LIDÓRIO, Ronaldo. Plantando Igrejas: teologia bíblica, princípios e estratégias de plantio de igrejas.
1ª Ed. São Paulo: Cultura Cristã, 2007.
Logo na introdução Ronaldo Lidório critica algumas
abordagens a respeito da plantação de igrejas, pois para ele as igrejas locais
devem ser bíblicas, vivas, contextualizadas e missionárias. Dentre essas
críticas ele cita a ênfase pragmática,
crescimento numérico em detrimento do fundamento bíblico. Sociológica, uma igreja busca apenas solucionar os problemas humanos.
Uma terceira abordagem distorcida é a eclesiológica,
através de um conceito limitado ou distorcido da identidade da igreja, no
sentido de que a igreja não tem missão, mas sim Deus, ou que a única função da
igreja é a evangelização (missões). Lidório diz: “A proclamação, apesar de não
ser a única característica procurada em por Deus em sua igreja, é possivelmente
a mais urgente e vital para o mundo em trevas”, e continua, “a ausência deste
sentimento na vida diária da igreja é sintoma de enfermidade crônica espiritual
e bíblica (p.13).
O autor ainda na introdução faz distinção entre
evangelização e plantio de igrejas. A primeira é a apresentação de Cristo a um
indivíduo. O segundo é apresentar Jesus numa área definida capaz de aprender a
Palavra, orar, ter comunhão e proclamar Jesus a outros, ou seja, tem o
propósito de gerar uma comunidade capaz de plantar outras igrejas.
No primeiro capítulo, Lidório apresenta alguns critérios
teológicos da plantação de igrejas e o processo bíblico de proclamação e
contextualização da mensagem. Nessa perspectiva buscar a reconciliação entre
missiologia e teologia, dizendo que não deve haver separação distinta das duas
disciplinas, pelo contrário, devem ser vistas como disciplinas complementares. Cita
Hesselgrave para confirmar a ausência de fundamento teológico nos estudos sobre
plantio de igrejas: “o compromisso evangélico com a autoridade das Escrituras é
vazio de significado se não permitirmos que os ensinos bíblicos moldem a nossa
missiologia” (p.17). A seguir ele diz que a teologia foi formada enquanto eram
plantadas igrejas, ou seja, num contexto do cumprimento da missão de Deus.
Apresentando critérios teológicos para o plantio de igrejas
ele afirma que isso deve ser definido (1) pelo poder e desejo de Deus de salvar
vidas, (2) pela fidelidade às Sagradas Escrituras, e (3) por sua proclamação.
Outro subtema dentro do capítulo foi uma breve apresentação
da história e metodologia da plantação de igrejas, mostrando também seus problemas
mais comuns. Finaliza o capítulo 1 enfatizando que “a união entre Teologia e
Missiologia, o estudo de Deus e a aplicação deste conhecimento para sua glória
na expansão do Reino são necessários para o estabelecimento de princípios e
práticas no plantio de igrejas” (p.24).
No capítulo 2 Ronaldo Lidório trata da Teologia Bíblica da Contextualização numa perspectiva teológica,
apresentando seus objetivos e limitações, bem como sua relevância e perigos. Para
ele, a contextualização missionária significa “comunicar o evangelho de forma
teologicamente fiel e ao mesmo tempo humanamente inteligível e relevante” (p.25,
sintetizando o pensamento de Hesselgrave). Lembrando que a falta de
contextualização na obra missionária transcultural tende a gerar duas
conseqüências desastrosas: sincretismo religioso e nominalismo evangélico.
Segundo ele, Jesus foi o maior exemplo de contextualização na missão de
proclamar o evangelho no seu contexto judaico.
Como primeiro passo para fundamentar uma teológica da
contextualização cita uma parte do sermão escatológico de Jesus em Mateus 24. Depois
de fazer uma análise exegética do v.14 ele conclui com uma paráfrase do verso: “o evangelho do reino será pregado de forma
inteligível e compreensível por todo o mundo habitado, por meio do testemunho
martírico, de vida, da igreja, a todas as etnias definidas” (p.26-27). Então “virá o fim”, “Jesus voltará”. “Esta comunicação do
evangelho, portanto, em uma perspectiva transcultural, necessita de um trabalho
de ‘tradução’ em duas áreas
específicas: a língua e a cultura” (p.27). Segundo ele, “a contextualização somente
é possível com uma fundamentação bíblica que a conduza, bem como é necessária
para a fidelidade na transmissão dos conceitos bíblicos” (p.28).
Quanto aos pressupostos
bíblicos para a contextualização, Lidório fundamenta-se no texto de Rm
1.18-27. Aos dar exemplos de modelos bíblicos de contextualização baseia-se nos
sermões e ensinos de Paulo no livro de Atos, em três tipos de públicos (e
culturas): 1) aos judeus em Atos 9.19-22; 2) aos judeus, mas com simpatizantes
gentios [judaizantes] (At 13.14-16); e 3) aos gentios sem conhecimento das
Escrituras, em Atos 17.16-31. Apresentando ao fim algumas conclusões acerca do
modo de Paulo de expor o evangelho de forma contextualizada. Lidório finaliza o capítulo 2 dizendo, mais
uma vez, do perigo da má contextualização ou falta dela: o sincretismo
religioso e o nominalismo cristão.
No cap. 3 Lidório fala sobre A Igreja e sua missão no plantio de igreja. A primeira coisa que
faz é conceituar o que é a igreja neotestariamente. Pois no processo de
plantação de igrejas é preciso ter a teologia correta do que é a igreja de
Deus. Assim, ele aponta algumas características da Igreja neotestamentária. Ela
é de Deus, humana, local e missionária.
A seguir ele mostra o processo de envio da igreja, enfatizando que igrejas plantam igrejas. Mostra também
que Deus chama pessoas e igrejas como um todo para fazer parte da edificação do
corpo de Cristo. Finaliza o capítulo dizendo que a obra missionária da igreja é
a sua participação na Missão de Deus (Missio
Dei). E critica visões distorcidas no trabalho missionário, como crescimento
denominacional, resultados versus
caráter, capacidade humana versus
dependência de Deus, estratégias substituindo a fidelidade à Palavra e o zelo
teológico sem prática missionária.
Os capítulos 4 e 5 Ronaldo Lidório trata das Estratégias para o Plantio de Igrejas,
em duas partes. Na primeira parte (cap. 4), é enfatizando a convicção do autor
de que essas estratégias devem ser fundamentadas na Bíblia, especialmente nos
exemplos de plantio de igrejas do Novo Testamento, o que é essencialmente
paulino. Outra convicção marcante de Lidório é que o foco é na plantação de
igrejas, não apenas a evangelização de indivíduos, ou seja, o foco é uma
comunidade, seja ela urbana, rural ou tribal, com o propósito de ali plantar
uma igreja, que por sua vez seja multiplicadora, uma igreja plantadora de
igreja. Na elaboração do modelo paulino de plantação de igrejas, o autor diz
que “a dificuldade em lidar com estratégias de plantio de igrejas é que em cada
diferente contexto certas abordagens são mais aplicáveis que outras” (p.58). Ele
cita os exemplos da plantação das igrejas de Antioquia da Pisídia, Icônio, Listra
e Tessalônica. Ele mostra que em cada uma das cidades foi feita uma abordagem
diferente, e sumaria dizendo: “todas as estratégias devem ser avaliadas de
acordo com o contexto a serem aplicadas senão fracassarão” (p.59). Na página 60
Lidório elenca as 12 principais abordagens utilizadas por Paulo. No restante
desse capitulo, é feita análise de algumas “realidades que limitam o
desenvolvimento de estratégias saudáveis para o plantio e crescimento de
igrejas”; também mostra alguns passos para organização de igrejas e um sumário
de um projeto de plantação de igrejas.
No capítulo 5 ele continua a pensar sobre as estratégias
para o plantio de igrejas e propõe 8 estratégias que podem ser aplicadas de
forma relevante nos contextos urbano, rural e tribal. As quais sejam: 1)
Pesquisa e compreensão da sociedade local; 2) Abundante evangelização; 3)
Comunicação de um evangelho cristocêntrico; 4) Oração; 5) Organização de igrejas
locais; 6) Discipulado e treinamento de líderes locais; 7) Envolvimento social
que promova ações sociais; e 8) Desenvolvimento do perfil de plantador de
igrejas.
No último capítulo Ronaldo Lidório traça a relação entre O Espírito Santo e o Processo de Plantação
de Igrejas. Sua afirmação principal é de que “sem a ação do Espírito, a
compreensão teológica e os princípios bem aplicados não farão nascer uma
igreja” (p.101). Reconhece também, conforme pesquisa da Patrick Johnstone que
“jamais tivemos um crescimento tão expressivo da igreja como em nossos dias”
(p.101). Divide esse capítulo em três partes. Primeiro, Lidório fala da essência
da pessoa do Espírito e sua função na expansão da igreja, através da conversão
dos perdidos, bem como por meio dos avivamentos históricos e os movimentos
missionários. Segundo, ainda com relação a ação do Espírito e missões, Ronaldo fala
do evento Pentecostes, no qual se cumpre a promessa do recebimento de poder do
alto, capacitando a igreja nascente para ser testemunha de Cristo. Diz ele: “A
igreja revestida nasceu com uma missão: testemunhar sobre Jesus” (p.103). Em
Atos 2 o autor ainda diz que a ação do Espírito no dia de Pentecostes gerou uma
igreja: (1) não enclausurada; (2) não segmentada, pois havia “um só
coração e uma alma”; e (3) não
autocentrada, pois somente Jesus deve ser o centro, só Ele deve ser
exaltado. Finaliza o capítulo enfatizando: “A dependência da ação do Espírito
é, portanto, condição necessária e fundamental para sonharmos ver igrejas
nascendo, em Cristo, para Deus” (p.104).
Ronaldo Lidório conclui o livro com uma palavra pastoral de
encorajamento aos plantadores de igrejas baseado na parábola do semeador e no
Salmo 126. Na última frase diz: “Na força do Senhor continue a caminhar... e
chorar... e semear... e sorrir, porque estamos aqui, na lavoura do Pai. Não há
lugar melhor”.
O livro de Lidório embora não muito extenso é de uma profundidade
justificada apenas pelo vasto conhecimento teológico/missiológico e prático na
plantação de igrejas nos diversos contextos culturais que existem nesse mundo
de Deus.
O seu livro é altamente aplicável em cada contexto, seja
ele urbano, rural ou tribal. E ainda dentro desses contextos distintos nas suas
mais variadas expressões culturais. Como disse no capitulo 2, “a
contextualização não é apenas possível com uma fundamentação bíblica que a
conduza, mas necessária para a fidelidade na transmissão dos conceitos
bíblicos” (p.28). E para uma comunicação eficaz do Evangelho é preciso, como
disse no cap. 5 sobre as estratégias, uma
pesquisa para compreensão da sociedade local onde se desejar plantar igrejas,
reconhecendo também que as abordagens são dinâmicas dependo do contexto em que
pretende testemunhar de nosso Senhor Jesus Cristo e plantar igrejas para a
glória de Deus.
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