teólogo Wayne Grudem, em parceria com o economista Barry Asmus, escreveram o livro Economia e Política na Cosmovisão Cristã. Falando sobre a questão da desigualdade econômica, dentre outras coisas, disse: 

“A única solução em longo prazo para a pobreza vem quando as pessoas têm habilidades suficientes e disciplina para obter e manter empregos economicamente produtivos” (p.56)


Trazendo a ideologia socialista para o campo daqueles que professam a fé cristã, Franklin Ferreira escreveu recentemente o artigo infiltração dos “cristãos progressistas” na igreja cristã. Segundo ele, de modo geral, os “cristãos progressistas”: 

·  repudiam a Bíblia como Palavra de Deus inspirada e infalível;

·  falam da irrelevância da Trindade ou defendem o teísmo aberto;

·  são indiferentes aos ensinos sobre o pecado original e pessoal e a salvação pela graça;

·  repudiam o nascimento virginal de Cristo Jesus;

·  seu sacrifício expiatório e substitutivo na cruz;

·  e sua ressurreição corporal;

·  rejeitam todo e qualquer milagre ou sinal divino;

·  são críticos das igrejas ou “desigrejados”;

·  são indiferentes ou abandonaram qualquer crença na segunda vinda de Cristo.

Esta ruptura com as doutrinas centrais da fé cristã pode ser encontrada numa consulta aos livros, artigos, ensaios e apostilas sugeridos ou publicados por estes e que ilustram a ruptura com a fé entre muitos dos “cristãos progressistas” brasileiros; Infelizmente essa ideologia adentrou nos seminários teológicos, gerando pastores praticamente ateus.

 

Franklin Ferreira questiona: Se há tal ruptura com a tradição cristã mais ampla, como reconhecer esses ditos “progressistas” como cristãos?

 

A agenda dos chamados “cristãos progressistas” tornam absoluta toda a agenda atrelada aos anseios centrais da esquerda e extrema-esquerda, defendendo ferrenhamente: 

·  a união homoafetiva e a redefinição do conceito de família;

·  a defesa do aborto;

·  a liberalização das drogas;

·  o antissemitismo e antissionismo, e Israel como um “estado terrorista”;

·  a divisão marxista da sociedade em categorias de opressor e oprimido/vítima;

·  uma política identitária que divide a sociedade, sem nenhum interesse em reconciliação;

·  a crença de que “todos os homens brancos são responsáveis pela opressão branca” e que o homem branco cristão é o opressor, “o diabo” (James Cone), e “a igreja ‘branca’ é o Anticristo” (Jeremiah Wright);

·  a satanização dos opressores e imposição aos indivíduos de pagar por opressões históricas das categorias a que pertencem;

·  que aqueles que não concordem com eles são fascistas, homofóbicos, racistas, misóginos etc.

·  e a fé de que o Estado controlador, sob o domínio do Partido, pode moldar e controlar a sociedade civil, levando-a a um milênio secularizado.

Este é todo o “evangelho” que os “cristãos progressistas” têm para oferecer.

 

Finalizo com as palavras do estadista reformado Abraham Kuyper: 

“Tudo o que se pode sussurrar aos nossos ouvidos aqui é o comovente e eloquente chamado do bom samaritano. Há sofrimento ao teu redor e os que passam por este sofrimento são teus irmãos, compartilham a mesma natureza, são de tua própria carne, de teus próprios ossos. Tu poderias estar no lugar deles; e eles, em tua posição privilegiada. E agora o evangelho vos fala de um Redentor da humanidade que, mesmo sendo rico, fez-se pobre por amor de vós para vos tornar ricos. O evangelho nos faz ajoelhar e adorar uma criança que nos nasceu, mas que nasceu em um estábulo. Uma criança que foi deitada em uma manjedoura e envolta em faixas. Este fato nos aponta para o Filho de Deus, mas o qual se tornou Filho do homem a fim de percorrer a terra, indo da rica Judeia à pobre Galileia, achegando-se, naquela desprezada Galileia, aos que ali se encontravam necessitados ou pressionados pelo sofrimento. Sim, este evangelho vos fala de um único Salvador que, antes de partir deste mundo, inclinou-se com vestes de escravo a fim de lavar os pés de seus discípulos, um a um. Após ter feito isso, levantou-se e disse: “Eu vos dei o exemplo, para que, como eu vos fiz, façais vós também uns aos outros”. (O problema da pobreza. p. 146).


















Pergunto: É possível conciliar a fé cristã com a ideologia socialista?

 


Robson Rosa Santana

Pastor da Igreja Presbiteriana do Brasil

(62) 98547-6460

17 de abril de 2020

Coronavírus e Cristo - John Piper: uma resenha


Resenha

Robson Rosa Santana[1]


PIPER, John. Coronavirus and Christ [Coronavírus e Cristo]. Wheaton, Illinois: Crossway. 2020,114 p.

O renomado pastor batista John Piper escreveu este livro em pouco tempo, do final de marco a início do mês de abril de 2020, no período de quarentena por causa da rápida expansão do novo coronavírus e a doença a ele relacionado, o Covid-19. O objetivo do livro não é detalhar os desdobramentos da expansão, nem os possíveis tratamentos, que até a escrita dele não havia ainda cura. Nem ainda pretende tratar dos problemas econômicos, que já são uma realidade em todo mundo, causadas pelo isolamento social pela maioria dos países.
Fazendo um paralelo com a gripe espanhola de 1918, Piper afirma que “este é o tempo quando a forma frágil desse mundo é sentida” (p.8). A pergunta que o autor tentará responder no livro é essa: em tempo que os fundamentos desse mundo estão sendo chacoalhados, nós temos uma Rocha sob nossos pés? Uma Rocha que não pode ser abalada? O livro é dividido em duas partes. Na primeira, que contém cinco capítulos, Piper aborda: “O Deus que reina sobre o coronavírus". Na segunda parte o tema é: “O que Deus está fazendo através do coronavírus?”.
No capítulo 1, convida os leitores para que “Venha para a Rocha”. Em tempos incertos, no qual muitos jogam com as probabilidades em termos percentuais, jovem versus idosos, auto isolamento ou reuniões domésticas com os amigos, proveem pouca esperança. Para esse caos social Piper busca apontar para Deus como nossa única Rocha de certeza.
Quando foi acometido de câncer em 2005 tudo girava em torno das possibilidades, em termos de esperar para ver o que acontece, medicamentos e etc. Ele havia levado a sério a questão das probabilidades, até que ao final do dia ele concluiu com sua esposa: “Nossa esperança não está nas probabilidades. Nossa esperança está em Deus” (p.12).
Fundamentado no que Deus fala em Sua Palavra, ele sabia que Deus não estava irado com ele, pois vivendo ou morrendo, Deus estaria com ele, por causa de Cristo Jesus (paráfrase de 1Ts 5:9-10). Essa firmeza de fé é diferente de jogar com as probabilidades, seja do câncer ou do coronavírus. Este é o motivo dele escrever o livro.
A segurança que Deus está com seu povo é o que leva Piper a buscar gastar sua vida para o bem dos outros, sendo o bem maior a vida eterna, que exalta a grandeza de Jesus. Apesar das circunstâncias, podemos dizer que estamos bem, porque somente Deus sabe e decide se estamos bem.
Pois somente em Deus e na Sua presença nós podemos fazer isso ou aquilo (cf. Tg 4.13-15). Nada fica fora do “isto ou aquilo”, pois Deus está totalmente envolvido na vida, seja na saúde ou enfermidade, colapso econômico ou recuperação, respirando ou não. Deus é quem decide. Esse capítulo introdutório é um chamado para que todos venha à Rocha solida que é Jesus Cristo e que em qualquer momento, incluindo a pandemia do coronavírus, possamos permanecer no amor poderoso de Deus.
“Um Sólido Fundamento” é o título do capítulo 2. Piper afirma que o que ele pensa sobre o coronavírus não é importante, mas o que Deus pensa e fala através das páginas das Escrituras. Piper cita vários textos que apontam para a perfeição de Deus, tendo como ponto principal: “a doçura da Palavra de Deus não é perdida em momentos históricos de providência amarga – não se temos aprendido o segredo de ‘entristecidos, mas sempre alegres’ (2Co 6.10)” (p.22-23). Esse estado de alma só é possível pela luz do Evangelho de Cristo nos corações.
O capítulo 3, “A Rocha é Justa”, Piper argumenta que Deus é como uma Rocha, portanto, é justo, santo e bom. O desenvolvimento desse capítulo é a exposição dos atributos divinos da santidade, justiça e bondade. “A santidade de Deus é Sua infinita transcendência e dignidade acima de tudo mais” (p.29). Deus é auto existente, independente, completo e perfeito. A santidade de Deus não se refere apenas a Sua transcendência, mas também à moralidade. Logo, a santidade relaciona-se com a justiça. O Deus santo é justo. Justiça implica fazer o que é certo e o padrão de Sua justiça é ele mesmo. A justiça, por sua vez, está interligada com a bondade de Deus. Não há contradição. Sua justiça guia Seu favor. Desse modo, “a bondade de Deus é sua disposição para ser generoso – fazer o que abençoa os seres humanos” (p.34).
No capítulo 4, “Soberano sobre Tudo”, Piper faz uma bela exposição sucinta sobre a doutrina fundamental da soberania de Deus e, por correlação, da doutrina da providência. Essa providência, por vezes, é amarga, dura ou dolorida. Citando vários exemplos, como Noemi, Jó, Jeremias (Lamentações), o autor afirma que a “providência amarga não um descrédito dos caminhos de Deus. É uma descrição” (p.37).
Na verdade, tudo que Deus deseja Ele realiza. Como Ele mesmo disse: “que desde o princípio anuncio o que há de acontecer e desde a antiguidade, as coisas que ainda não sucederam; que digo: o meu conselho permanecerá de pé, farei toda a minha vontade” (Is 46.10). Segundo ele, não deve haver lugar para uma visão sentimental de Deus.
O último capítulo da primeira parte que trata sobre o Deus soberano, incluindo o coronavírus, John Piper aborda outro aspecto essencial da Sua pessoa: “A Doçura do Seu Reinado”. Como seria possível conciliar a soberania de Deus sobre o coronavírus e sobre nossas vidas como algo doce? Piper responde que o segredo é “saber que a mesma soberania que poderia parar o coronavírus, mas não o faz, é a mesma soberania que sustenta a alma nele” (p.45).
Citando Romanos 8.32, ele afirma que o envio de Jesus e sua obra na cruz é prova de que Deus usará Sua soberania para “nos dá todas as coisas”. Essa é a confiança que todo crente dever ter, que Deus proverá tudo para façamos sua vontade, glorifiquemos o seu nome e desfrutemos da sua presença plena de alegria. Desse modo, vida e morte não dependem da ação de Satanás ou de quaisquer outras circunstâncias, até mesmo o coronavírus, como se todas estas coisas não estivessem sob o controle das mãos poderosas de Deus.
Não cai um pardal ou fio de cabelo sem que não seja da vontade de Deus. Na verdade, as circunstâncias executam a santidade, justiça, bondade e sabedoria de Deus. Em outras palavras, é possível afirmar que somos imortais até que a obra que Deus nos deu para realizar seja feita.
A segunda parte do livro começa com uma breve introdução em que o autor trata dos pensamentos preliminares de ver e apontar. O argumento principal continua sendo o da soberania de Deus. Que ele “faz todas as coisas conforme o conselho da sua vontade” (Ef 1.11). Quais, então, são os propósitos dele nesse surto de coronavírus com toda sua devastação? O que Deus está fazendo?
Primeiro deixar de considerar o homem com seus argumentos pessoais e justificativas. O homem não tem as respostas, mas as Escrituras, pois são a Palavra de Deus inerrante. “Deus não está em silêncio sobre o que ele está fazendo nesse mundo” (p.56). Embora muito do que acontece seja inescrutável (cf. Rm 11.33), isso não quer dizer que devemos deduzir a realidade por nossa própria conta, segundo nossos pensamentos e modo de ver as coisas. Quando Paulo findou a primeira parte de Romanos (1-11), o que ele queria dizer é que Deus nos revelou seus planos eternos de salvação, que, por sua vez, estava oculto das gerações anteriores.
Assim, o sofrimento, incluindo o surto do novo coronavírus, são descritos como uma realidade da vida humana no presente mundo. Inescrutável, portanto, quer dizer que Deus está agindo além do que podemos ver, e se podemos ver, é porque ele revelou. Isso leva à segunda parte dos pensamentos preliminares: aportar para a realidade.
Deve-se deixar de lado as especulações humanas e reconhecer que Deus e Sua Palavra são a realidade que precisamos, a Rocha sob nossos pés. Nos capítulos seguintes Piper diz que “apontará para o que a Bíblia ensina e assim fará as conexões com o coronavírus” (p.59), e os leitores devem julgar o que está certo. Os próximos seis capítulos são seis respostas apontadas pelo caminho das Escrituras.
A primeira resposta é "Ilustrando o Horror Moral" da humanidade (cap.6). Piper argumenta que “Deus está dando ao mundo no surto do coronavírus, como em todas as outras calamidades, uma imagem física do horror moral e feiura espiritual do pecado que menospreza de Deus” (p.61). A base doutrinária acerca de todos os males humanos, incluindo as misérias físicas, jaz na Queda do homem em pecado, registrado em Genesis 3 e sumariada por Paulo em Romanos 5.12. O pecado levou o julgamento de Deus a este mundo. Desde então iniciou-se uma devastação e miséria a nível global.
Embora sejamos salvos por Cristo, ainda estamos sujeitos à corrupção desse mundo, até mesmo passamos pela morte física, por todas as causas possíveis. Mas com um diferencial. Os crentes não experimentarão a condenação eterna. Deus não nos destinou para a ira (1Ts 5.9). Os sofrimentos nos purificam. O aguilhão da morte foi removido. Morrer é lucro. Partir e estar com Cristo é infinitamente melhor.
Em boa parte dos males desse mundo haja ação do diabo, pois é o “príncipe desse mundo”, suas ações são limitadas pela mão de Deus. Em outras palavras, mesmo que seja difícil muitos compreenderem, o diabo serve aos propósitos de Deus.
Por que, então, o homem sofre consequências físicas por causa do mal moral que é o pecado? Piper sintetiza: “o mal físico é uma parábola, um drama, uma placa apontando para o ultraje moral da rebelião contra Deus” (p.66). Usando palavras que lembram C. S. Lewis, Piper diz que a dor física é como uma trombeta soando a dizer-nos que algo está muito errado nesse mundo. E que juízo ainda maior haverá na eternidade para aqueles que não se converteram a Jesus.
A segunda resposta no capítulo 7 é que Deus envia julgamentos específicos (Sending Specific Divine Judgments). Ou seja, “algumas pessoas serão infectadas com o coronavírus como um julgamento especifico de Deus por causa de suas atitudes e ações pecaminosas” (p.69). Piper fundamenta esse argumento citando o juízo de Deus sobre Herodes em Atos 12. O juízo de Deus em Romanos 1 acerca da prática homossexual. Em suma, ele afirma que nem todo sofrimento é um julgamento específico para pecados específicos, mas alguns é.
Cristãos podem morrer por causa do COVID-19. Por isso cada ser humano tem de buscar discernir se seu sofrimento é julgamento de Deus ou não em relação ao modo que vivemos. Os que estão em Cristo Jesus não entram em juízo, conforme Joao 5.24 (cf. Rm 8.1; Hb 12.6).
O capítulo 8 tem por título “Despertando-nos para a Segunda Vinda”. A terceira resposta é a compreensão de Piper que Deus enviou o coronavírus para que estejamos preparados para a volta de Jesus. Tudo que causa sofrimento é o princípio das dores preditas por Jesus. São as dores do parto. A terra sente as dores como uma mulher em trabalho de parto que dará a luz um novo mundo na segunda vinda de Cristo. Logo, um chamado ao seu povo, e ao mundo, para que esteja em vigilância constante (Mc 13.33-37). “O caminho para estar pronto é vir a Jesus Cristo, receber perdão pelos pecados e andar na sua luz”, diz Piper (p.76).
No capítulo 9, “Realinhando-nos ao Valor Infinito de Cristo”, o autor traz a quarta reposta: o coronavírus é um chamado poderoso ao arrependimento e realinhamento das nossas vidas a Cristo. Não é o único, mas também é. Piper cita como fundamento e ilustração o episódio ocorrido com alguns galileus foram mortos por Pilatos no templo e o sangue deles misturados com o sangue do sacrifício e os mortos quando a torre de Siloé caiu. Jesus questiona e exorta os que levaram a notícia: “vocês pensam que eles eram mais culpados do que todos os outros moradores de Jerusalém? Digo a vocês que não eram; mas, se não se arrependerem, todos vocês também perecerão” (Lc 13.1-5). Esses desastres não eram para despertar a curiosidade das pessoas. Segundo Jesus, todas pessoas têm de pensar que poderia ser com elas. Essa é sua conclusão: “arrependam-se ou serão condenados ao inferno”.
Esses sinais específicos de juízo são também sinais da misericórdia enquanto há tempo. Em todo desastre Deus traz uma mensagem de misericórdia. Piper acredita que é essa mensagem de Deus nesses tempos de pandemia. Segundo ele, Deus está chamando as pessoas para que o amem de todo coração e o coloquem em primeiro lugar nas suas vidas. Colocando Deus como seu maior tesouro e Jesus como o relacionamento mais importante. O recado de Deus é este: nada nesse mundo dá segurança e satisfação que só podem ser encontradas em Jesus.
No contexto de perigo de contaminação pelo coronavírus, Piper nos dá a quinta resposta por meio de boas obras de amor que glorificam a Deus (cap. 10). Jesus afirmou que seus discípulos são o sal da terra e a luz do mundo, logo após falar da bem-aventurança das perseguições. O contexto atual não é o da perseguição, mas de epidemia. Um tempo perigoso que pode levar a morte. Fazer boas obras em tempo de perigos é um sinal de que somos sustentados pela esperança em Deus.
Ele cita Pedro como um dos escritores do Novo Testamento que mais enfatizou o ensino de Jesus sobre as boas obras para a glória de Deus (1Pe 2.12). No entanto, o argumento imbatível de Piper foi que Jesus morreu para realizar boas obras em perigo. A boa obra de Jesus na cruz nos salva e nos faz viver para justiça (1Pe 2.24) e zelosos de boas obras (Tt 2.14). Segundo Piper, “um dos propósitos de Deus no coronavírus é que seu povo faça morrer a autopiedade e o medo, e deem a si mesmos para as boas obras na presença do perigo” (p.91). Este capítulo finaliza com alguns exemplos da igreja nos primeiros séculos de sua existência, em momentos de pragas e miséria no Império Romano, o que calou a ignorância de alguns imperadores.
Desse modo, não há contradição em afirmar que foi Deus que enviou o coronavírus como sinal de seu juízo ao horror do pecado, e, ao mesmo tempo, que ele envia seu povo a realizar boas obras em meio à pandemia. Deus é o próprio exemplo. Ele enviou a si mesmo em Cristo para levar sobre ele nosso juízo, demonstrando, assim, seu eterno e infinito amor.
A sexta e última resposta sobre o que Deus está fazendo através do coronavírus aponta para as missões transculturais: “Desprendendo as Raízes para Alcançar as Nações". O pastor batista reformado argumenta que Deus está soltando ou afrouxando as raízes dos cristãos estabelecidos ao redor do mundo para torná-los livres para algo novo em suas vidas, enviando-os a povos não alcançados.
Piper reconhece que relacionar uma pandemia com missões pode parecer estranho, pois de imediato o coronavírus tem causados a diminuição das viagens, migração e, logo, do avanço missionário. Mas ele não pensa no curto prazo. Segundo ele, Deus tem feito isso na história. Tem levado cristãos a moverem-se para lugares que o evangelho precisa chegar. Ele espera que missões seja um dos impactos a longo prazo do coronavírus.
Deus tem usado a perseguição como estratégia missionária. A expansão da igreja na era apostólica ocorreu a partir do martírio de Estevão em Atos 7 e da grande perseguição de Atos 8. Martírio e perseguição serviram para o avanço das boas novas. A promessa de Cristo que ele edificaria sua igreja em todo mundo tem de se cumprir.
Pode-se pensar que a pandemia é um revés para as missões mundiais, mas frequentemente os caminhos de Deus incluem aparentes retrocessos que levam a grandes avanços. A abrangência mundial do coronavírus é muito grande para Deus desperdiçar, acredita Piper.
O livro termina com “Uma Oração de Encerramento”. Ele pede, como Jesus no Getsêmani, que passe esse cálice de nós, se for da sua vontade. Pede por sabedoria para entendermos seus propósitos. Intercede pedindo misericórdia pelos pobres, aflitos e por cura. E que esse surto global sirva de purificação e santificação para seu povo.
O livro é um grande chamado ao arrependimento do mundo, santificação da Igreja e serviço abnegado aos necessitados física e espiritualmente deste mundo. Um chamado a reconhecer que o que há de errado nesse mundo é apenas uma imagem pálida da rebelião do homem contra Deus; que Ele é justo, santo e bom ao exercer juízo sobre este mundo, ao mesmo tempo que nos aponta o caminho para ele que ele mesmo pavimentou através do sangue de Jesus e sua ressurreição.




[1] É ministro presbiteriano. Bacharel em teologia pelo Seminário Presbiteriano Brasil Central e mestre em teologia (M.Div.), com habilitação em Missões Urbanas, pelo Centro Presbiteriano de Pós-Graduação Andrew Jumper. Autor do livro Missão Urbana: Fundamentos,Desafios e Implicações.


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