A igreja de Antioquia da Síria é um exemplo importante de uma
igreja urbana. Antes que o apóstolo Paulo fosse o plantador de igrejas que
vemos no NT, quando ainda perseguidor da igreja, Antioquia já se destacava como
modelo de igreja urbana missionária e plantadora de várias outras igrejas. Como
diz Stetzer, “a fundação da igreja de Antioquia talvez seja o momento mais
importante da história da plantação de igrejas”.[1] Ela
se tornou a primeira igreja plantadora de igrejas.
A igreja
iniciou-se através de irmãos “leigos” cujos nomes não estão registrados nas
Escrituras, mas que deram um grande passo na história cristã. Seus fundadores
eram gentios helenistas que fugiam da perseguição em Jerusalém. Conforme está
escrito em Atos 11.20-21, “alguns deles, porém, que eram de Chipre e de Cirene
e que foram até Antioquia, falavam também aos gregos, anunciando-lhes o
evangelho do Senhor Jesus. A mão do Senhor estava com eles, e muitos, crendo,
se converteram ao Senhor”. Os resultados foram maravilhosos. Grandes planos de
Deus concretizaram-se através dessa igreja. Como diz Greenway, “chegando em
Antioquia eles tomaram o passo significativo de pregar o evangelho aos gentios,
começando assim a igreja mãe do Movimento Cristão Gentio (At 11.19-26)”.[2]
A cidade de Antioquia era ao mesmo
tempo uma “cidade helenista, uma cidade romana e uma cidade judaica”.[3] Era
um lugar onde as culturas oriental e grega se encontravam. Havia uma grande
comunidade de judeus. Os judeus também haviam feito muitos prosélitos ao
judaísmo. Lá, as barreiras sociais eram de carta forma pequena, e,
talvez, isso seja evidenciado pelo grupo de profetas e mestres da Igreja, sendo
que dos cinco (At 13.1), Barnabé e Saulo foram enviados pelo Espírito e pela
igreja a começar o ministério de plantação de igrejas, em diversas cidades do
Império Romano. Barnabé era levita de Chipre, Simeão, que tinha o sobrenome
Niger, ou seja, era um negro, africano (pode ser o Simão Cirineu que carregou a
cruz). Lúcio era natural de Cirene, capital da província romana de Cirenaica
(atual Líbia – norte da África). Manaém era judeu, colaço de Herodes. O termo colaço
significa “membro da corte”. Estudiosos afirmam que ele foi criado junto com
Herodes. Saulo era judeu de Tarso, ex-membro importante e zeloso do grupo dos
fariseus.
Greenway destaca que a Igreja de
Antioquia crescia por meio de conversões. Segundo ele, há três tipos de
crescimento. O primeiro deles é o biológico, que ocorre
através do nascimento dos filhos dos crentes, esse é o crescimento geracional
da comunidade da aliança. O segundo é o crescimento de transferência,
são os membros advindos de outros lugares, porém, nesse caso, na prática, de
fato, não há crescimento numérico para a igreja de Cristo. O terceiro tipo de
crescimento foi o que ocorreu em Antioquia, é o chamado crescimento por conversão.
Fica claro que, no início, a igreja era composta por irmãos vindos,
principalmente, de Jerusalém. “Mas o fator realmente importante em Antioquia
foi o número de pagãos que foram convertidos às convicções cristãs e à
membresia da igreja. Este é o tipo de crescimento que devemos buscar no
evangelismo”,[4] diz
Greenway.
Dois aspectos
ainda se destacam em relação à igreja de Antioquia. O primeiro era sua atenção
em relação aos pobres. Nos dias de Cláudio – que governou de 41 d.C
a 54 d.C. - houve uma grande fome no império, atingindo a Judeia. Naquele
período, os cristãos judeus estavam sofrendo e “os discípulos, cada um conforme
as suas posses, resolveram enviar socorro aos irmãos que moravam na Judeia; o
que eles, com efeito, fizeram, enviando-o aos presbíteros por intermédio de
Barnabé e de Saulo” (At 11.29-30). Greenway entende que isso causou um grande
impacto na vida de Paulo. “Esse ato de compaixão por parte dos crentes de
Antioquia efetuou uma grande impressão em Paulo, resultando na consistente
integração de palavra e atos em ministério apostólico epistolar”.[5] O segundo aspecto tem a ver com liderança
local. Paulo tinha a habilidade de descobrir pessoas chave que se tornariam
líderes importantes. Mesmo sendo Paulo um líder nato antes da sua conversão,
ele “aprendeu em Antioquia que a chave para o desenvolvimento de igrejas fortes
e efetivas é a liderança local”.[6]
A igreja de Antioquia foi um lugar de
pregação do evangelho, de compaixão pelos pobres e o quartel general das
missões urbanas transculturais. A força dessa igreja também pode ser vista em
sua vida espiritual. Era uma igreja que servia, jejuava e orava ao Senhor.
Essas foram marcas de uma igreja que Deus usou para espalhar o evangelho pelo
mundo. Em certo sentido, a igreja de Antioquia pode ser descrita como a origem
da obra cristã no mundo. As igrejas que desejam ser relevantes e querem
espalhar o evangelho pelas cidades do mundo têm em Antioquia um modelo bíblico.
Como conclui Greenway, “é verdade ainda hoje que quando uma igreja adiciona uma
dimensão global ao seu ministério através do envio e suporte a obreiros em
lugares distantes, seu crescimento espiritual, alegria e vitalidade são
grandemente enriquecidos”.[7] Ainda
segundo Greenway, “compreender Antioquia é crucial para a percepção bíblica da
missão urbana, porque os padrões que foram estabelecidos lá definiram o curso
da história da missão e mudou o mapa religioso do mundo”.[8] Além
do mais, a igreja de Antioquia, com certeza, influenciou a vida e ministério do
apóstolo Paulo, que se tornou o maior apóstolo urbano do primeiro século.
Robson Rosa Santana
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[1] STETZER, Ed. Plantando Igrejas Missionais: como plantar igreja bíblicas, saudáveis e
relevantes à cultura. Trad. A. G. Mendes. São Paulo: Vida Nova, 2015, p.
73.
[2]
GREENWAY, Roger. The Urban-Mission Movement of the New Testament. In: GREENWAY,
Roger S.; MONSMA, Timothy M. Cities: Missions’
New Frontier. Grand Rapids: Baker,
1989, p. 14. Tradução nossa.
[3]
GREENWAY, Roger S. Antioch: A Biblical Model of Urban Mission Development. In:
GREENWAY, Roger S.; MONSMA, Timothy M. Cities:
Missions’ New Frontier. Grand Rapids: Baker, 1989, p. 33. Tradução
nossa.
[4] GREENWAY, Antioch, p. 35. Tradução nossa
[5] GREENWAY, Antioch, p. 38. Tradução nossa.
[6] Ibid., p. 40. Tradução nossa.
[7] Ibid., p. 41. Tradução nossa.
[8] Ibid., p. 31. Tradução nossa.