25 de novembro de 2009

Vida cristã: uma maratona de fé (Hb 12.1-3)

Introdução
Uma das imagens mais impressionantes de obstinação, desejo de chegar ao final da disputa, foi numa olimpíada em que uma mulher corria na maratona (42 km). Ela já estava quase totalmente exausta, quase sem força, capengando, exigindo o máximo da energia de seu corpo, e cambaleando chega até o final da corrida.


Eu mesmo nem sei quem venceu a corrida, pois aquela mulher roubou a cena e serviu de modelo de persistência e perseverança. Tinha um alvo, objetivo, a alcançar e se esforçou o máximo para chegar lá. Chegou. Completou a carreira!

A Bíblia mostra muitas ilustrações do que é a vida cristã:
Uma caminhada: Jesus é o Caminho, só alcançaremos a salvação se andarmos no caminho estreito. O próprio cristianismo no início era chamado de O Caminho. E Pedro nos chama de peregrinos.


Uma guerra, combate, luta: não lutamos contra o homem em si, mas contra os espíritos malignos que nos tentam, usam pessoas e que tem a finalidade de mentir, roubar, matar e destruir. Por isso devemos estar revestidos da armadura espiritual que vem de Deus.


Uma corrida, carreira, maratona: Paulo até usa duas ilustrações no mesmo verso: “combati o bom combate, completei a carreira, guardei a fé” (2Tm 4.7).


NarrativaO autor de Hebreus, no texto lido, fala que estamos numa corrida: na Maratona da Fé. Antes já havia dito que “sem fé é impossível agradar a Deus” (11.6). Aqui não é simplesmente a fé salvadora em Cristo Jesus. Mas a fé de ultrapassar todos os obstáculos que estiverem à nossa frente e chegarmos ao final da corrida.

Pois isso o texto diz: “temos a rodear-nos de tão grande nuvem de testemunhas”: Abel, Enoque, Noé, Abraão (o pai da fé), Sara, Isaque, Jacó, José, Moisés, e tantos outros, como os juízes e profetas, que pela fé no Deus todo-poderoso, dependeram exclusivamente de Suas promessas e venceram tudo que estava tentando atrapalhar a sua caminhada rumo a Deus e ao céu.


O verso 1 fala do grande serviço que a Bíblia (Deus) exige dos Hebreus e que ele deseja muito que eles possam cumprir na maratona da fé, da seguinte forma:
"desembaraçando-nos de todo peso e do pecado que tenazmente nos assedia, corramos, com perseverança, a carreira que nos está proposta".


Isso consiste de 2 partes: (1) Preparação e (2) Aperfeiçoamento


1) Preparação

Como o crente se prepara para a corrida da vida cristã?
“desembaraçando-nos de todo peso”(deixar de lado todo o peso), assim como um corredor usa roupas bem leves e coladas ao corpo para facilitar a corrida.


Ex.: nadadores, depilam os pelos do corpo para ficar mais lisos, alguns até usam uma roupa de pele de tubarão para deslizar melhor e ganhar alguns milésimos de segundo.

Assim também nós, cristãos, na nossa corrida cristã, devemos tirar todo o peso das nossas vidas.


Que peso é esse? São todos os impulsos e desejos pecaminosos do nosso corpo. É nos separar dos cuidados pelas coisas dessa vida e das coisas do mundo; que só geram ansiedade e nos deixam paralisados nas coisas do reino de Deus. Às vezes estamos tão preocupados com as coisas terrenas e carnais que não conseguimos buscar a Deus, nem muito menos servi-lo.

Calvino: “Deparamo-nos com todo gênero de cargas que nos atrasam e embaraçam nossa corrida espiritual, ou seja: o apego a esta presente vida, os deleites do mundo, os apetites da carne, as preocupações terrenas, as riquezas e honras, bem como outras coisas desse gênero”.
“do pecado que tenazmente nos assedia”O verso ainda diz que devemos nos desembaraçar do pecado. Pecado aqui nos fala da nossa natureza pecaminosa. O maior empecilho para que vivamos uma vida de adoração, de comunhão com Deus, de serviço na sua obra, quer seja evangelizar, visitar, aconselhar ou ajudar os irmãos, é o empecilho do pecado que habita em nós. (Leia Romanos 7.17-23)

Como nos livrar ou diminuir a ação do pecado em nós? Se enchendo do Espírito (Gl 5.16-17). Estamos numa luta constante e como diz o Hb 12.4: “Na vossa luta contra o pecado, ainda não tendes resistido até o sangue”.
O pecado tenazmente nos assedia (nos atrai), que nos envolve, que está ao nosso redor.
“Como um animal selvagem à noite que fica às escondidas esperando o melhor momento para atacar suas vítimas descuidadas” (Paráfrase de Robertson).

Devemos ficar mais atentos do que com relação ao Diabo. Ele também faz esse cerco com relação ao crente, mas o pecado está dentro de nós. Requer mais vigilância.
Alguns pecados que nunca conseguimos vencer nos deixam sem a capacitação e a autoridade para fazer a obra de Deus. Meditemos nisso.


Resumo: A primeira parte com relação à nossa corrida é essa: a preparação: tirar tudo aquilo que nos atrapalha, que nos amarra, que impede que corramos livremente: (a) os pesos da vida e do mundo; e (b) a natureza pecaminosa que está em nós, por isso devemos lutar contra ela nos enchendo do Espírito Santo de Deus.

2) Aperfeiçoamento 

Os cristãos têm uma corrida a correr, uma corrida de serviços e sofrimentos, ou seja, uma obediência ativa e passiva. Esta corrida (carreira) nos está proposta; foi marcada para nós por meio da Palavra de Deus e pelos exemplos dos servos do passado que foram fiéis a Deus. Tudo aquilo que precisamos para a nossa maratona cristã foi preparada por Deus.


Esta corrida deve ser com paciência e perseverança. Pois haverá a necessidade de paciência para enfrentar as dificuldades que surgem pelo caminho e de perseverança para resistir à tentação de desistir ou deixar tudo de lado. Devemos cultivar e guardar a fé e a paciência, que são graças de Deus para nós.

Os crentes têm um exemplo maior do que todos os heróis da fé que foram citados no capítulo 11, que é o Senhor Jesus Cristo. “Ohando firmemente para o Autor e Consumador da fé, Jesus” (v.2).Jesus é aquele que gerou a fé em nós. É Ele o que a aperfeiçoa e também o recompensador daquilo que Ele mesmo nos deu.

Como maior exemplo para que continuemos a nossa carreira, corrida ou maratona cristã, é preciso que observemos que Cristo também é nosso exemplo de uma pessoa que ultrapassou todas as tentações que vieram ao seu encontro:


v.2: “suportou a cruz” – chegou a pedir, se possível fosse, que passasse dele o cálice da ira de Deus sobre a sua vida. Ele suportou os pregos, a dor, a vergonha, a zombaria, a morte maldita, como um transgressor, um malfeitor vil. Tudo isso Ele suportou firme, com paciência e obstinação.


v.2: “não fazendo caso da ignomínia” (“desprezando a vergonha” – NVI) – mesmo sendo Deus, o Filho se humilhou, recebeu a oposição dos homens na vida e na morte, mas tudo isso Ele não fez caso por causa de seu amor pela igreja; Ele desprezou o desprezo que fizeram com Ele.

v.3: “suportou tamanha oposição dos pecadores” (especialmente os líderes judaicos).

Devemos olhar para Jesus como nosso exemplo maior de obediência a Deus, tanto em obedecer aos mandamentos do Pai, como de obedecer enquanto sofria a rejeição de seu próprio povo.

Devemos estar com os olhos fixos em Jesus, especialmente quando sabemos que Ele fez isso voluntariamente, pois ele troca a alegria, um estado de glória maravilhoso que fazia parte de seu estado original antes de vir à terra (“em troca da alegria que lhe estava proposta” [v.2]).
Fez tudo para reconciliar o pecador com o Criador. E Ele recebeu a recompensa pelos seus sofrimentos: “assentou-se à direita do trono de Deus” (v.2). E de lá ainda intercede por nós (Hb 7.25).

Resumo: nos preparamos para a corrida olhando para os heróis da fé do passado. Como se eles estivessem na arquibancada de um estádio e nós estivéssemos na pista de corrida. E eles não são apenas expectadores, é como se eles torcessem por nós (eu vivi pela fé, você consegue também chegar até o final. Vamos lá. Desânimo jamais!).


Conclusão
Devemos correr com paciência e perseverança, com determinação, com animo e fé, a nossa maratona cristã. Como diz o texto:


v.2: “olhando firmemente para o autor e consumador da nossa fé”. Os nossos olhos devem estar fixos em Jesus; exemplo de tudo para nós. Por isso não temos desculpas por abandonarmos a nossa corrida por qualquer motivo ou pessoa. É desculpa que não vai ser aceita no dia do juízo.

O próprio Jesus está na linha de chegada dizendo, “olhem para mim. Olhem para tudo o que eu suportei, as tentações, as calúnias, as blasfêmias, a dor; tudo isso foi por vocês. No mundo vocês passam por aflições e dificuldades, mas tenham ânimo, eu venci e vocês também vencerão. Só basta não desistir!”
v.3: “Considerai, pois, atentamente, aquele que suportou tamanha oposição dos pecadores contra si mesmo, para que não vos fatigueis, desmaiando em vossa alma”. NVI: “Pensem bem”. Ou seja, medite em tudo que Cristo sofreu. Como disse Pedro, devemos seguir os passos de Jesus também quando vêm os sofrimentos (1Pe 2.21).

João Calvino: “A súmula de tudo isso, pois, é que nos encontramos engajados num torneio, o qual se desenvolve no mais famoso dos estádios, no qual se acha presente a rodear-nos uma grande multidão de espectadores e onde o Filho de Deus preside, incitando-nos a conquistar o prêmio. Portanto, seria uma inominável desgraça pararmos cansados ou sermos dominados pela indolência bem ao meio do percurso”.


Pr. Robson Rosa Santana


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Pesquisa:
Matthew Henry, Commentary on Hebrews.
Joao Calvino, Hebreus
Robertson, Word Pictures (BibleWorks).