5 de fevereiro de 2012

VERDADE ABSOLUTA: libertando o cristianismo de seu cativeiro cultural: um resumo

PEARCEY, Nancy. Verdade Absoluta: libertando o cristianismo de seu cativeiro cultural. 1a Ed. Trad.Luis Aron. Rio de Janeiro: Casa Publicadora das Assembleias de Deus, 2006. Original em inglês: Total Truth: Liberating Christianity from Its Cultural Captivity (2004).
 
O livro de Nancy Pearcey trata de como a cosmovisão do ponto de vista cristão bíblico deve moldar não somente a nossa espiritualidade pessoal, mas os aspectos coletivos do mundo que nos cerca. Segundo ela, ainda na parte introdutória, “O propósito dos estudos de cosmovisão não é nada menos que libertar o cristianismo de seu cativeiro cultural, desatrelando seu poder para trans­formar o mundo”.
Para sair desse cativeiro cultural gerado em parte pelo isolacionismo dos evangélicos da esfera pública, muitos, em tempos recentes, buscaram o envolvimento com a política, pensando que somente isso é o suficiente, talvez esquecendo que os cargos públicos refletem mais o geral da sociedade do que o contrário, ou seja, continua sendo difícil uma mentalidade cristã diminuta influenciar a maioria secularista, incluindo muitos que são cristãos. A estratégia mais condizente com a Palavra seria gerar uma cosmovisão cristã na cultura, por meio de sua influência na família, no trabalho, nas instituições, nos bairros.
Ela propõe que o cristianismo é a verdade sobre a realidade total, ou seja, é uma cosmovisão que envolve tudo, não somente uma verdade particular, mas a “verdade pública.”
O livro aborda o tema cosmovisão focando em quatro partes, sendo que a parte final é uma aplicação prática extremamente relevante de como a cosmovisão bíblico-cristã se tornará efetiva no mundo moderno.
Na parte 1, “O que há numa cosmovisão?”, os quatro primeiros capítulos, Pearcey considera a dicotomia da verdade acerca de tudo em sagrado/secular. Faz um panorama histórico da influência filosófica no pensamento cristão que perpetua a divisão sagrado/secular. Ela começa com a influência de Platão no cristianismo antigo e medieval. A influência de Aristóteles no final da Idade Média através da catálise de Tomás de Aquino, por meio da graça/natureza. Na época da Reforma, os principais reformadores tentaram derrubar a barreira do sagrado/secular, porém no período pós-reformadores o dualismo continuou. Então surgem outros pensadores/filósofos que influenciaram na perpetuação da dicotomia sagrado/secular, tais como Descartes, Kant, dentre outros. Sendo que no período Iluminista, o sagrado/graça/religioso estava sendo engolido gradualmente pelo secular/natureza/ “ciência”.
É ainda nessa parte que a autora propõe a perspectiva bíblica para encontrar as respostas que geram uma cosmovisão cristã abrangente da realidade total. Segundo ela, seguindo a tradição do Mitte alemão, as respostas estão na estrutura tríade da Bíblia: Criação, Queda e Redenção. Para ela, essa estrutura responde satisfatoriamente às grandes questões filosóficas de todas as cosmovisões. Sendo que as não-cristãs, em um ponto ou outro entra em contradição com seus próprios pressupostos. Ao receber de Deus o relato da Criação, pode-se responder às questões: Como tudo começou? De onde viemos? Quanto à Queda: “o que Deus errado? Qual é a fonte do mal e sofrimento?”. E por fim a Redenção, por meio de Cristo, responde como consertar o que deu errado.
Na parte 2, “Começando do Começo”, capítulos 5 a 8, a atenção volta-se para a Criação, porque a maior parte dos “problemas” que enfrentamos hoje jaz no domínio da visão evolutiva de Darwin sobre as origens de tudo. A teoria evolutiva é a base e fundamento para todos outros desdobramentos filosófico-teóricos das ciências modernas. E assim continua a dicotomia de fato/valor. A ciência é fato e a fé, valor, e que uma não interfira na esfera da outra. Sendo que o domínio da fé é particular e pessoal e o da ciência é público. É a teoria da evolução, que embora não comprova como de fato aconteceu, que se desdobrou para o naturalismo filosófico e metodológico nas áreas do conhecimento.
É ainda nessa parte que Pearcey mostra que as recentes descobertas científicas apontam para um Designer inteligente (Deus), pondo em descrédito as teorias naturalistas da evolução. São três essas áreas: 1) o mundo da célula (bioquí­mica), 2) a origem do universo (cosmologia) e 3) a estrutura do DNA (informação biológica). É justamente por meio de uma filosofia cristã e das novas descobertas científicas que evidenciam o desígnio inteligente que os cristãos podem verdadeiramente desestruturar e redirecionar as influências do naturalismo filosófico em todas as áreas da sociedade americana, tais como a própria teologia, as leis, a educação e a filosofia. Exemplos práticos são a legalização do aborto e o declínio da educação pública.
A parte 3, “Como perdemos a mente cristã?”, abrange os capítulos 9 ao 12. Nessa parte a autora de forma magistral faz um apanhado histórico do evangelicalismo americano desde o primeiro reavivamento do Século XVIII até hoje. Os capítulos 9 e 10 mostram como a corrente populista dominante do cristianismo americano se desenvolveu, com sua ênfase na conversão emocional, no modelo de lideranças parecidas com as celebridades/estrelas de hoje, desconfiança do conhecimento mais elaborado filosoficamente e compreensão de uma igreja individualista. No capítulo 10, ela mostra o outro lado da liderança cristã de um ponto de vista mais intelectual/erudito que influenciaram a história do pensamento americano. E no capítulo 12 é traçado um panorama de como esse evangelicalismo moldou a vida social e econômica americana. Depois de toda essa retrospectiva histórica ela chega à conclusão que o evangelicalismo continuou a estrutura dos dois pavimentos. Mantendo assim a dicotomia sagrado/secular, fato/valor, público/particular.
Na quarta e última parte, “E agora? Vivendo Intensamente”, contém apenas o capítulo conclusivo “A verdadeira espiritualidade e a cosmovisão cristã”. Nele Nancy Pearcey nos mostra que o desenvolvimento de uma mente verdadeiramente cristã não fica somente no campo intelectual ou apologético, mas deve ser aplicado na vida prática e pessoal. Mentes transformadas estão debaixo do senhorio de Cristo. Jesus deve ser o paradigma para todos os aspectos da existência. Para ela, muitas vezes os cristãos precisam passar crises, decepções e sofrimentos para que de fato suas vidas sejam quebrantadas e reconheçam que Jesus é tudo para eles. Que sem Ele nada podem fazer (João 15).
Lembra-nos também que um testemunho eficaz da verdadeira fé cristã deve ser autenticado pelas implicações de se submeter a todo o evangelho nas diversas facetas da vida, seja pessoal, familiar, profissional e ministerial cristão. Mais uma vez mostra que não deve haver a dicotomia sagrado/secular nessas áreas, ou seja, as Escrituras têm estrutura e direção para o relacionamento pessoal com Deus; no ambiente da relação conjugal e filial; no âmbito profissional é incoerente aplicar todas as normas seculares de administração sem perceber que muitas delas desprezam a verdade bíblica. E por fim ela faz uma crítica mordaz aos ministérios cristãos que usam dos métodos seculares empresariais, envolvendo-se até em questões de mentira e engano simplesmente para angariar fundos e assim fazer crescer o “ministério”. Segundo ela, isso é fazer a obra de Deus sem Deus ou sem sua aprovação. Mais uma vez as incoerências permanecem e esmaece o testemunho do evangelho.
O livro contém ainda 4 apêndices. No primeiro ela incrementa “Como a Política Americana se Secularizou”, enfatizando que a teoria do contrato social de Rousseau contribuiu de forma grandiosa para tal. Lembrando também que as sementes da não ingerência da religião na política têm seu cerne nas guerras religiosas entre católicos e protestantes, e que assim alguns pensadores propuseram um divórcio entre Estado e igreja, já que a igreja não se entendia.
No segundo apêndice, traça uma relação entre o islamismo moderno e a movimento da Nova era, mostrando que as perspectivas panteístas desta última, jaz em sua essência no próprio Islamismo, que por sua vez foi influenciado pelo neoplatonismo plotiniano, que é panteísta. Em certo ponto ela exclama: “pode ser surpreendente saber que o Deus do islamismo é mais pare­cido com o Absoluto não-pessoal do neoplatonismo e hinduísmo do que com o Deus da Bíblia”. Com isso ela quer nos prover para um evangelismo mais fundamentado dessas duas religiões.
No Apêndice 3, “A Longa Guerra entre o Materialismo e o Cristianismo”, ela traça novamente um pano de fundo filosófico da antiguidade clássica que também já propunha um materialismo pragmático (Epicuro), com o materialismo moderno com fulcro no naturalismo filosófico darwinista que domina praticamente todos os campos do conhecimento Ocidental e que se coloca em oposição a Verdade Total das Escrituras.
No último apêndice, novamente fala da sua experiência de conversão aos pés de Francis Schaeffer, num abrigo (L’Abri) na Suiça. O método de Schaeffer a convenceu que a fé cristã era a verdade absoluta. O método dele era um híbrido de realismo do bom senso com o neocalvinismo holandês. Segundo ela, “Schaeffer argumentava que uma das maneiras de testar as declarações de verdade é confrontá-las com o padrão do que já sabemos por experiência direta, ou como ele diria, pela experiência humana universal (o realismo do bom senso). Então, ele se empenharia em mostrar que só o cristianismo nos oferece um relato teó­rico do que sabemos por experiência pré-teórica (o neocalvinismo holan­dês)”. Para ela o propósito de uma cosmovisão é dar explicações sobre o mundo e somente o cristianismo pode fazê-lo. Todas as outras cosmovisões apresentam lacunas ou questões sem respostas ou respostas incoerentes no arcabouço da sua cosmovisão não-cristã. O final desse apêndice é também a tese principal do livro: “Quando testamos o cristianismo, descobrimos que só ele explica e dá sentido às experiências humanas mais básicas e universais. Esta é a confiança que nos sustenta quando colocamos nossa perspectiva de fé no cenário público, quer no evangelismo pessoal quer em nosso trabalho profissional”.
Robson Rosa Santana

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