28 de fevereiro de 2012

A Mesa do Senhor é Santa

      “Estou sem tempo”. “Trabalho pelo dia e não dar para ir aos cultos da semana”. “Estou decepcionado com as pessoas da igreja, melhor ficar em casa”. “Minha casa fica longe; logo... não dá para ir à noite aos cultos”. “Esse culto de oração é muito chato, não gosto, por isso não vou”. “Participar de algum trabalho da igreja não vai dar, não tenho talento, nem disposição”. “Não dou mais dízimos e ofertas, acho que está mal administrado”... etc.
      Essas e outras desculpas são apresentadas diariamente pelos chamados cristãos para não ir aos cultos ou não se envolver pessoalmente nos trabalhos da Igreja do Senhor Jesus Cristo. As palavras descritas em Malaquias 1:6-14 são carregadas de queixas do próprio Deus para com aqueles que se dizem seus adoradores.
    Nesse texto o Deus Todo-poderoso diz que é natural os filhos honrarei aos seus pais biológicos, bem como os servos honrarem seus senhores, e por isso pergunta: “se eu sou Pai e Senhor onde está a honra e respeito para Comigo?” (v.6).
    Na Antiga Aliança eram oferecidos animais e pães como oferta de gratidão, perdão dos pecados, e Deus já havia regulado, na Sua Palavra, a qualidade da oferta que Ele receberia. Em outras palavras, Deus não recebe qualquer coisa. Seus servos sabem que Deus quer o melhor, o perfeito, a excelência. Mas quantos de nós oferecemos o resto, a sobra e mesmo assim de má vontade e com displicência e desleixo (cp. v.13).
      No trabalho damos o melhor de nós. Pois assim poderemos fazer carreira e ganhar mais para se ter uma vida melhor. Mas a obra de Deus, quando feita, é realizada de forma relaxada. E ao assim fazermos, estamos dizendo: “a mesa do Senhor é desprezível” (v.7).
    Nos estudos nos esforçamos para fazer cursos, cursinhos, treinamentos, atualizações. Colocam-se os filhos nas melhores escolas. Investe-se tempo e dinheiro nessas coisas. Não que não seja necessário. É claro que é. Mas não se investe na leitura diária da Bíblia. Não sobra tempo para a intimidade com Deus. Não se investe na compra de livros cristãos que edifiquem a vida espiritual, o casamento, a criação dos filhos. Investimos maçiçamente na carreira profissional e mirradamente na carreira cristã. E assim dizemos (sem palavras): “a mesa do Senhor é imunda” (v.12).
    Há crentes que estão satisfeitos com as ofertas “imundas” apresentadas no altar de Deus e talvez Ele já esteja dizendo: “não tenho prazer em vocês”, “nem aceito esse tipo de oferta” (v.10). Apresente o fruto dessa desmotivação e descaso ao seu chefe ou ao seu professor (cp. v.9).
Cuidado! “Pois maldito seja o enganador” (v.14), que tendo o melhor para ofertar a Deus, dá o que Ele abomina: a não primazia, ou seja, o segundo, terceiro, quarto .... lugar. Pois  muitas das desculpas para não estar em comunhão nos cultos no templo, nem se envolver ativamente no Reino de Deus, refletem a nossa ansiedade pelas coisas desta vida. E Jesus nos ordena veementemente: “Buscai, pois, em primeiro lugar, o seu reino e a sua justiça” (Mt 6.33).
    A mesa do Senhor é santa!
Robson Rosa Santana

10 de fevereiro de 2012

Vida Cristã Estagnada

Tim Challies

O livro de R. C. Sproul Boa Pergunta tem sido o meu favorito. Quando eu tenho uma questão importante sobre a vida cristã, é frequentemente o livro que eu procuro primeiro. Aqui está a sua resposta a esta pergunta: Como posso evitar que o meu crescimento pessoal cristão se torne estagnado?
apenas uma maneira absoluta que eu conheço para evitar que seu crescimento cristão torne-se estagnado, e que é morrer. A única vez que o crescimento cristão pára completamente é na morte. Isso é porque nós não precisamos crescer mais; estamos destinado para o estado de glorificação. Se uma pessoa está em Cristo e Cristo está nessa pessoa, é impossível para o cristão não se mover, crescer. Pode parecer às vezes como se o nosso crescimento cristão foi totalmente barrado e está em um estado estagnado, mas eu acho que isso é apenas uma aparência exterior.
Obviamente o nosso crescimento cristão pode se mover em várias velocidades, e tende a ter uma espécie de fluxo e refluxo. Às vezes estamos avançando aos trancos e barrancos e outras vezes em ritmo de caracol. Quando está se movendo de uma forma tão laboriosamente lenta, podemos pensar que se tornou totalmente estagnado. Novamente, se não há nenhuma evidência de crescimento que seja, então eu diria que é tempo de examinar nossas almas e nossos corações para ver se estamos em Cristo totalmente, porque onde o Espírito de Cristo habita em uma pessoa, Ele não permitirá a estagnação total.
Se quisermos aumentar o ritmo de crescimento cristão, acho que existem algumas chaves práticas importantes que precisamos ligar. O crescimento cristão, biblicamente, é geralmente descrito em termos de discipulado. Ser um discípulo de Jesus significa ser um aluno na escola de Cristo. Isso não significa simplesmente um amontoado de dados intelectuais ou conhecimento na cabeça, por assim dizer, mas chegar a um entendimento do que é que agrada a Deus e o que é que agrada a Cristo. Significa aprender a imitá-lo em nossas maneiras diferentes de andar diante dele.
A palavra discipulado é muito próxima da palavra disciplina em português. Crescer requer a realização de disciplina espiritual. Como você consegue isso? Quando estamos tentando progredir em alguma área, muitas vezes isso envolve disciplina – se é o domínio da técnica do piano, esforço atlético ou aprendizagem numa escola ou faculdade pública.  Temos de aprender que disciplina não acontece de forma mágica. O melhor caminho que eu conheço para tornar-se disciplinado é primeiro pelos padrões de aprendizagem da disciplina sob a tutela de outra pessoa. Se você está tendo dificuldade para crescer, faça parte o mais rápido que puder de um grupo de crescimento cristão onde você estará sob a disciplina de um pastor ou líder espiritual, onde como parte de uma equipe, você estará aprendendo as habilidades do crescimento pessoal em conjunto.

Tradução Robson Rosa Santana, do original em inglês The Stagnant Christian Life. Disponível em: http://www.challies.com/quotes/the-stagnant-christian-life. Acesso em 05 de fev. 2012.
Challies é autor do livro Desintoxicação Sexual, Edicões Vida Nova. Uma versão traduzida e autorizada desse livro você pode encontrar clicando aqui.


5 de fevereiro de 2012

VERDADE ABSOLUTA: libertando o cristianismo de seu cativeiro cultural: um resumo

PEARCEY, Nancy. Verdade Absoluta: libertando o cristianismo de seu cativeiro cultural. 1a Ed. Trad.Luis Aron. Rio de Janeiro: Casa Publicadora das Assembleias de Deus, 2006. Original em inglês: Total Truth: Liberating Christianity from Its Cultural Captivity (2004).
 
O livro de Nancy Pearcey trata de como a cosmovisão do ponto de vista cristão bíblico deve moldar não somente a nossa espiritualidade pessoal, mas os aspectos coletivos do mundo que nos cerca. Segundo ela, ainda na parte introdutória, “O propósito dos estudos de cosmovisão não é nada menos que libertar o cristianismo de seu cativeiro cultural, desatrelando seu poder para trans­formar o mundo”.
Para sair desse cativeiro cultural gerado em parte pelo isolacionismo dos evangélicos da esfera pública, muitos, em tempos recentes, buscaram o envolvimento com a política, pensando que somente isso é o suficiente, talvez esquecendo que os cargos públicos refletem mais o geral da sociedade do que o contrário, ou seja, continua sendo difícil uma mentalidade cristã diminuta influenciar a maioria secularista, incluindo muitos que são cristãos. A estratégia mais condizente com a Palavra seria gerar uma cosmovisão cristã na cultura, por meio de sua influência na família, no trabalho, nas instituições, nos bairros.
Ela propõe que o cristianismo é a verdade sobre a realidade total, ou seja, é uma cosmovisão que envolve tudo, não somente uma verdade particular, mas a “verdade pública.”
O livro aborda o tema cosmovisão focando em quatro partes, sendo que a parte final é uma aplicação prática extremamente relevante de como a cosmovisão bíblico-cristã se tornará efetiva no mundo moderno.
Na parte 1, “O que há numa cosmovisão?”, os quatro primeiros capítulos, Pearcey considera a dicotomia da verdade acerca de tudo em sagrado/secular. Faz um panorama histórico da influência filosófica no pensamento cristão que perpetua a divisão sagrado/secular. Ela começa com a influência de Platão no cristianismo antigo e medieval. A influência de Aristóteles no final da Idade Média através da catálise de Tomás de Aquino, por meio da graça/natureza. Na época da Reforma, os principais reformadores tentaram derrubar a barreira do sagrado/secular, porém no período pós-reformadores o dualismo continuou. Então surgem outros pensadores/filósofos que influenciaram na perpetuação da dicotomia sagrado/secular, tais como Descartes, Kant, dentre outros. Sendo que no período Iluminista, o sagrado/graça/religioso estava sendo engolido gradualmente pelo secular/natureza/ “ciência”.
É ainda nessa parte que a autora propõe a perspectiva bíblica para encontrar as respostas que geram uma cosmovisão cristã abrangente da realidade total. Segundo ela, seguindo a tradição do Mitte alemão, as respostas estão na estrutura tríade da Bíblia: Criação, Queda e Redenção. Para ela, essa estrutura responde satisfatoriamente às grandes questões filosóficas de todas as cosmovisões. Sendo que as não-cristãs, em um ponto ou outro entra em contradição com seus próprios pressupostos. Ao receber de Deus o relato da Criação, pode-se responder às questões: Como tudo começou? De onde viemos? Quanto à Queda: “o que Deus errado? Qual é a fonte do mal e sofrimento?”. E por fim a Redenção, por meio de Cristo, responde como consertar o que deu errado.
Na parte 2, “Começando do Começo”, capítulos 5 a 8, a atenção volta-se para a Criação, porque a maior parte dos “problemas” que enfrentamos hoje jaz no domínio da visão evolutiva de Darwin sobre as origens de tudo. A teoria evolutiva é a base e fundamento para todos outros desdobramentos filosófico-teóricos das ciências modernas. E assim continua a dicotomia de fato/valor. A ciência é fato e a fé, valor, e que uma não interfira na esfera da outra. Sendo que o domínio da fé é particular e pessoal e o da ciência é público. É a teoria da evolução, que embora não comprova como de fato aconteceu, que se desdobrou para o naturalismo filosófico e metodológico nas áreas do conhecimento.
É ainda nessa parte que Pearcey mostra que as recentes descobertas científicas apontam para um Designer inteligente (Deus), pondo em descrédito as teorias naturalistas da evolução. São três essas áreas: 1) o mundo da célula (bioquí­mica), 2) a origem do universo (cosmologia) e 3) a estrutura do DNA (informação biológica). É justamente por meio de uma filosofia cristã e das novas descobertas científicas que evidenciam o desígnio inteligente que os cristãos podem verdadeiramente desestruturar e redirecionar as influências do naturalismo filosófico em todas as áreas da sociedade americana, tais como a própria teologia, as leis, a educação e a filosofia. Exemplos práticos são a legalização do aborto e o declínio da educação pública.
A parte 3, “Como perdemos a mente cristã?”, abrange os capítulos 9 ao 12. Nessa parte a autora de forma magistral faz um apanhado histórico do evangelicalismo americano desde o primeiro reavivamento do Século XVIII até hoje. Os capítulos 9 e 10 mostram como a corrente populista dominante do cristianismo americano se desenvolveu, com sua ênfase na conversão emocional, no modelo de lideranças parecidas com as celebridades/estrelas de hoje, desconfiança do conhecimento mais elaborado filosoficamente e compreensão de uma igreja individualista. No capítulo 10, ela mostra o outro lado da liderança cristã de um ponto de vista mais intelectual/erudito que influenciaram a história do pensamento americano. E no capítulo 12 é traçado um panorama de como esse evangelicalismo moldou a vida social e econômica americana. Depois de toda essa retrospectiva histórica ela chega à conclusão que o evangelicalismo continuou a estrutura dos dois pavimentos. Mantendo assim a dicotomia sagrado/secular, fato/valor, público/particular.
Na quarta e última parte, “E agora? Vivendo Intensamente”, contém apenas o capítulo conclusivo “A verdadeira espiritualidade e a cosmovisão cristã”. Nele Nancy Pearcey nos mostra que o desenvolvimento de uma mente verdadeiramente cristã não fica somente no campo intelectual ou apologético, mas deve ser aplicado na vida prática e pessoal. Mentes transformadas estão debaixo do senhorio de Cristo. Jesus deve ser o paradigma para todos os aspectos da existência. Para ela, muitas vezes os cristãos precisam passar crises, decepções e sofrimentos para que de fato suas vidas sejam quebrantadas e reconheçam que Jesus é tudo para eles. Que sem Ele nada podem fazer (João 15).
Lembra-nos também que um testemunho eficaz da verdadeira fé cristã deve ser autenticado pelas implicações de se submeter a todo o evangelho nas diversas facetas da vida, seja pessoal, familiar, profissional e ministerial cristão. Mais uma vez mostra que não deve haver a dicotomia sagrado/secular nessas áreas, ou seja, as Escrituras têm estrutura e direção para o relacionamento pessoal com Deus; no ambiente da relação conjugal e filial; no âmbito profissional é incoerente aplicar todas as normas seculares de administração sem perceber que muitas delas desprezam a verdade bíblica. E por fim ela faz uma crítica mordaz aos ministérios cristãos que usam dos métodos seculares empresariais, envolvendo-se até em questões de mentira e engano simplesmente para angariar fundos e assim fazer crescer o “ministério”. Segundo ela, isso é fazer a obra de Deus sem Deus ou sem sua aprovação. Mais uma vez as incoerências permanecem e esmaece o testemunho do evangelho.
O livro contém ainda 4 apêndices. No primeiro ela incrementa “Como a Política Americana se Secularizou”, enfatizando que a teoria do contrato social de Rousseau contribuiu de forma grandiosa para tal. Lembrando também que as sementes da não ingerência da religião na política têm seu cerne nas guerras religiosas entre católicos e protestantes, e que assim alguns pensadores propuseram um divórcio entre Estado e igreja, já que a igreja não se entendia.
No segundo apêndice, traça uma relação entre o islamismo moderno e a movimento da Nova era, mostrando que as perspectivas panteístas desta última, jaz em sua essência no próprio Islamismo, que por sua vez foi influenciado pelo neoplatonismo plotiniano, que é panteísta. Em certo ponto ela exclama: “pode ser surpreendente saber que o Deus do islamismo é mais pare­cido com o Absoluto não-pessoal do neoplatonismo e hinduísmo do que com o Deus da Bíblia”. Com isso ela quer nos prover para um evangelismo mais fundamentado dessas duas religiões.
No Apêndice 3, “A Longa Guerra entre o Materialismo e o Cristianismo”, ela traça novamente um pano de fundo filosófico da antiguidade clássica que também já propunha um materialismo pragmático (Epicuro), com o materialismo moderno com fulcro no naturalismo filosófico darwinista que domina praticamente todos os campos do conhecimento Ocidental e que se coloca em oposição a Verdade Total das Escrituras.
No último apêndice, novamente fala da sua experiência de conversão aos pés de Francis Schaeffer, num abrigo (L’Abri) na Suiça. O método de Schaeffer a convenceu que a fé cristã era a verdade absoluta. O método dele era um híbrido de realismo do bom senso com o neocalvinismo holandês. Segundo ela, “Schaeffer argumentava que uma das maneiras de testar as declarações de verdade é confrontá-las com o padrão do que já sabemos por experiência direta, ou como ele diria, pela experiência humana universal (o realismo do bom senso). Então, ele se empenharia em mostrar que só o cristianismo nos oferece um relato teó­rico do que sabemos por experiência pré-teórica (o neocalvinismo holan­dês)”. Para ela o propósito de uma cosmovisão é dar explicações sobre o mundo e somente o cristianismo pode fazê-lo. Todas as outras cosmovisões apresentam lacunas ou questões sem respostas ou respostas incoerentes no arcabouço da sua cosmovisão não-cristã. O final desse apêndice é também a tese principal do livro: “Quando testamos o cristianismo, descobrimos que só ele explica e dá sentido às experiências humanas mais básicas e universais. Esta é a confiança que nos sustenta quando colocamos nossa perspectiva de fé no cenário público, quer no evangelismo pessoal quer em nosso trabalho profissional”.
Robson Rosa Santana

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