Introdução
Nos
dias atuais, a Páscoa tornou-se, para muitos, apenas uma data comercial. É
comum vermos a troca de ovos de chocolate — um costume que tem suas raízes no
folclore pagão relacionado ao início da primavera no hemisfério norte (Europa).
Nesse
contexto, surge também a figura do coelho. Sua origem remonta ao culto à deusa
anglo-saxã da luz, chamada Eostre, cujo animal sagrado era uma lebre. Em
algumas representações, essa deusa aparece com cabeça de coelho, reforçando o
símbolo da fertilidade — tanto os ovos quanto os coelhos têm esse significado e
são de origem pagã.
Da
tradição católica romana, herdou-se o costume de comer peixe, especialmente o
bacalhau, durante a Semana Santa. Práticas assim, por meio de um “jeitinho
religioso”, foram sendo inseridas dentro da narrativa da celebração bíblica.
Mas eu
insisto: qual é o verdadeiro significado da Páscoa?
Para nós, cristãos evangélicos — e, em especial, dentro de uma perspectiva
reformada — o que ela representa?
Contexto Bíblico
O
texto de Êxodo 12 descreve a instituição da Páscoa por Deus, no meio de Seu
povo, Israel.
O
livro de Gênesis termina com a história de José, vendido como escravo ao Egito,
mas que, pela providência soberana de Deus, interpreta o sonho do faraó (das
sete vacas magras e sete gordas) e torna-se o segundo homem mais poderoso do
Egito.
Como
governador, José organiza o armazenamento de cereais durante os anos de
fartura. Quando chega o tempo da escassez, povos vizinhos vêm ao Egito comprar
alimento — inclusive sua própria família, que passa a viver ali, cerca de 70
pessoas ao todo.
Com o
tempo, José morre e se levanta um novo faraó que não conhecia sua história.
Assim, o povo de Israel é subjugado e feito escravo por 430 anos.
Deus,
ouvindo o clamor de Seu povo, levanta Moisés para libertá-los. Moisés, um
hebreu criado como príncipe egípcio, confronta o faraó sob a ordem divina:
“Deixa o meu povo ir.” O faraó resiste, e então o Senhor envia dez pragas para
humilhar os deuses do Egito (Ex 12.12):
1.
Águas em sangue
2.
Rãs
3.
Piolhos
4.
Moscas
5.
Peste nos animais
6.
Úlceras
7.
Chuva de pedras
8.
Gafanhotos
9.
Trevas
10.
Morte dos primogênitos
A
palavra hebraica para Páscoa (pesah) significa justamente isso: “passar
por cima” ou “poupar”.
Se
alguém lhe perguntar como surgiu a festa da Páscoa, a resposta correta é: a
Páscoa é a celebração da libertação do povo de Israel da escravidão do Egito,
pelo poder de Deus.
Nomes da festa na Bíblia:
· “A
Páscoa do Senhor” (Êx 12.11, 27)
· “A
festa dos pães asmos” (Lv 23.6; Lc 22.1)
· “O
dia dos pães asmos” (At 12.3; 20.6)
Como era celebrada a Páscoa?
“No
entardecer do dia 14 de Nisã (Abibe), os cordeiros da páscoa eram mortos.
Depois de assados, eram comidos com pães asmos e ervas amargas (Êx 12.8),
enfatizando a necessidade de uma saída apressada e relembrando a amarga
escravidão no Egito” (EHTIC, vol. III, p. 101).
A
refeição pascal consistia em:
·
Cordeiros de 1 ano (sem defeito),
·
Pães asmos (sem fermento),
·
Ervas amargas (v.8), lembrando a
opressão.
“Ao
comerem, estejam prontos para sair: cinto no lugar, sandálias nos pés e cajado
na mão. Comam apressadamente. Esta é a Páscoa do SENHOR” (NVI).
A
celebração, portanto, tinha um caráter memorial e pedagógico — era o lembrete
anual da salvação providenciada por Deus.
E no Novo Testamento?
Diante
da afirmação bíblica de que a Páscoa seria um "estatuto perpétuo" (Ex
12.14,17), como a entendemos agora, no tempo da graça?
A
resposta é: celebramos a Páscoa, sim, mas sob a Nova Aliança — a Páscoa
Cristã!
Na
última ceia, Jesus celebrou a antiga Páscoa e, ao mesmo tempo, instituiu a nova
(Leia Marcos 14.12-17, 22-26).
·
O cordeiro pascal, lembrando a proteção do
sangue no Egito (Êx 12);
·
Pães asmos, sinal da pressa na saída;
·
Água salgada, representando lágrimas e o Mar
Vermelho;
·
Ervas amargas, a amargura da escravidão;
·
Sopa de frutas, a obrigação de fazer tijolos;
·
Quatro cálices de vinho, simbolizando as
promessas de Êxodo 6.6-7.
Conclusão
Nem
ovos de chocolate, nem coelhinho, nem ervas amargas. A Páscoa é a celebração
da morte e ressurreição de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo.
Na
Nova Aliança, a Páscoa se cumpre em Cristo. Celebramo-la, de modo especial,
todas as vezes que participamos da Ceia do Senhor.
·
Pão, simbolizando o Seu corpo oferecido
por nós;
·
Vinho, representando o Seu sangue
derramado — pois “sem derramamento de sangue, não há remissão” (Hb 9.22; cf. Mt
26.28; Ef 1.7).
A
Ceia é um memorial:
1.
Do passado: o sacrifício de Cristo por nossos
pecados;
2.
Do presente: nossa comunhão com Ele e com os
irmãos;
3.
Do futuro: nossa viva esperança, pois anunciamos
a Sua morte “até que Ele venha”.
“Porventura,
o cálice da bênção que abençoamos não é a comunhão do sangue de Cristo? O pão
que partimos não é a comunhão do corpo de Cristo? 17 Porque nós, embora muitos, somos unicamente
um pão, um só corpo; porque todos participamos do único pão.” (1 Coríntios
10.16-17). Significa a benção da comunhão espiritual com Cristo, bem como com nossos
irmãos.*
Pesah
— “passar por cima”, “poupar”. Libertação por meio do Cordeiro.
“Pois
ele nos resgatou do domínio das trevas e nos transportou para o Reino do seu
Filho amado, em quem temos a redenção, a saber, o perdão dos pecados.” (Cl
1.13-14, NVI)
Soli Deo Gloria
* Sobre a presença espiritual de Cristo na Santa Ceia veja
esse outro meu artigo: https://e-missional.blogspot.com/2018/07/calvino-e-presenca-espiritual-de-cristo.html
Pr. Robson Rosa
Santana
Fontes de pesquisa
(além da Bíblia):
- Buckland, Dicionário Bíblico Universal,
Editora Vida.
- W. E. Elwell (ed.), Enciclopédia
Histórico-Teológica da Igreja Cristã, Edições Vida Nova.
- Gabriela Sampaio, “O Coelho da Páscoa”, em: http://www.msn.com.br/homem/classicos/Default.asp
(acesso em 27 de março de 2005)
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