18 de novembro de 2011

SANTIFICAÇÃO: O ESPÍRITO E A CARNE

“Tais fostes alguns de vós; mas vos lavastes, mas fostes santificados, mas fostes justificados em o nome do Senhor Jesus Cristo e no Espírito do nosso Deus” (1Co 6.11)

De acordo com o Breve Catecismo de Westminster (P. 35), a santificação é “obra da livre graça de Deus, pela qual somos renovados em todo o nosso ser, segundo a imagem de Deus, e habilitados a morrer cada vez mais para o pecado e a viver para a retidão”. É uma mudança contínua operada por Deus em nós, livrando-nos dos hábitos pecaminosos e formando em nós afeições, disposições e virtudes semelhantes às de Cristo. Isso não significa que o pecado seja instantaneamente erradicado, porém é mais do que uma ação contrária pela qual o pecado seja apenas restringido ou reprimido, sem ser progressivamente destruído. A santificação é uma real transformação, não mera aparência.
O significado básico de "santificar" é separar para Deus, para seu uso. Porém Deus opera naqueles a quem ele reivindica como sua propriedade, de maneira a torná-los semelhantes à "imagem de seu Filho" (Rm 8.29). Essa renovação moral, pela qual somos crescentemente mudados naquilo que éramos outrora, ocorre pela ação do Espírito que habita em nós (Rm 8.11, 12.1-2; 1Co 6.11,19-20; 2Co 3.18; Ef 4.22-24; 1Ts 5.23; 2Ts 2.13; Hb 13.20-21). Deus chama seus filhos para a santidade e, graciosamente, lhes dá o que ele mesmo exige (1Ts 4.4; 5.23-24).
Regeneração é nascimento; santificação é crescimento. Na regeneração, Deus implanta em nós desejos que antes não tínhamos; desejo por Deus, desejos pela santidade, de glorificar o nome de Deus no mundo; desejo de orar, de cultuar: desejo de amar e de fazer bem aos outros. Na santificação, o Espírito "efetua em nós tanto o querer como o realizar, segundo a sua boa vontade", que capacita o seu povo para cumprir seus novos e santos desejos (Fp 2.12- 13). Os cristãos se tornam crescentemente semelhantes a Cristo, quando o perfil moral de Jesus (o "fruto do Espírito") é progressivamente formado neles (2Co 3.18; Gl 4.19; 5.22-25).
A regeneração é um ato instantâneo de Deus, que leva a pessoa da morte espiritual para a vida. É obra exclusiva de Deus. A santificação é um processo constante, que depende da ação contínua de Deus no crente, e consiste na contínua luta do crente contra o pecado. O método de santificação usado por Deus não é nem ativismo (atividade autoconfiante), nem apatia (passividade confiante em Deus), mas esforço humano dependente de Deus (2Co 7.1; Fp 3.10-14; Hb 12.14). Sabendo que sem a capacitação dada por Cristo não podemos fazer boas obras, mas também sabendo que ele está pronto a fortalecer-nos em tudo o que devemos fazer (Fp 4.13), nós "permanecemos" em Cristo, pedindo constantemente seu auxílio – e o recebemos (Cl 1.11;  1Tm 1.12; 2Tm 1.7; 2.1).
A obra divina de santificação segue o padrão da lei moral revelada por Deus, exposta e exemplificada pelo próprio Cristo. O amor, a humildade e a paciência de Cristo constituem o supremo padrão para os cristãos (Rm 13.10; Ef 5.2; Fp 2.5-11; 2Pe 2.21).
Os crentes encontram dentro de si mesmos impulsos contraditórios. O Espírito sustenta seus desejos e propósitos  regenerados, porém seus instintos decaídos (a "carne") obstruem o caminho deles e os arrastam para trás. O conflito entre "carne" e Espírito é intenso. Paulo diz que é incapaz de fazer o que é certo e incapaz de evitar fazer o que é errado (Rm 7.14-25). Esse conflito e frustração acompanharão os cristãos enquanto viverem no corpo. Contudo, vigiando e orando contra a tentação e cultivando virtudes opostas ao pecado, eles podem, através da ajuda do Espírito, "mortificar" maus hábitos específicos (Rm 8.11-13; Cl 3.5). Assim, os cristãos experimentarão muitos livramentos e vitórias específicos em sua batalha contra o pecado, ao mesmo tempo em que não são expostos a tentações que não possam resistir (1Co 1 0.13).
 
Nota teológica da Bíblia de Estudo de Genebra, 1ª ed., p.1352

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