4 de julho de 2018

Antioquia: um modelo bíblico de igreja urbana

     
A igreja de Antioquia da Síria é um exemplo importante de uma igreja urbana. Antes que o apóstolo Paulo fosse o plantador de igrejas que vemos no NT, quando ainda perseguidor da igreja, Antioquia já se destacava como modelo de igreja urbana missionária e plantadora de várias outras igrejas. Como diz Stetzer, “a fundação da igreja de Antioquia talvez seja o momento mais importante da história da plantação de igrejas”.[1] Ela se tornou a primeira igreja plantadora de igrejas.
 A igreja iniciou-se através de irmãos “leigos” cujos nomes não estão registrados nas Escrituras, mas que deram um grande passo na história cristã. Seus fundadores eram gentios helenistas que fugiam da perseguição em Jerusalém. Conforme está escrito em Atos 11.20-21, “alguns deles, porém, que eram de Chipre e de Cirene e que foram até Antioquia, falavam também aos gregos, anunciando-lhes o evangelho do Senhor Jesus. A mão do Senhor estava com eles, e muitos, crendo, se converteram ao Senhor”. Os resultados foram maravilhosos. Grandes planos de Deus concretizaram-se através dessa igreja. Como diz Greenway, “chegando em Antioquia eles tomaram o passo significativo de pregar o evangelho aos gentios, começando assim a igreja mãe do Movimento Cristão Gentio (At 11.19-26)”.[2]
 A cidade de Antioquia era ao mesmo tempo uma “cidade helenista, uma cidade romana e uma cidade judaica”.[3] Era um lugar onde as culturas oriental e grega se encontravam. Havia uma grande comunidade de judeus. Os judeus também haviam feito muitos prosélitos ao judaísmo.  Lá, as barreiras sociais eram de carta forma pequena, e, talvez, isso seja evidenciado pelo grupo de profetas e mestres da Igreja, sendo que dos cinco (At 13.1), Barnabé e Saulo foram enviados pelo Espírito e pela igreja a começar o ministério de plantação de igrejas, em diversas cidades do Império Romano. Barnabé era levita de Chipre, Simeão, que tinha o sobrenome Niger, ou seja, era um negro, africano (pode ser o Simão Cirineu que carregou a cruz). Lúcio era natural de Cirene, capital da província romana de Cirenaica (atual Líbia – norte da África). Manaém era judeu, colaço de Herodes. O termo colaço significa “membro da corte”. Estudiosos afirmam que ele foi criado junto com Herodes. Saulo era judeu de Tarso, ex-membro importante e zeloso do grupo dos fariseus.
 Greenway destaca que a Igreja de Antioquia crescia por meio de conversões. Segundo ele, há três tipos de crescimento. O primeiro deles é o biológico, que ocorre através do nascimento dos filhos dos crentes, esse é o crescimento geracional da comunidade da aliança. O segundo é o crescimento de transferência, são os membros advindos de outros lugares, porém, nesse caso, na prática, de fato, não há crescimento numérico para a igreja de Cristo. O terceiro tipo de crescimento foi o que ocorreu em Antioquia, é o chamado crescimento por conversão. Fica claro que, no início, a igreja era composta por irmãos vindos, principalmente, de Jerusalém. “Mas o fator realmente importante em Antioquia foi o número de pagãos que foram convertidos às convicções cristãs e à membresia da igreja. Este é o tipo de crescimento que devemos buscar no evangelismo”,[4] diz Greenway.
 Dois aspectos ainda se destacam em relação à igreja de Antioquia. O primeiro era sua atenção em relação aos pobres. Nos dias de Cláudio – que governou de 41 d.C a 54 d.C. - houve uma grande fome no império, atingindo a Judeia. Naquele período, os cristãos judeus estavam sofrendo e “os discípulos, cada um conforme as suas posses, resolveram enviar socorro aos irmãos que moravam na Judeia; o que eles, com efeito, fizeram, enviando-o aos presbíteros por intermédio de Barnabé e de Saulo” (At 11.29-30). Greenway entende que isso causou um grande impacto na vida de Paulo. “Esse ato de compaixão por parte dos crentes de Antioquia efetuou uma grande impressão em Paulo, resultando na consistente integração de palavra e atos em ministério apostólico epistolar”.[5] O segundo aspecto tem a ver com liderança local. Paulo tinha a habilidade de descobrir pessoas chave que se tornariam líderes importantes. Mesmo sendo Paulo um líder nato antes da sua conversão, ele “aprendeu em Antioquia que a chave para o desenvolvimento de igrejas fortes e efetivas é a liderança local”.[6]
 A igreja de Antioquia foi um lugar de pregação do evangelho, de compaixão pelos pobres e o quartel general das missões urbanas transculturais. A força dessa igreja também pode ser vista em sua vida espiritual. Era uma igreja que servia, jejuava e orava ao Senhor. Essas foram marcas de uma igreja que Deus usou para espalhar o evangelho pelo mundo. Em certo sentido, a igreja de Antioquia pode ser descrita como a origem da obra cristã no mundo. As igrejas que desejam ser relevantes e querem espalhar o evangelho pelas cidades do mundo têm em Antioquia um modelo bíblico. Como conclui Greenway, “é verdade ainda hoje que quando uma igreja adiciona uma dimensão global ao seu ministério através do envio e suporte a obreiros em lugares distantes, seu crescimento espiritual, alegria e vitalidade são grandemente enriquecidos”.[7] Ainda segundo Greenway, “compreender Antioquia é crucial para a percepção bíblica da missão urbana, porque os padrões que foram estabelecidos lá definiram o curso da história da missão e mudou o mapa religioso do mundo”.[8] Além do mais, a igreja de Antioquia, com certeza, influenciou a vida e ministério do apóstolo Paulo, que se tornou o maior apóstolo urbano do primeiro século.

Robson Rosa Santana

* Este artigo é uma seção do capítulo 1 do meu e-book "Missão Urbana: fundamentos, desafios e implicações".

Comece a ler este livro gratuitamente: http://amz.onl/jgAazfY





[1] STETZER, Ed. Plantando Igrejas Missionais: como plantar igreja bíblicas, saudáveis e relevantes à cultura. Trad. A. G. Mendes. São Paulo: Vida Nova, 2015, p. 73.
[2] GREENWAY, Roger. The Urban-Mission Movement of the New Testament. In: GREENWAY, Roger S.; MONSMA, Timothy M. Cities: Missions’ New Frontier. Grand Rapids: Baker, 1989, p. 14. Tradução nossa.
[3] GREENWAY, Roger S. Antioch: A Biblical Model of Urban Mission Development. In: GREENWAY, Roger S.; MONSMA, Timothy M. Cities: Missions’ New Frontier. Grand Rapids: Baker, 1989, p. 33. Tradução nossa.
[4] GREENWAY, Antioch, p. 35. Tradução nossa
[5] GREENWAY, Antioch, p. 38. Tradução nossa.
[6] Ibid., p. 40. Tradução nossa.
[7] Ibid., p. 41. Tradução nossa.
[8] Ibid., p. 31. Tradução nossa.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Você pode comentar aqui se quiser