7 de setembro de 2015

Recuperando a Paixão Missional da Igreja

por Ed Stetzer

    Para que a igreja recupere sua paixão missional, precisamos recuperar o nosso senso perdido da glória impressionante e abrangente da missão de Deus. A maioria dos cristãos não negam as doutrinas ortodoxas da Escritura. Nós compreendemos o fato de que Deus se revelou a nós como Senhor e Rei. Mas para usar as palavras do autor David Wells, a igreja moderna tem sido "enjaulada" por uma diminuição de quem Deus realmente é.
    Temos de nos desvencilhar de um Deus que podemos usar, para um Deus que devemos obedecer; nós temos de voltar de um Deus que vai preencher a nossa necessidade, para um Deus diante de quem devemos render nossos direitos para nós mesmos. Ele é um Deus para nós, para a nossa satisfação - não porque aprendemos a pensar nele dessa forma por meio de Cristo, mas porque aprendemos a pensar nele dessa maneira através do mercado. Tudo é para nós, para o nosso prazer, para nossa satisfação, e temos de assumir que deve ser assim na igreja também.
    Nós temos encolhido Deus para o nosso tamanho. Nós limitamos a abrangência de sua missão em nossas mentes. Nós involuntariamente compramos a ideia de que o progresso é mais importante do que a redenção.
    E é principalmente por isso que o nosso zelo pela evangelização e o evangelho tem sido minado - não porque nós não nos importamos, não porque não sabemos o que fazer. Temos simplesmente substituído o propósito de Deus para o mundo com o nosso próprio propósito para o mundo. Mesmo quando servimos, ajudamos, damos e compartilhamos, muitas vezes fazemos essas coisas a partir de um senso de obrigação ou um desejo de impressionar. Nós nos tornamos uma igreja dirigida por muitas motivações diferentes, mas muito raramente por um desejo singular para glorificar a Deus. Wells está certo: "Não seremos capazes de recuperar a visão e compreensão da grandeza de Deus até que nós recuperemos uma compreensão de nós mesmos como criaturas que foram feitas para conhecer tal grandeza."
    A mensagem que emana da vida e obra do apóstolo Paulo, que foi sem discussão o missionário mais produtivo na história da igreja, é que não podemos esperar para sermos fieis ou eficazes no serviço do reino enquanto formos excessivamente preocupados com nossas próprias necessidades.
    Em duas ocasiões, ele chamou a si mesmo um "embaixador". Esse é um trabalho muito importante. Onde eu cresci em Nova York, aquelas eram as pessoas que não têm de pagar estacionamento. Eles eram importantes. E Paulo disse: "Nós somos embaixadores de Cristo" (2 Co 5.20). No entanto, a única outra vez que o lemos referindo a si mesmo por esse título, ele disse que era um "embaixador em cadeias" (Ef 6.20). Sim, ele era um embaixador - assim como nós somos - ainda que o papel de embaixadores, representando o Rei Jesus, não queira dizer que Paulo não teve dificuldades.
    Ninguém sobrevive ao tratamento severo e abusivo que ele suportou sem viver para algo maior que si mesmo. Podemos supor, então, que Paulo era simplesmente dedicado às pessoas que ele foi chamado a servir. Sua compaixão por eles, seu interesse altruísta por eles, seu desejo de que eles experimentassem o fruto do Evangelho: tudo isso deve ter cooperado para fazer dele uma força imparável.
    Bem, sim, Paulo foi dedicado às igrejas e as pessoas que as compunham. Ele possuía um zelo incomum para ver os outros convencidos da verdade evangélica e redimidos através da misericórdia e graça eternas de Deus. Mas não era a preocupação por seus próximos que, em última análise, motivou Paulo a tais extremos de esforço espiritual e sacrifício. Era o amor de Jesus que o "constrangia" (2 Co 5.14). "Viver é Cristo", disse ele (Fp 1.21).
    E nós, também, se quisermos ser fiéis ao nosso chamado, devemos viver supremamente para a glória de Deus e para o que ele está fazendo por meio de seu Filho em nosso mundo.
    Se não estamos nesta missão, então devemos nos perguntar o que estamos fazendo aqui. Estamos apenas trabalhando para tornar a igreja um lugar mais aceitável para os nossos amigos e vizinhos? Estamos à procura de um lugar agradável para se socializar nas noites de quarta-feira? Será que estamos girando manivelas e polias espirituais porque pensamos que a igreja deve fazer essas coisas, porque nós nos sentimos melhores a respeito de nós mesmos quando fazemo-las?
    A única coisa que realmente importa é a seguinte: o nosso Deus tem uma missão. É por isso que ele enviou Jesus aqui em termos subversivos. E é por isso que ele estabeleceu a igreja - igrejas como a sua e igrejas como a minha - para juntar-se a Ele na missão de restabelecer a sua glória sobre toda a criação.
    É por isso que Deus deu a sua igreja as "chaves do reino dos céus," para que "o que ligares na terra terá sido ligado nos céus, e o que desligares na terra terá sido desligado nos céus" (Mt 16.19 ). Para pessoas no mundo que vivem acorrentados à noção de que as suas ambições desejadas podem ser alcançadas na Terra, a igreja possui a sua resposta libertadora. Eles não são forçados a existir na escravidão de viver de experiência em experiência. Para alguns, essa "escravidão" assume a forma de academias de ginástica, escritórios, lojas de alimentos orgânicos, e todas as armadilhas aparentes de sucesso. Mas para outros, significa perdas de jogo, relacionamentos quebrados, oportunidades desperdiçadas, o abuso de medicamentos. Para muitos é uma mistura de montanha-russa entre os dois, uma navegação frenética de altos e baixos. E para tudo o que é uma vida que vai para longe do objetivo e permanência últimas.
    Por meio do evangelho aqueles indivíduos que estão "aprisionados" na escuridão espiritual podem ser "desligados" do que os mantêm cativos - redimidos da escravidão. O plano de Deus para derrubar o domínio do diabo, libertar seus reféns, e avançar o reino de Cristo é a Igreja proclamar as boas novas de Jesus Cristo em palavras e atos. É assim que ele persegue o seu plano de trazer toda a criação sob a sua autoridade e derivando glória para si mesmo no processo.
    Que este seja o propósito por trás de toda a nossa subversão.
    Quando nós compreendemos a enormidade dessa vocação e nosso papel dentro dele, vamos começar a confiar no Espírito para nos capacitar para envolver os perdidos, servir o ferido, e viver "vidas de enviados", como cristãos crentes unidos no propósito do reino. Vamos viver a diferença que Jesus faz em nossos corações não porque as pessoas esperam, mas porque ela mostra o que nosso Deus pode realizar. Vamos conversar com outras pessoas sobre o poder do evangelho não só porque elas estão perdidas, mas porque nosso Senhor e Rei é glorificado em encontrá-las.
    Comece o seu plano de ação, e prepare-se para ver o que acontece ao seu redor quando Deus começa a fazer progressos.

    Adaptado de Subversive Kingdom (2012, B & H Publishing Group)

    Original em inglês: Recovering the Missional Passion of the Church
    Disponível em: http://pastors.com/recovering-the-missional-passion-of-the-church/.
    Acesso em: 07 set 2015.
    Tradução: Robson Rosa Santana

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