22 de setembro de 2009

O Verdadeiro Significado da Páscoa (Êxodo 12.1-28)

 Introdução

Nos dias atuais, a Páscoa tornou-se, para muitos, apenas uma data comercial. É comum vermos a troca de ovos de chocolate — um costume que tem suas raízes no folclore pagão relacionado ao início da primavera no hemisfério norte (Europa).

Nesse contexto, surge também a figura do coelho. Sua origem remonta ao culto à deusa anglo-saxã da luz, chamada Eostre, cujo animal sagrado era uma lebre. Em algumas representações, essa deusa aparece com cabeça de coelho, reforçando o símbolo da fertilidade — tanto os ovos quanto os coelhos têm esse significado e são de origem pagã.

Da tradição católica romana, herdou-se o costume de comer peixe, especialmente o bacalhau, durante a Semana Santa. Práticas assim, por meio de um “jeitinho religioso”, foram sendo inseridas dentro da narrativa da celebração bíblica.

Mas eu insisto: qual é o verdadeiro significado da Páscoa?
Para nós, cristãos evangélicos — e, em especial, dentro de uma perspectiva reformada — o que ela representa?

 Contexto Bíblico

O texto de Êxodo 12 descreve a instituição da Páscoa por Deus, no meio de Seu povo, Israel.

O livro de Gênesis termina com a história de José, vendido como escravo ao Egito, mas que, pela providência soberana de Deus, interpreta o sonho do faraó (das sete vacas magras e sete gordas) e torna-se o segundo homem mais poderoso do Egito.

Como governador, José organiza o armazenamento de cereais durante os anos de fartura. Quando chega o tempo da escassez, povos vizinhos vêm ao Egito comprar alimento — inclusive sua própria família, que passa a viver ali, cerca de 70 pessoas ao todo.

Com o tempo, José morre e se levanta um novo faraó que não conhecia sua história. Assim, o povo de Israel é subjugado e feito escravo por 430 anos.

Deus, ouvindo o clamor de Seu povo, levanta Moisés para libertá-los. Moisés, um hebreu criado como príncipe egípcio, confronta o faraó sob a ordem divina: “Deixa o meu povo ir.” O faraó resiste, e então o Senhor envia dez pragas para humilhar os deuses do Egito (Ex 12.12):

1.        Águas em sangue

2.        Rãs

3.        Piolhos

4.        Moscas

5.        Peste nos animais

6.        Úlceras

7.        Chuva de pedras

8.        Gafanhotos

9.        Trevas

10.    Morte dos primogênitos

 Na décima praga, o Exterminador passou pelas casas dos egípcios, mas poupou os primogênitos de Israel. Como? O sangue do cordeiro pascal foi aspergido nos batentes das portas (hoje diríamos: no “caixão das portas”), e o Senhor passou por cima dessas casas.

A palavra hebraica para Páscoa (pesah) significa justamente isso: “passar por cima” ou “poupar”.

Se alguém lhe perguntar como surgiu a festa da Páscoa, a resposta correta é: a Páscoa é a celebração da libertação do povo de Israel da escravidão do Egito, pelo poder de Deus.

 Nomes da festa na Bíblia:

·  “A Páscoa do Senhor” (Êx 12.11, 27)

·  “A festa dos pães asmos” (Lv 23.6; Lc 22.1)

·  “O dia dos pães asmos” (At 12.3; 20.6)

Como era celebrada a Páscoa?

“No entardecer do dia 14 de Nisã (Abibe), os cordeiros da páscoa eram mortos. Depois de assados, eram comidos com pães asmos e ervas amargas (Êx 12.8), enfatizando a necessidade de uma saída apressada e relembrando a amarga escravidão no Egito” (EHTIC, vol. III, p. 101).

A refeição pascal consistia em:

·       Cordeiros de 1 ano (sem defeito),

·       Pães asmos (sem fermento),

·       Ervas amargas (v.8), lembrando a opressão.

 E como deveriam ser comidos? (v.11)

“Ao comerem, estejam prontos para sair: cinto no lugar, sandálias nos pés e cajado na mão. Comam apressadamente. Esta é a Páscoa do SENHOR” (NVI).

A celebração, portanto, tinha um caráter memorial e pedagógico — era o lembrete anual da salvação providenciada por Deus.

 E no Novo Testamento?

Diante da afirmação bíblica de que a Páscoa seria um "estatuto perpétuo" (Ex 12.14,17), como a entendemos agora, no tempo da graça?

A resposta é: celebramos a Páscoa, sim, mas sob a Nova Aliança — a Páscoa Cristã!

Na última ceia, Jesus celebrou a antiga Páscoa e, ao mesmo tempo, instituiu a nova (Leia Marcos 14.12-17, 22-26).

 Segundo Barclay (Bíblia Vida Nova), os elementos da ceia pascal judaica incluíam:

·       O cordeiro pascal, lembrando a proteção do sangue no Egito (Êx 12);

·       Pães asmos, sinal da pressa na saída;

·       Água salgada, representando lágrimas e o Mar Vermelho;

·       Ervas amargas, a amargura da escravidão;

·       Sopa de frutas, a obrigação de fazer tijolos;

·       Quatro cálices de vinho, simbolizando as promessas de Êxodo 6.6-7.

 Jesus e os discípulos celebraram essa ceia (Mc 14.17). E ali, Ele reinterpretou os elementos, apontando para Si mesmo: “Isto é o meu corpo” (Mc 14.22), “Isto é o meu sangue, o sangue da nova aliança, derramado em favor de muitos” (Mc 14.24; cf. Êx 24.6-8)

 João Batista o havia anunciado: “Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo” (Jo 1.29, 36). Jesus é o nosso verdadeiro Cordeiro Pascal (1 Co 5.7).

 Conclusão

Nem ovos de chocolate, nem coelhinho, nem ervas amargas. A Páscoa é a celebração da morte e ressurreição de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo.

Na Nova Aliança, a Páscoa se cumpre em Cristo. Celebramo-la, de modo especial, todas as vezes que participamos da Ceia do Senhor.

 Agora, os elementos são outros:

·       Pão, simbolizando o Seu corpo oferecido por nós;

·       Vinho, representando o Seu sangue derramado — pois “sem derramamento de sangue, não há remissão” (Hb 9.22; cf. Mt 26.28; Ef 1.7).

 

A Ceia é um memorial:

1.        Do passado: o sacrifício de Cristo por nossos pecados;

2.        Do presente: nossa comunhão com Ele e com os irmãos;

3.        Do futuro: nossa viva esperança, pois anunciamos a Sua morte “até que Ele venha”.

 A Ceia é também um meio de graça:

“Porventura, o cálice da bênção que abençoamos não é a comunhão do sangue de Cristo? O pão que partimos não é a comunhão do corpo de Cristo?  17 Porque nós, embora muitos, somos unicamente um pão, um só corpo; porque todos participamos do único pão.” (1 Coríntios 10.16-17). Significa a benção da comunhão espiritual com Cristo, bem como com nossos irmãos.*

 A mensagem central da Páscoa permanece a mesma:

Pesah — “passar por cima”, “poupar”. Libertação por meio do Cordeiro.

“Pois ele nos resgatou do domínio das trevas e nos transportou para o Reino do seu Filho amado, em quem temos a redenção, a saber, o perdão dos pecados.” (Cl 1.13-14, NVI)

Soli Deo Gloria

 

* Sobre a presença espiritual de Cristo na Santa Ceia veja esse outro meu artigo: https://e-missional.blogspot.com/2018/07/calvino-e-presenca-espiritual-de-cristo.html 

 

Pr. Robson Rosa Santana

Fontes de pesquisa (além da Bíblia):

  • Buckland, Dicionário Bíblico Universal, Editora Vida.
  • W. E. Elwell (ed.), Enciclopédia Histórico-Teológica da Igreja Cristã, Edições Vida Nova.
  • Gabriela Sampaio, “O Coelho da Páscoa”, em: http://www.msn.com.br/homem/classicos/Default.asp (acesso em 27 de março de 2005)

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Você pode comentar aqui se quiser