21 de setembro de 2010

A VISÃO DO TRABALHO COM ADOLESCENTES

Por Rev. Haveraldo Ferreira Vargas Júnior

A adolescência é o tempo em que deixo de ser o que era, mas ainda não sou o que serei. Sou um encontro de rios agitados, que se misturam formando grandes ondas.

Sinto-me diferente. Sabia quem eu era até pouco tempo. Estou experimentando transformações no meu corpo. Dentro de mim começam a existir sentimentos e sensações que eu desconhecia. É estranho, mas sei que vou me habituar. O problema é que nem todo mundo parece ter a mesma esperança que eu. Em alguns momentos me tratam como criança. Não gosto muito disso. Em outros, exigem que eu seja adulto. Parece que eles também não sabem o que está acontecendo, mas fico com uma grande dúvida: como eles não sabem, se já passaram por isso antes?

A adolescência é um tempo maravilhoso de grandes descobertas e novas conquistas. A vida começa de novo na adolescência. Um outro mundo está diante daqueles que cruzam esta fronteira. Nada será como antes. Do passado ficarão lembranças. Estas, em princípio, quererão ser esquecidas. Com o tempo se quererá vivenciá¬-Ias novamente. Mas já é tarde demais.

No campo biológico, alguns aspectos devem ser considerados, em sua maior parte, a questões da puberdade, quando a criança passa a conviver com mudanças substanciais no corpo, como o aumento do número de pelos, desenvolvimento muscular, os seios crescem nas meninas, altera-se a voz dos garotos. Em muitos há dificuldades para se coordenar os movimentos. Surgem nesta época os festivais de copos quebrados durante as refeições. Raramente passa-se uma refeição em que copos ou jarras não são derrubados sobre a mesa ou mesmo no chão. Quem não passou por isso?

Outro aspecto é o sociológico. Aqui se evidencia a ruptura entre a dependência total e plena a uma independência assistida. No começo desse tempo os adolescentes são ainda crianças em transição, com boa parte de suas necessidades emocionais sendo ainda infantis. No entanto, passam a assumir posturas de quem deseja crescer, assim como já têm crescido no campo físico. Obviamente essa etapa não é fácil para ninguém. A crise dos pais está em perceber mudanças físicas significativas, mas nem sempre de acordo com as atitudes. Há momentos em que o corpo crescido briga com atitudes infantis. Na ótica adolescente essa é também uma questão complicada, afinal, ele é obrigado a assumir novos posicionamentos e avançar rumo a um mundo desconhecido e que muitos deles nem querem conhecer. Isso faz com que muitos realmente não queiram prosseguir nesse mundo novo, que para eles nem é muito admirável, e procuram permanecer na segurança e conforto da infância. O mesmo fenômeno, um pouco mais aguerrido, acontece na saída da adolescência para a fase adulta.

A enciclopédia Barsa define assim a adolescência:

Fase de transição entre a infância e a idade adulta, que se estende dos 13..14anos aos 22.23 anos, para o homem, e dos 11-12 anos aos 21 para a mulher. Éo período da vida caracterizado por amplas e profundas modificações psicossomáticas, em que se finaliza o desenvolvimento morfológico e funcional do ser humano (v. I, p.81).

O Novo Dicionário Básico da Língua Portuguesa Aurélio traz a seguinte definição de adolescência:

O período da vida humana que sucede à infância, começa com a puberdade, e se caracteriza por uma série de mudanças corporais e psicológicas (estende-se aproximadamente dos 12 aos 20 anos) 1986, p.17.

Martin Herbert diz que "o termo adolescência refere-se, em essência, aos desenvolvimentos psicológicos que estão relacionados aos processos do crescimento físico, definidos pelo termo puberdade. Em outras palavras a adolescência começa na biologia e termina na cultura - naquela junção onde o menino e a menina atingiram razoável grau de independência psicológica em relação aos pais" (1991, p.18).

E quando começa a adolescência? Afirmo que a adolescência começa aos 12 anos. Como toda boa regra há exceções. As mulheres geralmente chegam a essa fase antes dos homens. Situações externas podem atrasar ou antecipar essa mudança de fase. O meio pode influenciar na alteração da normalidade dessas transições. Vivemos também um adolescer das crianças, onde a precocidade tem gerado uma entrada prematura nesta fase. A pré-adolescência está cada vez mais adolescente. Contudo, em razão de sua definição foge ao nosso objeto de estudo.

Crianças forçadas a assumir controle da casa ou obrigadas a cooperar na criação de um irmão mais novo, tendem a amadurecer mais cedo e correm o risco de pular de fase. Na verdade salta-se uma fase, mas em algum tempo, lá na frente, isso fará muita falta. Na maior parte dos casos a necessidade financeira gera situação. As condições econômicas nacionais e a sua relação com a globalização geraram um número muito grande de filhos que se tornam pais na prática, pois possuem a responsabilidade de "tomar conta" e assim assumem a criação de fato, não de direito. Entretanto, nem sempre a "culpada" é a economia.

Saltar uma fase sempre resulta em consequências para a vida. Deus é tão maravilhoso que além de nos dar a vida, deu-nos também a bênção de vivenciarmos momentos diferentes em diferentes períodos. Cada fase implica em adquirir forças para vencermos os desafios da seguinte. Saltar uma fase é estar menos preparado para o futuro. Você já percebeu que gente que não teve uma adolescência normal, em algum momento na fase adulta, deixa isso se revelar? As carências são expostas e o cuidado deve ser ainda maior. Fomos criados por Deus dessa forma, para vivermos todas as fases. Os que saltam, sobrevivem, mas parecerá sempre que falta alguma coisa.

Há famílias que agindo sem conhecimento empurram seus filhos para outras fases antes da adolescência. Possuidores de uma situação financeira boa, reconhecidos na sociedade, tendo uma vida bem confortável, eles pareciam uma família saudável. A enfermidade sabe e muito bem se disfarçar na normalidade. A família estava doente e os efeitos eram sentidos no péssimo relacionamento entre os cônjuges que publicamente tentavam ao máximo disfarçar - e na questão da maternidade exercida pela filha mais velha. O pai era provedor. A mãe mostrava-se carinhosa, atenciosa e cuidadosa, mas compartilhava dessa responsabilidade com a filha, que recebeu essa missão e cumpriu o que a mãe queria quando nem ela mesma era capaz. Com o tempo a filha passou a ser a "mãe" dos irmãos e dos próprios pais. Ela ocupou o lugar, passou a desenvolver a função, fazia o que deveria ser feito pela mãe. Com menos de 15 anos assumiu esse papel. Deixou de viver sua adolescência. Pulou essa fase e foi forçada a amadurecer, pois alguém precisava tomar conta de todos - e esse alguém era ela. A crise do relacionamento dos pais resultou num divórcio. Aumentou muito mais o peso sobre ela. Com imenso desprendimento abria mão dos seus projetos para cumprir a sua função. Ela deu equilíbrio à família, mas não tinha onde apoiar-se. A sua intimidade com Deus foi fundamental para achar-se e buscar força, mas havia nela uma enorme carência de família que na sua própria, e nem com ajuda dela, ela conseguiu encontrar.

O período da adolescência pode ser dividido em quatro fases:

Pré-adolescência - 10 aos 11 anos;
Adolescência inicial- 12 aos 15 anos;
Adolescência média - 16 aos 18 anos;
Última adolescência - 18 aos 21 anos.

A partir dos 10 anos as características da adolescência começam a brotar, e algumas dessas são mantidas até os 21 anos e até mais. Não se pode limitar a adolescência por datas, há um movimento e um dinamismo incomparável. Entretanto, para fim de estudo, estipulamos esse período por ser o mais aceitável entre os especialistas. O trabalho com adolescentes deve começar mais cedo e prosseguir até mais tarde. Uma das áreas que nos interessa profundamente é a questão da fé na adolescência. Esse é o nosso próximo tema.

A adolescência, como vimos, é tempo de mudanças, transformações, novas necessidades e anseios. Isso também se aplica à vida espiritual. Muitos ministérios dirigidos para adolescentes e jovens relatam que essa é a fase do maior número de conversões. Eu mesmo fui convertido aos 14 anos. Trabalhando com adolescentes tenho visto muitas conversões, e mudanças genuínas, verdadeiras, que resultam em diferença para o resto da vida dos adolescentes. Conhecendo mais da questão da fé nessa faixa poderemos entender melhor esse aspecto e conseguiremos abordar melhor os adolescentes. Nosso alvo é a conversão de adolescentes e ajudá¬los a terem uma vida devocional saudável, equilibrada e fundamentada nas Sagradas Escrituras.

Afirmamos existir pelo menos quatro (4) fases na adolescência: pré -10 ou 12 anos; inicial-13 aos 15 anos; média-16 aos 18 anos; última-18 aos 21 anos. Observamos que, quanto àfé, não seguimos necessariamente o mesmo modelo. Há uma nova proposta, obedecendo formato de estágios, segundo Fowler (1992, pp. 103-177):

Estágio 1: Fé Intuitivo-projetiva
Estágio 2: Fé Mítico-literal
Estágio 3: Fé Sintético-convencional
Estágio 4: Fé Individual-reflexiva
Estágio 5: Fé Conjuntiva
Estágio 6:Fé Universalizante

Três desses estágios atingem diretamente o período da adolescência:

O estágio 2, Fé Mítico-literal, envolve crianças entre 6 e 11 anos. Nesse estágio, elas precisam da fé de outros para organizar seu mundo. Há uma procura na fé dos pais e líderes. Geralmente rituais, símbolos, músicas são importantes veículos para receber e expressar a fé. O predomínio do valor da música na verdade começa antes do nascimento. Já é provado que quando os pais cantam para seus filhos ainda em gestação, no decorrer de toda a vida existirão lembranças significativas das canções e isso gera segurança, tranqüilidade e carinho.

No estágio 3, Fé Sintético-convencional, há uma dependência da capacidade de pensar abstratamente. Parece ser necessário um envolvimento com outros para ajudarem no suporte da fé. A fé é trabalhada na perspectiva de relacionamentos. Nessa época, entre 12 e 17 anos, pode surgir a nossa imagem de Deus. Considere a importância do líder enquanto formador de opinião. Os relacionamentos fundamentados na Palavra de Deus resultarão em benefícios espirituais profundos. O estilo gregário dos adolescentes mostra-se mais forte e vibrante nesse estágio. Eles já desejam andar juntos, apenas precisamos trabalhar essa vontade criando alternativas inteligentes para formar relacionamentos fortes e espirituais. O Senhor Jesus sempre abordou-nos a partir do diálogo. Na maioria dos casos ele mesmo tomava a iniciativa da conversa e permitia-se se relacionar conosco. Comprova-se a importância de formarmos relacionamentos sólidos com os adolescentes. Na caminhada é que se forma o caráter cristão.

O estágio 4, Fé Individual-reflexiva, geralmente acontece na parte final da adolescência, a partir dos 18 anos. Há nesse estágio um bom questionamento da fé e de sua formação. Essa capacidade de reflexão resulta em posicionamentos firmes e fundamentação da fé. Tenho compartilhado sobre minha visão de Cabeças Pensantes e Corações Quebrantados. A Igreja necessita pensar. Essa é uma característica que Deus deu ao ser humano e somente nós podemos agir assim. Adolescentes que aprendem a refletir dão mostras de uma fé mais consistente e preparada para enfrentar os desafios crescentes, sobretudo na escola e universidade. Quem pensa a sua fé e consegue unir fé e reflexão tem mais chances de vencer os embates propostos pela vida. Não há como, nem se deve, estar o tempo todo com os adolescentes, não se pode acompanhá-Ios para responder por eles ou mesmo impedi-Ios de agir de uma forma que consideramos equivocada. Não se pode prever as situações que eles irão enfrentar. Entretanto, quando se aprende a pensar, muda-se a forma de encarar o todo. Partimos de princípios estabelecidos com base na Palavra de Deus e as decisões são assim tomadas. Quando se aprende a ler a Bíblia, ler mesmo, há toda uma base preparada para trilhar os mais diversos caminhos.

Os estágios da fé sinalizam como podemos trabalhar com adolescentes as questões espirituais. Cada um dos estágios tem suas características especiais. Para falar ao coração dos adolescentes é preciso identificar a fase em que estão, e assim poder cooperar efetivamente com eles.

Conheça os adolescentes. Somente conhecemos alguém se convivemos com ele. Invista tempo e amor nessa relação. Certamente o resultado será muito positivo. Eles estão à procura de modelos. A sua vida poderá ser um referencial para a deles. Veja como você vive, há alguém tendo você como inspiração de vida. Nessa época o mundo inteiro privilegia a imagem, e o testemunho é a imagem da nossa fé. Mostramos em quem cremos e como cremos, da forma como vivemos.

Relacionamentos sólidos e inspirativos podem servir de sinaleiros para que seja achado o caminho. Estabeleça vínculos e permita a aproximação deles. A sua vida pode ser uma grande bênção para que eles conheçam o maravilhoso e singular amor de Pai. O nosso Pai.

Boa parte dos adolescentes se sente marginalizada em suas próprias igrejas pelo simples fato de serem adolescentes. Onde está a essência dos relacionamentos na Igreja? Analise comigo dois textos bíblicos: João 20.19 a 23 e Atos 2.42 a 47. No primeiro encontramos relacionamentos firmados no medo. Os discípulos estão juntos, mas o que os aproxima é o temor de uma perseguição. Eles estão numa casa. As portas estão trancadas. Fechados para o mundo, voltados para si mesmos. Na verdade, cada um voltado para si. O Mestre se foi. Ficaram sozinhos. Apesar de juntos, ninguém faz companhia. Solitários não se acompanham. O medo era a companhia deles. Até que Jesus entra na casa e lhes oferece o que mais precisavam: "Paz seja convosco!"

No texto de Atos 2.42 a 47, os relacionamentos são firmados no Espírito Santo. As conversões alcançam milhares. São muitas e diferentes as pessoas. A perseguição é uma possibilidade muito grande. O perigo de morte é bastante possível, mas não supera a alegria, a paz e a comunhão. Estão juntos, mas sem medo dos judeus. Solitários no passado são companheiros no presente. Tão parceiros que têm tudo em comum. Nada é mais do indivíduo. Tudo é de todos. Todos são iguais.

Assim devem ser os relacionamentos na Igreja de Cristo. Não podem ser sustentados no medo, mas na bênção de sermos irmãos e irmãs em Jesus. Não há espaço para preconceito. Todos fazem parte do grupo. Excluídos são incluídos. No evangelho de Mateus 8. 1 a 15,Jesus exemplifica esse modelo. São três encontros. O primeiro com um leproso, que era marginalizado em razão de enfermidade. Os leprosos não faziam parte da sociedade, ficavam à margem e distantes dos relacionamentos. A Lei proibia tocar em um leproso, sob pena de ser considerado imundo. Assim eram chamados os leprosos, imundos. Jesus toca. O puro mantém-se puro e purifica o outro. Jesus o reintegra à comunidade. Em seguida, acontece o segundo encontro. Dessa vez com um centurião, marginalizado em razão da fé. Esse suplica a Jesus que cure seu criado e demonstra um grau tão profundo de fé que impressiona a Jesus, a ponto desse afirmar: "Em verdade vos afirmo que nem mesmo em Israel achei fé como essa". Jesus traz para perto o gentio. Aquele que sempre ficava de fora, de longe, agora é aproximado, vem para o aconchego do coração do Mestre. A sua fé é operante. O milagre acontece. O Senhor testemunha sobre aquele homem. O terceiro encontro é com uma mulher, a sogra de Pedro. Essa era marginalizada por razões sociais. Deixadas para trás, tratadas como objetos, nem contadas eram, as mulheres sempre participaram do ministério de Cristo. A sogra de Pedro, ardendo em febre, recebe o toque de Jesus. Diz o texto que, após ser curada, ela levantou-se e passou a servir a Jesus. A religião a mantinha longe, não lhe dava a chance de servir em igualdade. Jesus muda essa história, assim como a do centurião e do leproso. Na Igreja não há lugar para deixar fora.

O nosso relacionamento com Deus se reflete de algumas formas práticas: exclui-se a marginalização, excluem-se os privilégios e as barreiras sociais. A proposta de Cristo passa por uma sociedade reconciliada. Paulo afirma em Gálatas 3.28, que: "... nem judeu, nem grego...", "... nem escravo, nem liberto...", "... nem homem, nem mulher...", "... porque todos vós sois Um em Cristo Jesus."

Boa parte dos adolescentes se sente marginalizada em suas próprias igrejas pelo simples de fato de serem adolescentes. Muitos são tratados como barulhentos, agitados e que conversam durante todo o culto. Em alguns casos é verdade. Mas também é verdade que muitos cultos são longos, prolixos e a linguagem de muitos pregadores é distante do que podem compreender.

Jesus sempre soube trazer os mais diferentes para perto dele. Assim devem agir os líderes hoje. Não podemos admitir alguém chamando adolescente de aborrecente. Nada mais aborrecedor que uma palavra dessa. Gente assim tem a capacidade de afastar adolescentes, enquanto o mundo investe mundos e fundos na conquista desse grupo. Igreja é onde há integração. Onde se traz para dentro e se pode juntar. Onde não se deixa de fora, porém traz para perto.

Olhe na sua Igreja onde estão os adolescentes em relação ao campo de atividades e decisões. Observe se estão incluídos ou apenas estão sendo contados. De quais atividades importantes da comunidade eles tomam parte? Vá buscá-Ios e traga-os para dentro. Permita que façam parte dos projetos hoje. Invista neles. Assim sendo, desenvolverão sadios e integrados socialmente e darão muitos frutos para a glória de Deus.

Ensine a Bíblia, acredite que nela está a resposta para as perguntas da adolescência. O que de mais importante devemos ensinar aos adolescentes é a Bíblia. Chamamos nossa escola dominical de bíblica. Há professores que hesitam ao ensinar a Bíblia. Alguns chegam a disfarçar as Sagradas Escrituras. Talvez pensem que o adolescente não quer estudar a Bíblia e assim partem para uma temática mais ampla, algumas vezes distante do ensino bíblico. Dessa forma roubam do adolescente o que de mais precioso eles precisam. O profeta Isaías registra o Senhor dizendo: "... assim será a palavra que sair da minha boca: não voltará para mim vazia, mas fará o que me apraz e prosperará naquilo para que a designei" (Is 55.11). A Palavra do Senhor jamais volta vazia. A nossa volta.

Desenvolva todos seus estudos a partir da Bíblia. Debata sobre os mais diversos temas, mas jamais perca a referência. A Bíblia é a nossa regra de fé e prática, jamais negocie esse princípio. Lembre que o Evangelho é o poder de Deus e, se os adolescentes precisam de impacto, a Palavra é a melhor resposta.

Um dos basilares da Reforma Protestante do século 16 é o "Sola Scriptura". Essa foi uma das conquistas dos reformadores. Voltar à Bíblia, estudá-Ia com seriedade, abre as portas para se descobrir de fato quem é Deus e qual sua vontade para nossa vida.

Cuidado com as pesquisas sobre o que os adolescentes querem estudar. Geralmente o resultado das pesquisas reflete o que eles querem estudar. Priorize o que eles precisam estudar. Acredito ser fundamental ouvi-Ios, receber deles o retorno, mas a escola bíblica é o lugar da cura e nem sempre a gente deseja o remédio. Ensine a Bíblia, acredite que nela está a resposta para as perguntas da adolescência. Parece-me óbvio que para se ensinar a Bíblia é preciso conhecê-Ia e vivê-Ia. Talvez essa seja uma das razões para alguns fugirem dessa responsabilidade. Muitos lançam essa oportunidade aos pastores. Sempre aconselho que, se você não sabe a Palavra, aprenda primeiro e depois ensine. Sente-se nos bancos da escola bíblica antes de assumir.
Rev. Haveraldo Ferreira Vargas Júnior

Secretário Geral do Trabalho da Adolescência (2006-2010)
Igreja Presbiteriana do Brasil

 
Usado com permissão

4 de setembro de 2010

A Primeira Pedra

  Era uma festa religiosa. O povo de Deus espalhado por toda a Judeia saía de suas casas para adorá-lo. A cidade de Jerusalém estava lotada. Não havia hospedagem para todos. E muitos peregrinos armavam suas tendas para poder participar desse momento de encontro com Deus.
   Só que no meio da busca por Deus, ainda há a natureza pecaminosa que insiste em se rebelar contra o Criador. Os dois se olharam. Foram atraídos. Hormônios clamaram. Ficaram cegos pelo desejo. Não atinaram para as consequências. Queriam apenas satisfazer a libido. Entraram na tenda para dar vazão à paixão. Enquanto praticavam o ato, o marido chega e apanha a esposa em flagrante adultério. 

   Ele não hesita. Leva-a para o templo para que o Sinédrio julgasse o caso. O delito foi a quebra do sétimo mandamento: “Não adulterarás” (Ex 20.14). A pena era a morte: “Se um homem adulterar com a mulher do seu próximo, será morto o adúltero e a adúltera” (Lv 20:10). O modo de execução poderia ser o apedrejamento (Dt 22.22-24); no tempo se Jesus havia se tornado a prática.
   Enquanto isso, Jesus ministrava no templo. Os fariseus não sabiam o que fazer para se livrar dele, pois as pessoas queriam ouvi-lo e o consideravam, no mínimo, um profeta. Nesse contexto, a polícia do templo traz a mulher. Deveria ser julgada pelo Sinédrio, mas disseram: “vamos ver como Jesus julgará o caso?”
   A mulher fica de pé no meio da multidão. Jesus estava sentado, escrevendo com o dedo no chão, e lhes disseram: "Na Lei que Deus havia dado por intermédio de Moisés, tais mulheres deveriam ser apedrejadas – e Tu o que dizes?" (Jo 8.4-5).
   Dependendo da resposta, Jesus poderia ser culpado de desobedecer a Lei de Deus ou a lei de Roma, e, assim, ficaria desacreditado perante o povo. Jesus continuou escrevendo com o dedo no chão, sem dar resposta; eles insistem: “Mestre, que devemos fazer com essa mulher?” Qual seria a resposta de Jesus? Ninguém poderia ter dado uma resposta tão sábia e graciosa: “Aquele que dentre vós estiver sem pecado seja o primeiro que lhe atire pedra”. (Jo 8.7).
   Cada um reconhecendo suas próprias faltas e pecados, inclusive os religiosos que eram os acusadores e deveriam ser os juízes da mulher. Do mais velho ao mais novo cada um jogou sua pedra no chão e saiu, ficando a mulher sozinha com Jesus. Somente Ele poderia atirar a pedra, mas não o fez. Sua primeira vinda não foi para condenar, mas para salvar (Jo 3.17).
   O grande fato da realidade humana é que todos nós nascemos em trevas, pecadores por natureza. Jesus foi fantástico na sua resposta, mostrando (1) a depravação dos religiosos com sua hipocrisia e (2) a depravação da mulher que era casada e traía o marido (ou noivo).
   O pastor puritano Matthew Henry aplica a resposta de Jesus de forma magistral: “a) Quando encontrarmos faltas em outros, devemos refletir sobre nós mesmos, e sermos mais severo contra o pecado em nós do que nos outros; b) Devemos ser favoráveis, não ao pecado, mas às pessoas, e tentar restabelecê-las com espírito de mansidão e entendermos a nossa própria natureza corrupta. Nós somos, ou já fomos, ou podemos ser o que ele é; c) Ao contemplar o pecado dos outros devemos olhar para nós mesmos e conservar-nos puros.”
   Cuidemos para que não sejamos como aqueles acusadores, com pedras nas mãos, prontos para julgar e condenar. Pois devemos entender que somos como a mulher adúltera, um(a) pecador(a). Diante de Jesus, à luz da sua Divindade e glória, somos todos carentes da sua graça e misericórdia.
   No entanto, Jesus de forma alguma é conivente ou apoia o pecado. Mas, como Deus, age com misericórdia com aqueles que se arrependem (Pv 28.13). Por isso, finaliza com a seguinte palavra de exortação à mulher: “vá e não peques mais”. Deus perdoa aqueles que se arrependem, mas deseja que não se cometa mais o erro. Enquanto tivermos vida nesse mundo, e nos arrependermos dos nossos pecados, Deus nos dará uma segunda chance. “A misericórdia triunfa sobre o juízo” (Tg 2.13b)
Pr. Robson Santana