23 de agosto de 2011

Plantando Igrejas | Ronaldo Lidório: uma resenha



LIDÓRIO, Ronaldo. Plantando Igrejas: teologia bíblica, princípios e estratégias de plantio de igrejas. 1ª Ed. São Paulo: Cultura Cristã, 2007.

Logo na introdução Ronaldo Lidório critica algumas abordagens a respeito da plantação de igrejas, pois para ele as igrejas locais devem ser bíblicas, vivas, contextualizadas e missionárias. Dentre essas críticas ele cita a ênfase pragmática, crescimento numérico em detrimento do fundamento bíblico. Sociológica, uma igreja busca apenas solucionar os problemas humanos. Uma terceira abordagem distorcida é a eclesiológica, através de um conceito limitado ou distorcido da identidade da igreja, no sentido de que a igreja não tem missão, mas sim Deus, ou que a única função da igreja é a evangelização (missões). Lidório diz: “A proclamação, apesar de não ser a única característica procurada em por Deus em sua igreja, é possivelmente a mais urgente e vital para o mundo em trevas”, e continua, “a ausência deste sentimento na vida diária da igreja é sintoma de enfermidade crônica espiritual e bíblica (p.13).
O autor ainda na introdução faz distinção entre evangelização e plantio de igrejas. A primeira é a apresentação de Cristo a um indivíduo. O segundo é apresentar Jesus numa área definida capaz de aprender a Palavra, orar, ter comunhão e proclamar Jesus a outros, ou seja, tem o propósito de gerar uma comunidade capaz de plantar outras igrejas.
No primeiro capítulo, Lidório apresenta alguns critérios teológicos da plantação de igrejas e o processo bíblico de proclamação e contextualização da mensagem. Nessa perspectiva buscar a reconciliação entre missiologia e teologia, dizendo que não deve haver separação distinta das duas disciplinas, pelo contrário, devem ser vistas como disciplinas complementares. Cita Hesselgrave para confirmar a ausência de fundamento teológico nos estudos sobre plantio de igrejas: “o compromisso evangélico com a autoridade das Escrituras é vazio de significado se não permitirmos que os ensinos bíblicos moldem a nossa missiologia” (p.17). A seguir ele diz que a teologia foi formada enquanto eram plantadas igrejas, ou seja, num contexto do cumprimento da missão de Deus.
Apresentando critérios teológicos para o plantio de igrejas ele afirma que isso deve ser definido (1) pelo poder e desejo de Deus de salvar vidas, (2) pela fidelidade às Sagradas Escrituras, e (3) por sua proclamação.
Outro subtema dentro do capítulo foi uma breve apresentação da história e metodologia da plantação de igrejas, mostrando também seus problemas mais comuns. Finaliza o capítulo 1 enfatizando que “a união entre Teologia e Missiologia, o estudo de Deus e a aplicação deste conhecimento para sua glória na expansão do Reino são necessários para o estabelecimento de princípios e práticas no plantio de igrejas” (p.24).
No capítulo 2 Ronaldo Lidório trata da Teologia Bíblica da Contextualização numa perspectiva teológica, apresentando seus objetivos e limitações, bem como sua relevância e perigos. Para ele, a contextualização missionária significa “comunicar o evangelho de forma teologicamente fiel e ao mesmo tempo humanamente inteligível e relevante” (p.25, sintetizando o pensamento de Hesselgrave). Lembrando que a falta de contextualização na obra missionária transcultural tende a gerar duas conseqüências desastrosas: sincretismo religioso e nominalismo evangélico. Segundo ele, Jesus foi o maior exemplo de contextualização na missão de proclamar o evangelho no seu contexto judaico.
Como primeiro passo para fundamentar uma teológica da contextualização cita uma parte do sermão escatológico de Jesus em Mateus 24. Depois de fazer uma análise exegética do v.14 ele conclui com uma paráfrase do verso: “o evangelho do reino será pregado de forma inteligível e compreensível por todo o mundo habitado, por meio do testemunho martírico, de vida, da igreja, a todas as etnias definidas” (p.26-27). Então “virá o fim”, “Jesus voltará”. “Esta comunicação do evangelho, portanto, em uma perspectiva transcultural, necessita de um trabalho de ‘tradução’ em duas áreas específicas: a língua e a cultura” (p.27). Segundo ele, “a contextualização somente é possível com uma fundamentação bíblica que a conduza, bem como é necessária para a fidelidade na transmissão dos conceitos bíblicos” (p.28).
Quanto aos pressupostos bíblicos para a contextualização, Lidório fundamenta-se no texto de Rm 1.18-27. Aos dar exemplos de modelos bíblicos de contextualização baseia-se nos sermões e ensinos de Paulo no livro de Atos, em três tipos de públicos (e culturas): 1) aos judeus em Atos 9.19-22; 2) aos judeus, mas com simpatizantes gentios [judaizantes] (At 13.14-16); e 3) aos gentios sem conhecimento das Escrituras, em Atos 17.16-31. Apresentando ao fim algumas conclusões acerca do modo de Paulo de expor o evangelho de forma contextualizada.  Lidório finaliza o capítulo 2 dizendo, mais uma vez, do perigo da má contextualização ou falta dela: o sincretismo religioso e o nominalismo cristão.
No cap. 3 Lidório fala sobre A Igreja e sua missão no plantio de igreja. A primeira coisa que faz é conceituar o que é a igreja neotestariamente. Pois no processo de plantação de igrejas é preciso ter a teologia correta do que é a igreja de Deus. Assim, ele aponta algumas características da Igreja neotestamentária. Ela é de Deus, humana, local e missionária. A seguir ele mostra o processo de envio da igreja, enfatizando que igrejas plantam igrejas. Mostra também que Deus chama pessoas e igrejas como um todo para fazer parte da edificação do corpo de Cristo. Finaliza o capítulo dizendo que a obra missionária da igreja é a sua participação na Missão de Deus (Missio Dei). E critica visões distorcidas no trabalho missionário, como crescimento denominacional, resultados versus caráter, capacidade humana versus dependência de Deus, estratégias substituindo a fidelidade à Palavra e o zelo teológico sem prática missionária.
Os capítulos 4 e 5 Ronaldo Lidório trata das Estratégias para o Plantio de Igrejas, em duas partes. Na primeira parte (cap. 4), é enfatizando a convicção do autor de que essas estratégias devem ser fundamentadas na Bíblia, especialmente nos exemplos de plantio de igrejas do Novo Testamento, o que é essencialmente paulino. Outra convicção marcante de Lidório é que o foco é na plantação de igrejas, não apenas a evangelização de indivíduos, ou seja, o foco é uma comunidade, seja ela urbana, rural ou tribal, com o propósito de ali plantar uma igreja, que por sua vez seja multiplicadora, uma igreja plantadora de igreja. Na elaboração do modelo paulino de plantação de igrejas, o autor diz que “a dificuldade em lidar com estratégias de plantio de igrejas é que em cada diferente contexto certas abordagens são mais aplicáveis que outras” (p.58). Ele cita os exemplos da plantação das igrejas de Antioquia da Pisídia, Icônio, Listra e Tessalônica. Ele mostra que em cada uma das cidades foi feita uma abordagem diferente, e sumaria dizendo: “todas as estratégias devem ser avaliadas de acordo com o contexto a serem aplicadas senão fracassarão” (p.59). Na página 60 Lidório elenca as 12 principais abordagens utilizadas por Paulo. No restante desse capitulo, é feita análise de algumas “realidades que limitam o desenvolvimento de estratégias saudáveis para o plantio e crescimento de igrejas”; também mostra alguns passos para organização de igrejas e um sumário de um projeto de plantação de igrejas.
No capítulo 5 ele continua a pensar sobre as estratégias para o plantio de igrejas e propõe 8 estratégias que podem ser aplicadas de forma relevante nos contextos urbano, rural e tribal. As quais sejam: 1) Pesquisa e compreensão da sociedade local; 2) Abundante evangelização; 3) Comunicação de um evangelho cristocêntrico; 4) Oração; 5) Organização de igrejas locais; 6) Discipulado e treinamento de líderes locais; 7) Envolvimento social que promova ações sociais; e 8) Desenvolvimento do perfil de plantador de igrejas.
No último capítulo Ronaldo Lidório traça a relação entre O Espírito Santo e o Processo de Plantação de Igrejas. Sua afirmação principal é de que “sem a ação do Espírito, a compreensão teológica e os princípios bem aplicados não farão nascer uma igreja” (p.101). Reconhece também, conforme pesquisa da Patrick Johnstone que “jamais tivemos um crescimento tão expressivo da igreja como em nossos dias” (p.101). Divide esse capítulo em três partes. Primeiro, Lidório fala da essência da pessoa do Espírito e sua função na expansão da igreja, através da conversão dos perdidos, bem como por meio dos avivamentos históricos e os movimentos missionários. Segundo, ainda com relação a ação do Espírito e missões, Ronaldo fala do evento Pentecostes, no qual se cumpre a promessa do recebimento de poder do alto, capacitando a igreja nascente para ser testemunha de Cristo. Diz ele: “A igreja revestida nasceu com uma missão: testemunhar sobre Jesus” (p.103). Em Atos 2 o autor ainda diz que a ação do Espírito no dia de Pentecostes gerou uma igreja: (1) não enclausurada; (2) não segmentada, pois havia “um só coração e uma alma”; e (3) não autocentrada, pois somente Jesus deve ser o centro, só Ele deve ser exaltado. Finaliza o capítulo enfatizando: “A dependência da ação do Espírito é, portanto, condição necessária e fundamental para sonharmos ver igrejas nascendo, em Cristo, para Deus” (p.104).
Ronaldo Lidório conclui o livro com uma palavra pastoral de encorajamento aos plantadores de igrejas baseado na parábola do semeador e no Salmo 126. Na última frase diz: “Na força do Senhor continue a caminhar... e chorar... e semear... e sorrir, porque estamos aqui, na lavoura do Pai. Não há lugar melhor”.
O livro de Lidório embora não muito extenso é de uma profundidade justificada apenas pelo vasto conhecimento teológico/missiológico e prático na plantação de igrejas nos diversos contextos culturais que existem nesse mundo de Deus.
O seu livro é altamente aplicável em cada contexto, seja ele urbano, rural ou tribal. E ainda dentro desses contextos distintos nas suas mais variadas expressões culturais. Como disse no capitulo 2, “a contextualização não é apenas possível com uma fundamentação bíblica que a conduza, mas necessária para a fidelidade na transmissão dos conceitos bíblicos” (p.28). E para uma comunicação eficaz do Evangelho é preciso, como disse no cap. 5 sobre as estratégias,  uma pesquisa para compreensão da sociedade local onde se desejar plantar igrejas, reconhecendo também que as abordagens são dinâmicas dependo do contexto em que pretende testemunhar de nosso Senhor Jesus Cristo e plantar igrejas para a glória de Deus.

 Robson Rosa Santana


Para adquirir o livro clique aqui


Nenhum comentário:

Postar um comentário

Você pode comentar aqui se quiser