1. História do filme
O
filme ocorre em 2154 d. C.. Thommy tinha uma missão em Pandora. No entanto,
morre uma semana antes. Seu irmão JakeSully, que também é um fuzileiro
(Marine), mesmo paralítico das pernas, resolve continuar a missão, pois tinha o
mesmo genoma. Ele participa de uma experiência em que seres foram criados a
partir do DNA dos nativos do planeta Pandora e o DNA dos humanos. Estes seres
são chamados de Avatar. Segundo fala de Jake, “o conceito é que o controlador
se conecte a seu avatar, para que o
sistema nervoso dos dois se sintonizem”. E assim tentar estabelecer relações
cordiais com os nativos humanoides chamados Na’vi[1],
com o objetivo maior de explorá-los “diplomaticamente”.
Jake
vem se juntar a um grupo de militares que agora se tornaram mercenários neste
outro planeta. Grace Augustine[2]
é a chefe do programa Avatar. O propósito é se infiltrar como um dos Na’vi,
“domesticá-los” e explorar o mineral Unobtanium do planeta deles - Pandora. Os
militares prefeririam resolver na força das armas, e o projeto Avatar tenta
alcançar o mesmo alvo de forma dissimuladamente amigável.
Em
determinado momento Jake em seu avatar vai com outros avatares numa missão de
reconhecimento, até que Jake se vê lutando e fugindo com animais de Pandora.
Ele se afasta e se perde dos outros. Uma das fêmeas Na’vi o encontra e o ajuda.
Depois, Jake é encontrado por outros nativos e é salvo pela “amiga” Na’vi,
sendo em seguida levado para a tribo deles. Ao encontrar-se com o líder do
grupo, a filha que encontrou o avatar de Jake disse que o trouxe a eles por
causa de um sinal de Eywa. Nesse diálogo passa a conhecer a mãe dela, que se
chama Tsahik (que significa “aquela que interpreta a vontade de Eywa”)[3].
Nessa conversa Tsahik decide que sua filha ensine ao avatar seus costumes. O
centro da aldeia dos Na’vi está em cima do maior depósito de Unobtanium num
raio de centenas de quilômetros. A ideia é retirar os nativos de lá e explorar
o mineral.
Depois
que ele retoma a consciência na base, é instruído por Grace sobre os nomes dos
principais dos Na’vi. Dentre eles está Neytiri, que foi a que o ajudou. Ela
será a próxima Tsahik. Até que Jake
pergunta que é Eywa, e lhe respondem: “só sua divindade, sua deusa, feita de
todas as criaturas vivas, e que conhecem”. E assim ele volta para o avatar para
aprender com Neytiri. A primeira lição é andar em um tipo de cavalo, sendo
feita uma ligação de um tipo de crina do animal com o cabelo dele. Essa ligação
é chamada de tsaheylu.
De
volta ao treinamento o avatar de Jake tem aprender a voar com uma ave com a
qual se tem a mesma ligação tsaheylu.
É ensinado a correr sobre as árvores, a atirar com flechas, etc. Essa ligação
não se dá apenas entre alguns animais e os Na’vis, mas entre eles e tudo ao
redor. Uma das indagações de Jake é justamente sobre isso. Em uma das suas
falas em pensamento ele diz: “Ela fala de uma rede de energia que conecta todos
os seres vivos. Ela diz que a energia é só emprestada, e um dia temos de
devolver”. Jake mata um animal e Neytiri diz que seu espírito voltaria para
Eywa e seu corpo ao ser comido faria parte do povo.
Depois
de tantas incursões no mundo de Pandora em seu avatar, Jake começa a entrar em
crise, questionando se lá de fato não era o mundo real. E o real fosse um
sonho. Há também um lugar sagrado para os na’vis chamado Árvore das Almas, onde
os seres humanos nunca tiveram permissão de conhecer.
Numa
cerimônia Na’vi, o avatar de Jake se torna um filho de Omaticaya e agora faz
parte do Povo. Todos vão pondo as mãos nos ombros uns dos outros fazendo uma
grande unidade. Neytiri leva Jake para a Árvore das Vozes – vozes dos
ancestrais – estes fazendo parte de Eywa. Para finalizar o treinamento, ela lhe
diz que ele precisa de uma mulher, a qual ele poderia escolher. Ele diz que
essa mulher teria de escolhê-lo, ela responde que ela já o escolheu. Então se
beijam e se amam. Ela diz: “eu faço parte de você agora”. Dormem juntos e
depois ele acorda e pensa: “o que é que eu fiz”.
Nesse
ápice de inserção no mundo de Pandora entre os Na’vis, eles acordam juntos com
o barulho das máquinas destruindo a floresta. Ele tenta se interpor. Segundo a
Drª Grace Augustine, ela acha que as árvores possuem uma rede de comunicação
entre as raízes como se fosse um grande cérebro com mais neurônios do que o
cérebro humano, por isso os Na’vis tentarão defender o seu meio ambiente a
qualquer custo. Jake e Grace são presos na base da missão, mas conseguem fugir
com mais alguns para outra base onde tem máquina que pode levar a mente ao
avatar deles. Grace morre, depois de tentarem salvar com a divindade de Pandora,
pois estava muito fraca.
Uma
batalha épica acontece. Além de outras tribos nativas, juntam-se aos Na’vis os
animais terrestres e voadores; que segundo Neytiri foram enviados por Eywa em
resposta à prece de Jake. Os nativos, juntamente com o avatar Jake, vencem. Os
invasores são mandados de volta. Jake vai à Árvore das Almas e os nativos numa
espécie de transe coletivo pedem que o espírito de Jake fosse transferido para
o avatar. Os olhos do avatar se abrem. Conseguiram. O filme termina.
2. Meta-história
O
escritor e diretor do filme James Cameron é bem conhecido diretor de cinema. É
um grande defensor de causas ambientais. A mensagem do filme é bem clara quanto
a isso: uma defesa da natureza e dos nativos, apresentando um choque de
cosmovisões. A cosmovisão pagã da adoração da natureza, contra o Ocidente
cristão. Somam-se a isso outros
elementos bem interessantes. Tentaremos expor esses elementos abordando os
aspectos centrais das Escrituras: Criação-Queda-Redenção.
3. Elementos da Criação em Avatar
Todo
espaço físico do filme se dá num ambiente do tipo da criação original de Deus.
A natureza é preservada pelos nativos. Destacam-se aspectos de comunidade; por
serem ainda tribais, a interdependência entre eles é grande. Há entre os Na’vis
representantes políticos e religiosos. As regras básicas têm a ver com a
diretriz da deusa Eywa. Enquanto que as regras dos “colonizadores” é a do maior
lucro no menor espaço de tempo. A beleza do lugar é impar; criação de um mundo
paralelo ao nosso. Ou seja, uma subcriação aos moldes da criação por Deus.
Somando-se o fato da grande tecnologia usada que dá uma beleza visual
impecável. Existe uma enorme diversidade de coisas e seres, mas, ao mesmo
tempo, isso tudo é um (abordaremos essa questão nos elementos da queda).
4. Elementos da Queda em Avatar
A
Bíblia faz uma clara distinção entre criação e Criador. Deus é onipresente, mas
é distinto das coisas que criou. No filme o elemento idólatra é gritante. Tudo
faz parte da divindade chamada Eywa. Essa divindade está em tudo e tudo faz
parte dela – como destacamos na história do filme. Existe a Árvore das Almas,
para onde vão as almas dos ancestrais mortos e aos quais invocam e pedem. A
ligação entre bestas parecidas com cavalos e dragões reforçam essa unidade (o tsaheylu). Enfim, no filme existem
alguns elementos do paganismo histórico. Há o animismo – todas as coisas possuem almas. Panteísmo – todas as coisas são manifestações da divindade; Deus é
tudo. Embora existam religiões panteístas na terra, Avatar evoca de forma
contundente que Pandora não é somente uma divindade que abrange a tudo
(panteísmo), mas que o planeta é um único organismo vivo. Essa ideia é chamada
de Hipótese de Gaia, proposta pelo
investigador inglês James Lovelock em 1972 – ainda discutida no meio acadêmico.
Conforme Fernando Rebouças, “A teoria de Gaia tem simpatizantes ambientalistas,
místicos e pesquisadores”.[4]. Além
do aspecto supracitado da idolatria pagã animista e panteísta e de resquícios
da Teoria de Gaia, há outros aspectos da queda, como avareza e violência.
5. Elementos de Redenção em Avatar
Há
vários elementos de Redenção, tais como a beleza impressionante da natureza
recriada por James Cameron em Pandora. Há harmonia dentro da própria “tribo”
Na’vi e do Povo com seu meio ambiente, uma harmonia que Deus queria que os
seres humanos tivessem com a Terra. Teólogos chamam isso de Mandato Cultural,
onde Deus fala para o homem cultivar a Terra, bem como cuidar dela (Gn 2.15).
O
tema da eternidade é subjacente e tácito, uma vez que a harmonia dos seres
vivos com o restante da natureza vira um círculo unitariano, pois os seres
vivos morrem e voltam à terra, ou seja, à Terra viva, à deusa mãe Eywa. Já que
o que existe é “uma rede de energia que conecta todos os seres vivos. [...] a
energia é só emprestada, e um dia temos de devolver”. Há também um aspecto
vicário no personagem de JakeSully, quando dar tudo de si pelo outro, até que
enfim se torna o outro.
6. Aplicações práticas
Como já dissemos o filme tem
uma abordagem idólatra própria do animismo-panteísmo. Diz o apóstolo Paulo em
Romanos 1.25: “pois eles mudaram a verdade de Deus em mentira, adorando e
servindo a criatura em lugar do Criador, o qual é bendito eternamente. Amém”.
Doxologicamente, vemos uma inversão das coisas como reveladas na Palavra. Deus
é Criador distinto da criação. Por meio dela glorificamos Aquele que fez todas
as coisas.
Numa
aplicação eclesiológica, temos de alertar aos nossos irmãos em Cristo para
estarem atentos ao consumirem cultura, seja popular ou não. Manifestações
culturais nunca são neutras. Elas sempre comunicam cosmovisões. No caso de
Avatar, a mensagem está lá e precisamos discerni-la.
O
filme também serve para analisar a cosmovisão dos incrédulos. Devemos
reconhecer que temos de cultivar/lavrar a terra, ou seja, usufruirmos dela, sem
exaurirmos seus recursos, dificultando a própria relação do planeta que provê
os recursos de subsistência nossa. No entanto, observar o mandato cultural de
cuidar/guardar a terra, não deve nos levar a adorá-la, como se, de fato, ela
fosse nossa “mãe”, ela como a origem de tudo, pelo contrário. “Porque dele, e
por meio dele, e para ele são todas as coisas. A ele, pois, a glória
eternamente. Amém” (Rm 11.36).
Robson Rosa Santana
Texto apresentado como trabalho do módulo Hermenêutica Cultural e Ministério Pastoral, do Mestrado em Divindade (M. Div. - Missões Urbanas), do CPAJ.
[1] Há uma semelhança dessa palavra com palavra hebraica para profeta. Talvez querendo dizer que o povo era um tipo de profeta.
[2]
Chama a atenção que o nome da cientista chefe é Grace (Graça), nome de uma
doutrina central do cristianismo histórico; e o sobrenome Augustine (Agostinho)
refere-se a um dos pais da Igreja do século IV, que é considerado uma das
maiores influencias da civilização Ocidental.
[3] É a líder espiritual, tipo
de uma Xamã.
[4] REBOUÇAS,
Fernando.Teoria de Gaia, in: http://www.infoescola.com/ecologia/teoria-de-gaia/,
acesso em 14 de ago. 2013.
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