29 de março de 2023

O Príncipe, de Maquiavel: uma resenha

MAQUIAVEL, Nicolau. O Príncipe: comentado por Napoleão Bonaparte. Trad. Pietro Nassetti. 7ª reimpressão. São Paulo: Martin Claret, 2010. Original em Italiano: Il Principe (1513-1516).

Niccolò Machiavelli, mais conhecido como Maquiavel, nasceu em Florença, Itália, em 1469. Ele viveu em uma época de mudanças políticas e culturais significativas, marcada por conflitos entre cidades-estado italianas e invasões estrangeiras. Maquiavel passou a maior parte de sua vida como funcionário público em Florença, onde desempenhou vários cargos, incluindo secretário da Segunda Chancelaria, uma posição importante no governo florentino. Maquiavel morreu em 1527, após uma longa doença, deixando para trás uma obra que influenciaria a história do pensamento político até hoje.

Maquiavel é frequentemente retratado como um defensor da amoralidade política, da tirania e da crueldade, mas sua obra é muito mais complexa do que essa imagem simplista sugere, por isso tem sido objeto de inúmeras interpretações e controvérsias, sendo considerada por alguns como uma apologia da tirania e da amoralidade, e por outros como um tratado realista sobre a natureza do poder político.

"O Príncipe" é a obra mais famosa de Maquiavel e considerada uma das obras mais importantes da literatura política ocidental. Foi escrita em 1513, mas publicada pela primeira vez em 1532, cinco após sua morte. Essa obra que se tornou famosa por suas ideias controversas sobre a natureza do poder e da política. O livro não foi escrito para um público geral. Foi dedicado a Lourenço de Médici, membro da família que havia retomado o controle de Florença e que Maquiavel esperava impressionar com suas ideias políticas. O livro é escrito em forma de conselhos para um príncipe fictício, oferecendo orientação sobre como adquirir e manter o poder.

Maquiavel escreveu o livro como um guia para o príncipe ideal, que deveria ter habilidades e características específicas para governar com eficácia e manter seu poder. Maquiavel acredita que a política não pode ser guiada pela moralidade ou pela religião, mas sim pelo realismo e pela prática. Nele Maquiavel argumenta que, em alguns casos, a ética não é suficiente para manter o poder e a estabilidade política. Ele sugere que os líderes devem estar dispostos a fazer o que for necessário para manter o controle, incluindo a manipulação das massas e o uso da violência. Ou seja, os líderes devem ser pragmáticos e adaptáveis às mudanças políticas e sociais.

Ele defende que os governantes devem ser astutos e saber quando agir de forma assertiva e quando adotar uma abordagem mais cautelosa. Segundo Maquiavel, o líder deve ser temido e amado, mas nunca odiado, e deve ser capaz de manter o controle sobre seus subordinados. Para ele, o fim justifica os meios, e o príncipe deve usar todas as ferramentas disponíveis para garantir a estabilidade e a segurança do Estado.

Outro aspecto importante de "O Príncipe" é a distinção entre virtù e fortuna. Virtù é a habilidade, a inteligência e a astúcia do príncipe, enquanto fortuna é a sorte, o acaso ou as circunstâncias inesperadas. Maquiavel acredita que o príncipe deve ser capaz de usar sua virtù para lidar com as mudanças da fortuna e garantir seu poder, ou seja, a capacidade do governante de tomar decisões corajosas e eficazes, bem como a necessidade de manter o favor do povo e da nobreza. Nessa obra, ele também afirma que é melhor ser temido do que amado, porque o medo é mais confiável do que o amor, e o príncipe que é temido não precisa se preocupar com a traição ou a desobediência.

Em suma, “O Príncipe” é uma obra que visa fornecer orientações práticas para os governantes da época, apresentando uma abordagem realista e pragmática da política e do poder. A obra é controversa e tem sido interpretada de várias maneiras ao longo dos anos, mas ainda é considerada uma das obras mais influentes na história da filosofia política.

Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo: um pouco da filosofia do filme


TUDO em todo o lugar ao mesmo tempo. Direção e roteiro: Daniel Scheinert e Daniel Kwan. Produtor Executivo: Tim Headington. Estados Unidos: Diamond Films, 2022. Netflix.

"Tudo em todo lugar ao mesmo tempo” é um filme de ficção científica e comédia de ação dirigido por Dan Kwan e Daniel Scheinert. Retrata a vida sobrecarregada da imigrante chinesa Evelyn Wang (Michelle Yeoh), cuja lavanderia está à beira do fracasso e seu casamento com um marido covarde está em ruínas, enquanto ela luta para sobreviver, incluindo seu relacionamento difícil com seu pai e sua filha (Stephanie Hsu). E como se isso não bastasse, Evelyn deve se preparar para um encontro desagradável com a rígida burocrata Deirdre Beaubeirdre. (Jamie Lee Curtis), uma auditora da Receita Federal americana.

Mas quando um agente implacável perde a calma, uma brecha inexplicável se abre no multiverso, abrindo caminho para uma exploração aberta de uma realidade paralela. Evelyn inicia uma aventura onde ela deve sozinha salvar o mundo e impedir que uma criatura maligna destrua as inúmeras ​​camadas do mundo invisível. Enquanto explora outros universos e outras vidas que poderia ter vivido, as coisas se complicam ainda mais quando ela se vê preso nessa armadilha da possibilidade e incapaz de voltar para casa.

Do ponto de vista filosófico, o filme "Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo" apresenta vários aspectos filosóficos que são explorados ao longo da história. Abaixo estão alguns exemplos:

A natureza da realidade: O filme levanta questões sobre a natureza da realidade e como nossas experiências passadas afetam nossa compreensão do mundo ao nosso redor. A personagem principal começa a questionar a realidade de sua existência e se tudo o que está acontecendo ao seu redor é real ou uma ilusão.

A relação entre tempo e memória: O filme também explora a relação entre tempo e memória e como nossas memórias afetam nossa compreensão do tempo. As cenas são apresentadas em ordem cronológica não linear, o que destaca como nossa memória pode influenciar como vemos o tempo passar.

Identidade pessoal: O filme também questiona a identidade pessoal e a noção do "eu". As várias versões dos personagens principais sugerem que a identidade não é fixa e pode mudar ao longo do tempo.

Solidão e isolamento: A solidão e o isolamento são temas recorrentes no filme. A fazenda isolada onde a história se passa e a sensação constante de que algo não está certo sugerem a sensação de isolamento que pode surgir quando questionamos a natureza da realidade.

O tempo como uma construção humana: O filme sugere que o tempo é uma construção humana e que nossa percepção do tempo pode ser altamente subjetiva. Várias cenas no filme sugerem que o passado, presente e futuro estão todos acontecendo simultaneamente.

Destino e responsabilidade humana: O filme sugere que há um destino maior ou destino que conecta todas as coisas, e que Kuang é um herói que deve salvar o multiverso. Este tema levanta questões sobre o papel do destino e da responsabilidade pessoal em nossas vidas, e se temos controle sobre nossos próprios destinos.

Bem e mal: O filme explora o conflito entre o bem e o mal, e sugere que mesmo os personagens mais maus têm o potencial de redenção. Este tema levanta questões sobre a natureza do bem e do mal, e se esses conceitos são fixos ou sujeitos a mudanças.

A natureza da existência: Por fim, o filme levanta questões mais amplas sobre a natureza da existência e o significado da vida. Em várias cenas, as personagens parecem estar presas em ciclos repetitivos, sugerindo que a existência humana pode ser cíclica e sem sentido. O filme sugere que encontrar um significado na vida pode ser uma tarefa difícil e que a resposta pode ser inalcançável.

Em termos gerais, o filme aborda temas filosóficos complexos e estimula o espectador a questionar sua compreensão do mundo ao seu redor.