31 de maio de 2014

“O Reino dos céus é tomado por esforço”


Há muitos textos que são fáceis de compreender. Há outros em que sua interpretação é mais difícil. E há outros textos que não compreenderemos plenamente aqui, pois o próprio Deus resolveu não deixar mais claro para nós. Talvez na eternidade Deus queira revelar para nós. Talvez não.
Um desses textos difíceis de compreender são as palavras de Jesus em Mateus 11.12, quando Ele diz que o “reino dos céus é tomado por esforço, e os que se esforçam se apoderam dele” (Almeida Atualizada). O contexto dessas palavras de Jesus é o testemunho que Ele dá a respeito de João Batista. Primeiro, Jesus fala que João não era alguém que pertencia aos grupos privilegiados da sociedade, que vestiam roupas finas e morava em palácios. Pelo contrário, “as vestes de João eram feitas de pelos de camelo; ele trazia um cinto de couro e se alimentava de gafanhotos e mel silvestre” (Mc 1.6). Em segundo lugar, Jesus deixa claro que João era um profeta. Na verdade, o maior dos profetas do Antigo Testamento, pois ele foi o mensageiro profetizado por Malaquias (Ml 3.1), que preparou o coração do povo judeu para a chegada do Messias prometido: Jesus. Como Jesus mesmo disse, “os profetas e a lei profetizaram até João” (Mt 11.13). João viu o Cristo Jesus, mas morreu antes de ver a obra completa da cruz e ressurreição. E em ultimo lugar, nesse testemunho sobre João (Mt 11.7-19), Jesus afirma que ele era o Elias profetizado em Malaquias 4.5. Não no sentido da reencarnação, mas significando “no espírito e poder de Elias” (Lc 1.17), ou seja, esses dois profetas foram os mais semelhantes na Bíblia.
Expostos estes fatos, qual o sentido de “reino dos céus é tomado por esforço, e os que se esforçam se apoderam dele”. A expressão “tomado por esforço” é a tradução do verbo grego biazetai, que está na 3ª pessoa do singular do presente do indicativo na voz média ou passiva. Se ele estiver na passiva, significa que o reino de Deus é forçado, querendo dizer que homens violentos o tomam pela força. Se estiver na voz média, pode-se traduzir por “força seu caminho” como um vento impetuoso. Robertson, na obra Words Pictures, conclui a análise desse verso dizendo que “estas difíceis palavras de Jesus significam que a pregação de João levou uma multidão violenta e impetuosa a reunir-se em torno de Jesus e seus discípulos”.
Diante do exposto e das palavras de Jesus que aqueles se “esforçam se apoderam dele”, entendo que tomar posse do reino exige esforço. Parece estranho para nós essa frase porque temos uma compreensão da salvação pela graça como se isso não exigisse esforço e abnegação para sermos santos e vencermos as tentações e provações aqui neste mundo. Palavras semelhantes de Jesus foram registradas por Lucas: “A lei e o profetas vigoraram até João; desde esse tempo, vem sendo pregado o reino de Deus, e todo homem se esforça por entrar nele” (Lc 16.16).

Na sua série de estudos bíblicos, John MacArthur Jr. (Mateus: a vinda do Rei, Editora Cultura Cristã, p.44) explica que a expressão “o reino dos céus é tomado por esforço” é mais bem traduzida como “o reino move-se para adiante e incansavelmente, e apenas os incansáveis forçam o seu caminho para ele”. Matthew Henry comenta de forma mais prática e devocional sobre essa verdade. Ele diz que isso “mostra o fervor e o zelo que são exigidos de todos aqueles que desejam fazer do céu a sua religião. Observe que os que desejam entrar no Reino dos céus devem se esforçar para consegui-lo; este reino é vítima de uma violência sagrada; o próprio ser deve ser negado, as tendências e a inclinação, a estrutura e o estado de espírito da mente devem ser alterados; há sofrimentos que devem ser suportados, uma força deve ser colocada sobre a natureza corrupta; devemos correr, lutar, combater, e sofrer agonias, e tudo isso não será suficiente para obter um prêmio como este e para vencer a oposição de fora e de dentro. ‘Os que se esforçam se apoderam dele’. Aqueles que têm interesse pela grande salvação são levados na direção dela com um desejo forte, e a terão mediante quaisquer condições, e não as acharão difíceis nem se deixarão levar sem uma benção (Gn 32.26). Aqueles que quiserem assegurar o seu chamado e eleição deverão se diligentes. O Reino dos céus nunca teve a intenção de tolerar a tranquilidade dos levianos, mas de ser o descanso daqueles que trabalham. É uma visão abençoada. Oh! Se pudéssemos enxergar mais, não uma disputa irada lançando os outros para fora do Reino dos céus, mas uma disputa sagrada, na qual todos são lançados para dentro dele!” (Mateus, CPAD, v.1, p.138).
Você está se esforçando para tomar posse do Reino?

Pr. Robson Rosa Santana