31 de outubro de 2024

Reformas na história do povo de Deus e na nossa vida (2 Crônicas 29.1-10)

Introdução

Com o tempo, quase tudo precisa de uma reforma: casa, carro, até mesmo nosso guarda-roupa. Nossa vida espiritual não é diferente. Em nossa jornada cristã, enfrentamos períodos de apatia ou até de envolvimento com as coisas deste mundo, e, como resultado, há uma necessidade de restaurar e renovar nosso relacionamento com Deus.

Como exemplo bíblico desse fato, Asafe relata no Salmo 73, “quase me resvalaram os pés” porque ele estava olhando para a prosperidade dos ímpios. Ele reconheceu o perigo de tirar os olhos do Senhor.

Ao refletir sobre 2 Crônicas 29, onde se fala da reforma religiosa realizada pelo rei Ezequias em Judá, veremos também outras reformas que ocorreram na história bíblica, na história da Igreja e em nossas próprias vidas.

Contexto

Esse texto nos apresenta o rei Ezequias, um dos maiores reformadores da história bíblica, que buscou restaurar o verdadeiro culto ao Senhor. O reinado de seu pai, Acaz, foi marcado pelo abandono da adoração a Deus, conforme a Lei de Moisés, substituindo-a pela idolatria e culto aos deuses de Damasco, num pragmatismo que desagradou profundamente ao Senhor:

 “No tempo da sua angústia, cometeu ainda maiores transgressões contra o Senhor; ele mesmo, o rei Acaz. Pois ofereceu sacrifícios aos deuses de Damasco, que o feriram, e disse: Visto que os deuses dos reis da Síria os ajudam, eu lhes oferecerei sacrifícios para que me ajudem a mim. Porém eles foram a sua ruína e a de todo o Israel” (2 Crônicas 28:22-23).

Como resultado dessa apostasia, a ira e o juízo de Deus vieram sobre Judá e Jerusalém (2 Crônicas 29:8-9). Esse exemplo nos lembra de que a rebeldia e o afastamento de Deus têm consequências sérias. Mas, pela graça de Deus, Ele sempre levanta homens e mulheres dispostos a reformar e renovar o Seu povo.

Desenvolvimento

Já no início de seu reinado, Ezequias deu o primeiro passo para restaurar o culto a Deus (v.3), purificando o templo e restaurando o culto segundo a Palavra. Do capítulo 29 ao 31, encontramos detalhes dessas reformas.

Aplicação: Não cabe ao homem inventar formas de cultuar a Deus. O culto é regulado pela Palavra e deve ser teocêntrico, tendo Deus como o centro e a sua glória como o propósito maior.

Exemplos de Reformas na História Bíblica e Eclesiástica

1. Esdras e Neemias – Após o exílio, estes líderes conduziram o povo a uma restauração da vida religiosa, conforme a Lei de Moisés. Essa reforma era um retorno aos fundamentos da fé e à adoração ao único Deus.

2. Jesus Cristo – Quando Jesus veio, Ele também trouxe uma reforma. Ele declarou: “Não vim revogar a lei, mas cumprir” (Mateus 5:17), e condenou a adição de tradições e cargas humanas que afastavam o povo de Deus, como em Mateus 23:13 e 11:28, oferecendo o verdadeiro descanso que a Lei apontava.

3. Reforma Protestante – No século XVI, homens como Lutero, Zwinglio, Calvino, Farel e Knox se levantaram para reformar uma igreja que havia se desviado das Escrituras. Os reformadores proclamaram os princípios: Sola Scriptura, Sola Fide, Sola Gratia, Solus Christus, e Soli Deo Gloria.

Aplicação: A Necessidade de Reformas Pessoais

Assim como as reformas religiosas foram necessárias no passado, nossa vida espiritual também precisa de constante renovação e reforma. É comum que nos afastemos do propósito de Deus, e precisamos buscar sempre um retorno à Sua Palavra.

1 Timóteo 4:1-3 fala de tempos em que alguns abandonariam a fé e seguiriam doutrinas de demônios. Não é diferente em nossos dias. Reformar nossa vida significa voltar para Deus e deixar que Sua Palavra seja o nosso guia.

Reformas Necessárias na Nossa Vida

1. Santificação (v.4-5): “Trouxe os sacerdotes e os levitas, reuniu-os na praça leste e lhes disse: — Escutem, levitas! Santifiquem agora a si mesmos e santifiquem a Casa do Senhor, Deus de seus pais. Tirem do santuário tudo o que é impuro”

Ezequias instruiu os sacerdotes a se purificarem e purificarem o templo, removendo toda a imundícia. Muitos cristãos ainda justificam sua falta de santidade por causa da sua personalidades ou das circunstâncias. No entanto, Hebreus 12:14 é claro: “Segui a paz com todos e a santificação, sem a qual ninguém verá o Senhor.”

2. Fidelidade (v.6a): “Porque nossos pais foram infiéis e fizeram o que era mau aos olhos do Senhor, nosso Deus, e o abandonaram.”

Os antepassados do povo haviam feito o que era mal, abandonando o Senhor. É uma chamada para sermos fiéis à aliança com Deus e aos princípios bíblicos.

3. Comunhão e Adoração (v.6b): “Desviaram o seu rosto do tabernáculo do Senhor e lhe viraram as costas.”

Muitos deixam de congregar, distanciando-se da comunhão e do ensino. O autor de Hebreus nos adverte a não abandonar a congregação, e a Palavra nos encoraja a edificar uns aos outros.

4. Apreço pela Palavra de Deus (v.7b): “apagaram as lâmpadas”.

Ezequias viu que as lâmpadas que deviam queimar diante de Deus estavam apagadas. Isso reflete uma vida sem direção bíblica. Como afirma o Salmo 119:105, “Lâmpada para os meus pés é a tua palavra e, luz para os meus caminhos.”

5. Vida de Oração (v.7c): “não queimaram incenso”.

A oração é o incenso que sobe ao trono de Deus. O salmista diz, em Salmo 141:2, “Suba à tua presença a minha oração, como incenso.” Devemos fazer da oração o primeiro e não o último recurso em nossa vida.

6. Consagração (v.7d): “nem ofereceram holocaustos no santuário ao Deus de Israel.”

Ezequias notou a falta de holocaustos, que simbolizavam o sacrifício e a entrega a Deus. Em Romanos 12:1, Paulo nos chama a sermos sacrifícios vivos. Precisamos viver uma vida de total consagração ao Senhor.

No versículo 10, Ezequias declara: “Agora estou decidido a fazer uma aliança com o Senhor.” E nós, estamos dispostos a fazer o mesmo? O que precisa ser reformado em sua vida? Hoje é o dia de renovar sua aliança com o Senhor, de pedir a Ele que faça uma reforma completa em você.

Que possamos clamar por um coração reformado, moldado e renovado pela Palavra e pelo Espírito de Deus. 


Robson Santana

Pastor presbiteriano

8 de novembro de 2023

Primeiro Sinal de Jesus em um Casamento (João 2.1-11)

 INTRODUÇÃO

Nosso texto, que registra o primeiro milagre ou sinal de Jesus, deve chamar a atenção do verdadeiro cristão.

Como diz no v.11: “Com este, deu Jesus princípio a seus sinais em Caná da Galileia”.

Há muitas formas de analisarmos um texto bíblico. Na maioria das vezes os pregadores colocam o foco em nós, e são rápidos trazer lições práticas em redor do ser humano.

Vi um sermão de um pastor conhecido que tinha como tema: “A diferença que Jesus faz na família”. Outro tema parecido poderia ser: “A importância que Jesus dá para a família”.

 
Todos esses enfoques são verdadeiros quando olhamos a Bíblia em geral.

Mas o propósito de Jesus ter ido àquela celebração de casamento e ter realizado Seu primeiro lá, tem a ver com a Sua pessoa e obra.

Outro pastor presbiteriano (Rev. Ageu) abordou da seguinte forma: “Por que Jesus transformou água em vinho?”

Como os irmãos verão, vamos abordar alguns detalhes, mas o foco é no sinal que aponta para o próprio realizador do milagre.

Vejamos alguns ensinos que podemos tirar desse texto:

 

1. JESUS MOSTRA A DIGNADADE DO CASAMENTO

A presença de Jesus no casamento foi primeiro ato público de Seu ministério.

Casamento é algo ordenado por Deus para o benefício do ser humano: homem e mulher.

Em nossos tempos o casamento tem sido tratado com muita banalidade.

Muitos se casam sem compreender a seriedade do matrimonio.

A filosofia de muitos é: vou casar, se não der certo a gente separa.

Os registros oficiais de divórcio no Brasil deixam claro isso.

ACIMA DE TUDO HÁ UM FATO QUE JAMAIS PODE SER DESPREZADO: JESUS É O EMANUEL. A presença de Jesus naquele casamento é o fato claro de Deus andando em nosso meio: Jesus é o Deus conosco. O casamento também é uma figura clara da UNIÃO ENTRE JESUS E SEU POVO.

Outra coisa que precisa ser destacada é a resposta de Jesus à pergunta de sua mãe. Maria sabia quem era Seu Filho, que Ele tinha poder para fazer aparecer vinho em todo lugar. Mas Jesus disse com todo amor e carinho por Sua mãe: “não se intrometa nas coisas do Pai”.

Por isso Jesus continua no v.4: “Ainda não é chegada a minha hora.”

Jesus no casamento já falava acerca da Sua morte (“minha hora”)

Várias vezes ele falou que não era chegada a Sua hora.

Depois da Ceia, sabendo da proximidade da traição e da Cruz, Ele orou ao Pai:Depois de dizer essas coisas, Jesus levantou os olhos ao céu e disse: — Pai, é chegada a hora. Glorifica o teu Filho, para que o Filho glorifique a ti,
assim como lhe deste autoridade sobre toda a humanidade, a fim de que ele conceda a vida eterna a todos os que lhe deste.”
(
João 17:1,2)

JESUS É O CORDEIRO DE DEUS.


2. HÁ SITUAÇÕES EM QUE A DIVERSÃO E A ALEGRIA SÃO BENÇÃOS DE DEUS

       Fica claro que Jesus não iria num ambiente em reinasse o pecado. Jesus está aqui legitimando uma festa de casamento, que naquela época durava vários dias, alguns falam em até 7 dias de celebração do casamento.

Ec 10.19: “As festas são feitas para rir, o vinho alegra a vida, e o dinheiro dá conta de tudo.”

Como dissemos acima há lugares e ambientes que não são convenientes para os crentes.

Ryle: “o servo de Cristo não tem o direito de entregar a Satanás e ao mundo as recreações inofensivas e atividades que promovem a reunião da família”

A DICA é sempre perguntar: Jesus iria onde estou indo ou estou querendo ir?

Não esqueçamos que estamos sempre na PRESENÇA DE DEUS (coram Deo)


3. O PRIMEIRO SINAL: TRANSFORMAÇÃO DE ÁGUA EM VINHO

Jesus transformou água em vinho. Como orientados por Maria, os garçons pegaram as 6 talhas, cada uma dava e metretas (em torno de 40l).

Toda essa água (c.600l) foi transformada em vinho, e do melhor vinho, como disse o mestre sala.

Nesse sentido o grande destaque é para o poder infinito de Jesus: EL SHADAI.

Jesus foi e continua sendo o Deus Todo-poderoso.

O propósito do milagre/sinal, como está escrito no final do v.11, foi Jesus manifestar a Sua glória para que seus discípulos crescem nEle.

Aqueles que seriam enviados ao mundo para testemunhar de Cristo, precisava, antes de tudo, crer nEle.

 

CONCLUSÃO

Nesse casamento podemos frisar a importância do casamento, da família e das festas e diversões sadias.

MAS O FOCO principal foi revelar quem era Jesus de Nazaré.

Revelar a glória de Jesus. Ele não era apenas o filho de Maria de Nazaré, mas o Deus Filho encarnado, o Mediador entre Deus e os homens.

Jesus é o Deus conosco (Emanuel)

Jesus é o Cordeiro de Deus (que daria sua vida na hora preparada pelo Pai)

Jesus é o Deus Todo-poderoso (El Shadday).

E o que esse texto tem a ver conosco?

1Tm 1:15 “Fiel é a palavra e digna de toda aceitação: que Cristo Jesus veio ao mundo para salvar os pecadores, dos quais eu sou o principal.”


Robson Santana
Pastor presbiteriano

29 de agosto de 2023

Batalha espiritual: o mundo, a carne e o diabo

Texto base: Mateus 13.1-23

Introdução

A Parábola do semeador (Mt 13.1-23) nos apresenta claramente quais são os três inimigos da Palavra de Deus: O diabo, o mundo e a nossa carne.

1. Diabo

O diabo é um anjo que se rebelou contra Deus e caiu de seu estado original. Seu propósito, desde então, é ser inimigo de Deus e dos homens. Desde Adão até o livro de Apocalipse vemos ele agindo na vida das pessoas para levá-las ao pecado e incredulidade. Como ser espiritual invisível, age de forma sorrateira com a intenção de enganar e manipular as pessoas para longe de Deus.

A palavra Satanás vem do hebraico e quer dizer “adversário”; vemos essa forma mais no Antigo Testamento. Diabo, por sua vez, vem do grego e significa “acusador”. Juntamente com ele caíram outros anjos, que formam, assim, um exército do mal. Embora Deus os tenha julgado e reservado para juízo, ele continuar a agir enganando as nações até o dia do juízo final, dia que ele, os demônios e todos os incrédulos, sofreram a punição eterna do inferno de fogo.

a) Devemos resistir ao diabo

Tg 4.7: “Sujeitai-vos, portanto, a Deus; mas resisti ao diabo, e ele fugirá de vós”.

1 Pe 5.7-8: “Sede sóbrios e vigilantes. O diabo, vosso adversário, anda em derredor, como leão que ruge procurando alguém para devorar; resisti-lhe firmes na fé, certos de que sofrimentos iguais aos vossos estão-se cumprindo na vossa irmandade espalhada pelo mundo.”

b) Não demos lugar ao diabo

Ef 4.26-27: “Irai-vos e não pequeis; não se ponha o sol sobre a vossa ira, nem deis lugar ao diabo”.

2. O Mundo

Há três concepções bíblicas para a palavra mundo. Mundo como toda a Terra. Mundo no sentido de pecadores (Joao 3.16). E mundo como um sistema de vida e prática rebelde contra Deus. É nesse sentido que Deus nos diz para não sermos amigos do mundo, nem o amar, como veremos a seguir.

1 Jo 2.15-17: “Não ameis o mundo nem as coisas que há no mundo. Se alguém amar o mundo, o amor do Pai não está nele; porque tudo que há no mundo, a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida, não procede do Pai, mas procede do mundo. Ora, o mundo passa, bem como a sua concupiscência; aquele, porém, que faz a vontade de Deus permanece eternamente”.

Tg 4.4: “Infiéis, não compreendeis que a amizade do mundo é inimiga de Deus? Aquele, pois, que quiser ser amigo do mundo constitui-se inimigo de Deus. Ou supondes que em vão afirma a Escritura: É com ciúme que por nós anseia o Espírito, que ele fez habitar em nós?”
3. A Carne

Assim como a palavra mundo, na Bíblia a palavra carne também tem alguns significados. No sentido que este estudo quer abordar, carne significa uma vida separada do controle do Espírito Santo, a nossa natureza pecaminosa que afetar todo nosso ser, corpo e alma.

a) Não ofereçam o corpo aos prazeres da carne

Rm 6. 12-13: “Não reine, portanto, o pecado em vosso corpo mortal, de maneira que obedeçais às suas paixões; nem ofereçais cada um os membros do seu corpo ao pecado, como instrumentos de iniquidade; mas oferecei-vos a Deus, como ressurretos dentre os mortos, e os vossos membros, a Deus, como instrumentos de justiça”.

b) Façam morrer a natureza terrena

Cl 3.5-6: “Fazei, pois, morrer a vossa natureza terrena: prostituição, impureza, paixão lasciva, desejo maligno e a avareza, que é idolatria; por estas coisas é que vem a ira de Deus sobre os filhos da desobediência.”

c) Andem no Espírito Santo

Gl 5.16-17: “Digo, porém: andai no Espírito e jamais satisfareis à concupiscência da carne. Porque a carne milita contra o Espírito, e o Espírito, contra a carne, porque são opostos entre si; para que não façais o que, porventura, seja do vosso querer.

Conclusão

Como crentes, enquanto estivermos aqui nesse mundo, sempre estaremos envolvidos numa guerra espiritual para assim vivermos em santidade e serviço a Deus. Nosso maior inimigo está dentro de nós, a nossa natureza pecaminosa. Devemos viver em consagração contínua para não satisfazermos a sua vontade.

Devemos também estar alertas a qualquer estilo de vida que o mundo em nosso redor tenta nos impor que seja rebelde contra Deus. Como vimos, não devemos ter amizade ou comunhão com as práticas mundanas pecaminosas.

Por fim, a Palavra de Deus nos dar conta que há um inimigo sutil e experiente (satanás e os demônios) tentando nos seduzir com suas ciladas em nossa mente e coração, bem como usando outras pessoas para fazermos pecar e nos afastar de Deus. Devemos resistir-lhe firmes na fé, pois maior é Deus que está conosco. Em Cristo Jesus somos mais que vencedores (Rm 8.37).

Pr. Robson Santana

29 de março de 2023

O Príncipe, de Maquiavel: uma resenha

MAQUIAVEL, Nicolau. O Príncipe: comentado por Napoleão Bonaparte. Trad. Pietro Nassetti. 7ª reimpressão. São Paulo: Martin Claret, 2010. Original em Italiano: Il Principe (1513-1516).

Niccolò Machiavelli, mais conhecido como Maquiavel, nasceu em Florença, Itália, em 1469. Ele viveu em uma época de mudanças políticas e culturais significativas, marcada por conflitos entre cidades-estado italianas e invasões estrangeiras. Maquiavel passou a maior parte de sua vida como funcionário público em Florença, onde desempenhou vários cargos, incluindo secretário da Segunda Chancelaria, uma posição importante no governo florentino. Maquiavel morreu em 1527, após uma longa doença, deixando para trás uma obra que influenciaria a história do pensamento político até hoje.

Maquiavel é frequentemente retratado como um defensor da amoralidade política, da tirania e da crueldade, mas sua obra é muito mais complexa do que essa imagem simplista sugere, por isso tem sido objeto de inúmeras interpretações e controvérsias, sendo considerada por alguns como uma apologia da tirania e da amoralidade, e por outros como um tratado realista sobre a natureza do poder político.

"O Príncipe" é a obra mais famosa de Maquiavel e considerada uma das obras mais importantes da literatura política ocidental. Foi escrita em 1513, mas publicada pela primeira vez em 1532, cinco após sua morte. Essa obra que se tornou famosa por suas ideias controversas sobre a natureza do poder e da política. O livro não foi escrito para um público geral. Foi dedicado a Lourenço de Médici, membro da família que havia retomado o controle de Florença e que Maquiavel esperava impressionar com suas ideias políticas. O livro é escrito em forma de conselhos para um príncipe fictício, oferecendo orientação sobre como adquirir e manter o poder.

Maquiavel escreveu o livro como um guia para o príncipe ideal, que deveria ter habilidades e características específicas para governar com eficácia e manter seu poder. Maquiavel acredita que a política não pode ser guiada pela moralidade ou pela religião, mas sim pelo realismo e pela prática. Nele Maquiavel argumenta que, em alguns casos, a ética não é suficiente para manter o poder e a estabilidade política. Ele sugere que os líderes devem estar dispostos a fazer o que for necessário para manter o controle, incluindo a manipulação das massas e o uso da violência. Ou seja, os líderes devem ser pragmáticos e adaptáveis às mudanças políticas e sociais.

Ele defende que os governantes devem ser astutos e saber quando agir de forma assertiva e quando adotar uma abordagem mais cautelosa. Segundo Maquiavel, o líder deve ser temido e amado, mas nunca odiado, e deve ser capaz de manter o controle sobre seus subordinados. Para ele, o fim justifica os meios, e o príncipe deve usar todas as ferramentas disponíveis para garantir a estabilidade e a segurança do Estado.

Outro aspecto importante de "O Príncipe" é a distinção entre virtù e fortuna. Virtù é a habilidade, a inteligência e a astúcia do príncipe, enquanto fortuna é a sorte, o acaso ou as circunstâncias inesperadas. Maquiavel acredita que o príncipe deve ser capaz de usar sua virtù para lidar com as mudanças da fortuna e garantir seu poder, ou seja, a capacidade do governante de tomar decisões corajosas e eficazes, bem como a necessidade de manter o favor do povo e da nobreza. Nessa obra, ele também afirma que é melhor ser temido do que amado, porque o medo é mais confiável do que o amor, e o príncipe que é temido não precisa se preocupar com a traição ou a desobediência.

Em suma, “O Príncipe” é uma obra que visa fornecer orientações práticas para os governantes da época, apresentando uma abordagem realista e pragmática da política e do poder. A obra é controversa e tem sido interpretada de várias maneiras ao longo dos anos, mas ainda é considerada uma das obras mais influentes na história da filosofia política.

Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo: um pouco da filosofia do filme


TUDO em todo o lugar ao mesmo tempo. Direção e roteiro: Daniel Scheinert e Daniel Kwan. Produtor Executivo: Tim Headington. Estados Unidos: Diamond Films, 2022. Netflix.

"Tudo em todo lugar ao mesmo tempo” é um filme de ficção científica e comédia de ação dirigido por Dan Kwan e Daniel Scheinert. Retrata a vida sobrecarregada da imigrante chinesa Evelyn Wang (Michelle Yeoh), cuja lavanderia está à beira do fracasso e seu casamento com um marido covarde está em ruínas, enquanto ela luta para sobreviver, incluindo seu relacionamento difícil com seu pai e sua filha (Stephanie Hsu). E como se isso não bastasse, Evelyn deve se preparar para um encontro desagradável com a rígida burocrata Deirdre Beaubeirdre. (Jamie Lee Curtis), uma auditora da Receita Federal americana.

Mas quando um agente implacável perde a calma, uma brecha inexplicável se abre no multiverso, abrindo caminho para uma exploração aberta de uma realidade paralela. Evelyn inicia uma aventura onde ela deve sozinha salvar o mundo e impedir que uma criatura maligna destrua as inúmeras ​​camadas do mundo invisível. Enquanto explora outros universos e outras vidas que poderia ter vivido, as coisas se complicam ainda mais quando ela se vê preso nessa armadilha da possibilidade e incapaz de voltar para casa.

Do ponto de vista filosófico, o filme "Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo" apresenta vários aspectos filosóficos que são explorados ao longo da história. Abaixo estão alguns exemplos:

A natureza da realidade: O filme levanta questões sobre a natureza da realidade e como nossas experiências passadas afetam nossa compreensão do mundo ao nosso redor. A personagem principal começa a questionar a realidade de sua existência e se tudo o que está acontecendo ao seu redor é real ou uma ilusão.

A relação entre tempo e memória: O filme também explora a relação entre tempo e memória e como nossas memórias afetam nossa compreensão do tempo. As cenas são apresentadas em ordem cronológica não linear, o que destaca como nossa memória pode influenciar como vemos o tempo passar.

Identidade pessoal: O filme também questiona a identidade pessoal e a noção do "eu". As várias versões dos personagens principais sugerem que a identidade não é fixa e pode mudar ao longo do tempo.

Solidão e isolamento: A solidão e o isolamento são temas recorrentes no filme. A fazenda isolada onde a história se passa e a sensação constante de que algo não está certo sugerem a sensação de isolamento que pode surgir quando questionamos a natureza da realidade.

O tempo como uma construção humana: O filme sugere que o tempo é uma construção humana e que nossa percepção do tempo pode ser altamente subjetiva. Várias cenas no filme sugerem que o passado, presente e futuro estão todos acontecendo simultaneamente.

Destino e responsabilidade humana: O filme sugere que há um destino maior ou destino que conecta todas as coisas, e que Kuang é um herói que deve salvar o multiverso. Este tema levanta questões sobre o papel do destino e da responsabilidade pessoal em nossas vidas, e se temos controle sobre nossos próprios destinos.

Bem e mal: O filme explora o conflito entre o bem e o mal, e sugere que mesmo os personagens mais maus têm o potencial de redenção. Este tema levanta questões sobre a natureza do bem e do mal, e se esses conceitos são fixos ou sujeitos a mudanças.

A natureza da existência: Por fim, o filme levanta questões mais amplas sobre a natureza da existência e o significado da vida. Em várias cenas, as personagens parecem estar presas em ciclos repetitivos, sugerindo que a existência humana pode ser cíclica e sem sentido. O filme sugere que encontrar um significado na vida pode ser uma tarefa difícil e que a resposta pode ser inalcançável.

Em termos gerais, o filme aborda temas filosóficos complexos e estimula o espectador a questionar sua compreensão do mundo ao seu redor.

24 de fevereiro de 2022

Ficar e servir: por que não fugimos da Ucrânia

Vasyl Ostryi

PHOTOGRAPHY BY ALEX LOURIE OF REDUX PICTURES

Nos últimos dias, os acontecimentos do livro de Ester tornaram-se reais para nós na Ucrânia. É como se o decreto fosse assinado e Hamã tivesse licença para destruir uma nação inteira. A forca está pronta. A Ucrânia está simplesmente esperando.

Você pode imaginar o clima de uma sociedade quando gradualmente, dia após dia, durante meses, a mídia mundial vem dizendo que a guerra é inevitável? Quanto sangue será derramado?

Nas últimas semanas, quase todos os missionários foram instruídos a deixar a Ucrânia. As nações ocidentais evacuaram suas embaixadas e cidadãos. O tráfego na capital de Kiev está desaparecendo. Para onde foi o povo? Oligarcas, empresários e aqueles que podem pagar estão saindo, salvando suas famílias de uma guerra em potencial. Devemos fazer o mesmo?

Questões Familiares

Minha esposa e eu decidimos permanecer em nossa cidade perto de Kiev. Queremos servir as pessoas aqui junto com a Irpin Bible Church, onde me juntei à equipe pastoral em 2016. Antecipando o desastre, compramos um suprimento de alimentos, remédios e combustível para que, se necessário, sejamos capaz de ajudar os necessitados em vez de sobrecarregá-los.

Somos uma família de seis. Estamos criando quatro filhas. O que mais me preocupa é meu filho de 16 anos que viaja para a faculdade todos os dias por uma hora e meia, só ida, de transporte público. A mídia adverte que, se a Rússia invadir, as comunicações móveis serão perdidas e o transporte público provavelmente entrará em colapso. Felizmente, suas aulas agora estão online.

Como a fronteira com a Bielorrússia (Belarus) fica a apenas 150 quilômetros (92 milhas) de Kiev, uma das opções possíveis para um ataque inimigo é através da Bielorrússia. A mídia local está recomendando que façamos uma mala de emergência. Eu disse aos meus filhos: “Arrume suas mochilas. Embale coisas suficientes para três dias.”

No passado, essa bagagem significava que estávamos saindo de férias ou uma viagem divertida. Então, nossos filhos mais novos, de 6 e 8 anos, perguntam: “Pai, para onde vamos?” No começo, eu não sabia o que responder. Eu disse a eles que não vamos a lugar nenhum.

Resposta da Igreja

Como a igreja deve responder quando há uma crescente ameaça de guerra? Quando há medo constante na sociedade? Estou convencido de que se a igreja não é relevante em tempos de crise, então não é relevante em tempos de paz.

Como país, passamos por isso já em 2014. Naqueles dias, muitas igrejas apoiaram ativamente aqueles que se rebelaram contra o regime corrupto e autoritário de Viktor Yanukovych. Havia uma tenda de oração na Praça da Independência. Os cristãos distribuíram refeições quentes e chá quente. As igrejas abriram suas portas como abrigo para manifestantes perseguidos pelas forças de segurança.

Enquanto isso, havia igrejas que apoiavam abertamente o regime do ditador e criticavam os manifestantes. Outras igrejas tentaram ignorar o elefante na sala. Ficaram calados sobre o problema e viveram como se nada estivesse acontecendo.

No final, as igrejas que se distanciaram das questões sociais e as que apoiaram os governantes corruptos sofreram perdas de reputação entre a população da Ucrânia. Por outro lado, as igrejas que estiveram com as pessoas durante os tempos de prova receberam a maior confiança da sociedade.

Nossa luta pela nação

Acreditamos que a igreja é um lugar de luta espiritual. À medida que as tensões aumentaram, nossa igreja anunciou uma semana de jejum e oração, reunindo-se todas as noites para levar nossos pedidos a Deus. Por três dias seguidos, as luzes foram apagadas na cidade. Fomos forçados a nos encontrar no escuro, acrescentando uma atmosfera solene às nossas orações pela paz.

No final da semana, esses momentos produziram em nós uma força interior para perseverar. Por meio de orações comunitárias, ganhamos confiança e paz. Acreditamos que Deus está conosco, e isso é o mais importante.

Durante este momento crítico, nossa igreja, que tem cerca de 1.000 pessoas participando em um domingo normal, também é um local de culto. Recentemente, realizamos vários treinamentos sobre primeiros socorros. As pessoas estão aprendendo a aplicar um torniquete, parar o sangramento, aplicar bandagens e controlar as vias aéreas. Esses leigos não vão se tornar médicos, mas isso lhes deu confiança para cuidar de seus vizinhos, se necessário.

Na verdade, quando anunciei o treinamento de primeiros socorros, um irmão me disse: “Agora sei por que preciso ficar na Ucrânia”. Ele havia planejado partir. Ele sabia que não era um soldado. Ele não foi capaz de pegar em armas e lutar. Mas agora ele quer ficar, ajudar os feridos e salvar vidas.

Se necessário, as dependências da igreja podem ser transformadas em abrigo. Temos um bom porão. Estamos prontos para implantar uma estação de aquecimento, bem como fornecer um local para um hospital militar. Para tornar isso realidade, estamos criando equipes de resposta. Se a lei marcial for declarada, eles estarão prontos com um suprimento estratégico de combustível, comida e material para curativos. Até reunimos informações sobre quem na igreja são médicos, mecânicos, encanadores – até quem tem poços em caso de falta de água.

Permanecendo e Orando

Decidimos ficar, tanto como família quanto como igreja. Quando isso acabar, os cidadãos de Kiev se lembrarão de como os cristãos responderam em seu momento de necessidade.

E embora a igreja não lute como a nação, ainda acreditamos que temos um papel a desempenhar nessa luta. Vamos abrigar os fracos, servir os sofredores e consertar os quebrados. E ao fazê-lo, oferecemos a esperança inabalável de Cristo e seu evangelho. Embora possamos nos sentir impotentes diante de tal crise, podemos orar como Ester. A Ucrânia não é o povo da aliança de Deus, mas, como Israel, nossa esperança é que o Senhor remova o perigo como fez com seu povo antigo. E enquanto ficamos, oramos para que a igreja na Ucrânia confie fielmente no Senhor e sirva nossos vizinhos.

 

Vasyl Ostryi é pastor da Irpin’ Bible Church (Igreja Bíblica Irpin’) e professor de ministério de jovens no Kyiv Theological Seminary (Seminário Teológico de Kiev).

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Título original: To Stay and Serve: Why We Didn’t Flee Ukraine
URL do original: https://www.thegospelcoalition.org/article/church-stayed-ukraine/
Acesso: 24/02/2022
Tradução: Pr. Robson Santana (Igreja Presbiteriana do Brasil)

3 de junho de 2021

Do sofrimento à glória: ensinos do ministério de Cristo (1 Pedro 3.18-22)

     

     Texto bíblico - Nova Almeida Atualizada - NAA

"Pois também Cristo padeceu, uma única vez, pelos pecados, o justo pelos injustos, para conduzir vocês a Deus; morto, sim, na carne, mas vivificado no espírito, no qual também foi e pregou aos espíritos em prisão, os quais, noutro tempo, foram desobedientes, quando Deus aguardava com paciência nos dias de Noé, enquanto se preparava a arca, na qual poucas pessoas, apenas oito, foram salvas através da água. O batismo, que corresponde a isso, agora também salva vocês, não sendo a remoção das impurezas do corpo, mas o apelo por uma boa consciência para com Deus, por meio da ressurreição de Jesus Cristo, que, depois de ir para o céu, está à direita de Deus, ficando-lhe subordinados anjos, potestades e poderes."

 Introdução

O apóstolo Pedro vinha falando sobre como os cristãos deveriam entender e reagir ao sofrimento. O nosso texto dos versos 18 a 22 mostra uma continuidade e descontinuidade com o texto anterior. Continuidade porque continua falando sobre sofrimento, mas, ao mesmo tempo, há uma descontinuidade porque os sofrimentos de Jesus são incomparáveis, é o cumprimento da Sua obra salvadora planejada desde a eternidade.

 Podemos ver nesse texto quatro divisões claras:

1) Cristo morto e vivificado (3.18)

2) Pregação aos espíritos em prisão (3.19,20a)

3) O dilúvio como tipo do batismo dos crentes em Cristo (20b,21a)

4) Ressureição, ascensão e autoridade de Jesus sobre os espíritos (3.21b,22)

 Neste texto Pedro traz seu relato da obra de Cristo, no entanto, é preciso ressaltar esse texto possui muitas dificuldades de interpretação. É um dos textos mais difíceis de compreender. Não vou abordar os diferentes modos de entendê-lo, mas trazer a interpretação mais comum entre especialistas reformados.

 

1. Cristo morto e vivificado (3.18)

“Pois também Cristo padeceu, uma única vez, pelos pecados, o justo pelos injustos, para conduzir vocês a Deus; morto, sim, na carne, mas vivificado no espírito”.

Quatro ensinos maravilhosos se desenvolvem nesse verso:

Primeiro, “Cristo padeceu”. O verbo padecer aqui é um eufemismo para a morte. De modo claro e direto, o ministério principal de Jesus foi morrer pelos pecadores eleitos. Quando diz que foi “uma única vez” é porque na antiga aliança o sumo sacerdote entrava no lugar mais sagrado do templo, o Santo dos Santos, e fazia a aspersão do sangue de animais sacrificados para expiação do pecado do povo (Lv 16.3–34; Hb 9.7,25), assim também Jesus, como o Cordeiro de Deus, sofreu pelos pecados de seu povo de uma vez por todas (Hb 7.27; 9.26,28; 10.10,14).

Em segundo lugar, Pedro fala acerca de uma das verdades mais essenciais das Escrituras, a justificação. Ele diz que Jesus Cristo levou sobre si os pecados de pessoas injustas. Ou seja, por sua graça e amor Ele sofreu injustamente em nosso lugar, pois somente o seu sacrifício na cruz é que possibilita ao pecador ser salvo, nada mais. Nem um outro meio ou qualquer obra humana pode contribuir para a salvação do pecador. Como Deus é justo, Ele não poderia deixar punir os pecadores, mas como Ele cheio de graça, Jesus se ofereceu em nosso lugar. Como escreveu Paulo em 2 Coríntios 5.21: “Aquele que não conheceu pecado, Deus o fez pecado por nós,  para que, nele, fôssemos feitos justiça de Deus”.

Em terceiro lugar, aprendemos nesse verso 18 que a morte de Jesus, como ventilei antes, é a única possibilidade do ser humano ter acesso a Deus, restabelecendo, assim, um relacionamento pessoal com Ele. Como diz Simon Kistemaker: “Ao remover o pecado como causa de nossa alienação em relação a Deus, Jesus oferece acesso a Deus e nos torna aceitáveis aos seus olhos” (2006, p.191).

Por fim, Pedro faz o contraste entre a morte e ressurreição de Jesus: “morto, sim, na carne, mas vivificado no espírito”. As dificuldades do texto começam por aqui. Qual o significado para palavra “espírito”. Será que fala do espírito humano de Jesus ou do Espírito (com letra maiúscula) referindo ao Espírito Santo? Algumas traduções trazem as duas formas. Como é possível resolver essa questão? Observando alguns pressupostos teológicos podemos dizer que não se refere ao espírito de Cristo, pois, como é claro nas Escrituras, o espírito não morre, ou seja, é imortal. E como os verbos morto e vivificado estão na voz passiva, é possível deduzir que foi um agente externo que o vivificou. E como Pedro diz que o agente foi o espírito, compreendemos que se refere ao Espírito Santo.

 

2. Pregação aos espíritos em prisão (3.19,20a)

no qual também foi e pregou aos espíritos em prisão, os quais, noutro tempo, foram desobedientes, quando Deus aguardava com paciência nos dias de Noé, enquanto se preparava a arca”

As dificuldades de interpretação continuam pelo verso 19. Como disse D. Edmond Hiebert, em First Peter (p.226): “Cada uma das nove palavras no original já foi compreendida de diferentes maneiras”. Como disse antes, não vou me ater as possibilidades de interpretação, mas trazer a que entendo ser a mais plausível.

 “No qual” é uma continuação do verso anterior, que faz referência ao Espirito. Assim, começando a tentar explicar esse verso podemos dizer que por meio do Espírito Santo Jesus pregou aos espíritos em prisão. O que o Cristo ressurreto pregou? E quem são esses espíritos?

Como alguns pensam, Jesus não foi pregar no inferno, onde estão as almas dos pecadores rebeldes contra Deus. Baseado em Apocalipse 20.7, 2 Pedro 2.4 e Judas 6, os únicos espíritos que estão em prisão são os anjos caídos, melhor identificados como demônios.

Como sabemos, a obra redentora de Jesus não alcança os anjos caídos. O que Jesus pregou a eles então? Jesus pregou sua vitória sobre seus adversários. Cremos que Colossenses 2.15 nos ajuda a compreender assim: “E, despojando os principados e as potestades, publicamente os expôs ao desprezo, triunfando sobre eles na cruz”. Além disso, fica claro na Bíblia que a esperança de salvação em Cristo se dá enquanto as pessoas têm vida. Afirmou muito bem Kistemaker: “Quando se fecha a cortina entre o tempo e a eternidade, o destino do ser humano está selado e o período da graça e do arrependimento chegou ao fim” (2006, p.196). Resumindo: após sua morte e ressurreição, Jesus foi e pregou aos demônios sua vitória na cruz sobre eles.

Ainda o verso 20 diz: quando Deus aguardava com paciência nos dias de Noé. A paciência de Deus durou 120 anos antes da chegada do dilúvio e destruição da humanidade, com exceção da família de Noé. Na verdade, desde Adão até o dilúvio Deus exerceu sua longanimidade. Mas como a humanidade, mas do que nunca, estava dominada por esses espíritos imundos, apenas 8 pessoas foram salvas, Noé e sua esposa, seus filhos Sem, Cam e Jafé e as esposas de cada um deles.

 

3. O dilúvio como tipo do batismo dos crentes em Cristo (20b,21a)

“na qual poucas pessoas, apenas oito, foram salvas através da água. O batismo, que corresponde a isso, agora também salva vocês, não sendo a remoção das impurezas do corpo, mas o apelo por uma boa consciência para com Deus”.

Aqui Pedro muda de assunto. Mostra que o dilúvio foi um tipo do batismo cristão, que é um símbolo da salvação em Cristo. As águas que afogaram quase toda a humanidade, foram as mesmas que fizeram boiar a arca, salvando a família de Noé. “O livramento de Noé das águas do dilúvio é visto como uma prefiguração e um símbolo do evento salvífico do batismo” (Müller, vol. 3, p. 906).

Sabemos que as águas naturais não salvam ou purificam as almas dos pecadores. Nos dois casos – Noé e Igreja – quem salva é o próprio Deus, através de Cristo Jesus. As águas do dilúvio e do batismo se relacionam da seguinte forma, “assim como as águas do dilúvio limparam a terra da perversidade humana, assim também a água do batismo indica a purificação do ser humano dos pecados” (Kistemaker, 2006, p. 202).

Na sequência Pedro explica que o batismo não é a remoção das impurezas do corpo”. Batismo não se refere a algo externo, pois o sacramento do batismo por si só não salva ninguém. Como ele continua no texto, o batismo é um “apelo por uma boa consciência para com Deus”. O batismo só tem valor como consequência de uma nova mentalidade acerca de Deus, da nossa compreensão como pecadores e do significado da obra de Cristo para nos salvar. Uma vez que a água do batismo aponta para a purificação dos pecados, os que se batizam devem responder com um modo de vida digno do evangelho de Cristo e para a glória do Deus Triúno.

 

4. Ressureição, ascensão e autoridade de Jesus sobre os espíritos (3.21b,22)

“por meio da ressurreição de Jesus Cristo, que, depois de ir para o céu, está à direita de Deus, ficando-lhe subordinados anjos, potestades e poderes”.

Finalizando sua exposição sobre o ministério de Cristo, Pedro continua falando sobre o batismo referindo-se à ascensão de Cristo, seu lugar à direita do Pai e seu autoridade sobre os espíritos. Mais uma vez vemos no Novo Testamento sobre a doutrina fundamental da ressurreição de Jesus, como a aceitação da parte do Pai da sua obra na cruz para salvar o pecador e a garantia da vitória do povo que deposita toda sua fé nele.

À destra de Deus Jesus exerce sua autoridade sobre todo reino espiritual. No final do verso 22 Pedro diz ficando-lhe subordinados anjos, potestades e poderes”. Jesus tem domínio sobre anjos bons e maus. Especialmente, declara vitória sobre as forças espirituais do mal. Como está escrito em 1 Coríntios 15.24, Cristo irá “entregar o reino ao Deus e Pai, quando houver destruído todo principado, bem como toda potestade e poder”.

Em Mateus 22.41-46 Jesus aplica a si mesmo o Salmo 110.1, mostrando que ele seria entronizado e triunfaria sobre seus inimigos: “Disse o Senhor ao meu senhor: “Sente-se à minha direita, até que eu ponha os seus inimigos por estrado dos seus pés.” Como comenta Calvino: “o objetivo de Pedro, pois, é apresentar, por esses títulos supremos, a soberania de Cristo” (2015, p.241).

 

Conclusão

Finalizo esse estudo trazendo um resumo do que foi visto e alguma aplicação prática para nós:

1. O próprio Deus Filho encarnado não ficou sem sofrimento enquanto esteve nesse mundo. E sabemos que padeceu sem ter cometido pecados.

2. Em conexão com a primeira conclusão, Jesus sofreu em nosso lugar, ou seja, por nossa causa, pois nenhum ser humano é capaz de pagar um pecado quer que seja. O justo Jesus padeceu pelos injustos.

3. O sacrifício de Jesus foi único e suficiente. No Antigo Testamento eram oferecidos sacrifícios continuamente. Somente o sacrifício de Jesus é suficiente para pagar pelos pecados de pessoas do mundo inteiro, e de todas as épocas, até a sua segunda vinda. O ser humano não pode contribuir com nada. Somente Cristo tira os pecados.

4. O propósito maravilhoso da sua morte e ressurreição foi nos levar de volta a Deus. Não foi por acaso que quando ele morreu o véu do santuário foi rasgado de alto a baixo (Mt 27.51; Mc 15.38; Lc 23.45). Seu sangue é o novo e vivo caminho que nos leva ao Pai (Hb 10.19-20). Em Cristo temos justificação, reconciliação, filiação, comunhão e acesso a Deus.

5. Se ele sem pecados sofreu por causa das nossas injustiças, por que não deveríamos sofrer com mais resignação? Não poderia usar palavras melhores do que Matthew Henry (2008, v.2, p.875-876) para aplicar a nós:

Se Cristo não ficou isentos de sofrimentos, por que os cristãos deveriam esperar isso?

Se Ele sofreu para expiar os pecados, por que não deveríamos estar satisfeitos se os nossos sofrimentos são só para provação e correção, mas não para expiação?

Se Ele foi ferido sendo perfeitamente justo, por que não seriamos nós, que somos todos culpados?

Se Ele sofreu uma vez, e entrou para a glória, não deveríamos ser pacientes nas dificuldades, pois será somente por um breve tempo e logo o seguiremos para a glória?

Se Ele sofreu, “para levar-nos a Deus”, não deveríamos submeter-nos às dificuldades, visto que elas são tão uteis para nos vivificar em nosso retorno a Deus e no cumprimento dos nossos deveres para com Ele?

 


Rev. Robson Santana
Pastor presbiteriano



PESQUISA:

KISTEMAKER, S. J. (2006). Epístolas de Pedro e Judas. 1a ed. São Paulo, SP: Editora Cultura Cristã.
Henry, Matthew. Atos a Apocalipse. 1 ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2008.
Calvino, J. (2015). Epístolas Gerais. 1 ed.. São José dos Campos, SP: Editora FIEL.
Heinrich Müller, NIDNTT, vol. 3, p. 906.

19 de maio de 2021

10 Coisas que Todo Cristão Deve Saber Sobre o Islã

ZANE PRATT



O Islã é uma religião em rápido crescimento, especialmente no mundo ocidental. Os cristãos precisam cada vez mais estar cientes do Islã e, mais importante, como envolver seus adeptos com o evangelho de Jesus Cristo. Aqui estão 10 coisas que aprendi sobre o Islã durante meus 20 anos como missionário em um país de maioria muçulmana.

1. “Muçulmano” e “Árabe” não são a mesma coisa


“Muçulmano” é um termo religioso. Um muçulmano é alguém que segue a religião do Islã. “Árabe”, ao contrário, é um termo etnolinguístico. Um árabe é um membro do grupo de pessoas que fala a língua árabe. É verdade que o Islã se originou entre os árabes e o Alcorão foi escrito em árabe. No entanto, alguns árabes têm historicamente feito parte das antigas igrejas cristãs ortodoxas. Por outro lado, o Islã se espalhou muito além do mundo árabe, e hoje a maioria dos muçulmanos não é árabe. Isso inclui turcos, curdos, iranianos, paquistaneses, outros muçulmanos do sul da Ásia, malaios e indonésios, quase todos muçulmanos, mas nenhum árabe.

2. A palavra “Islã” significa submissão


Um muçulmano é alguém que se submete a Deus. A concepção islâmica de quem Deus é, e como ele deve ser adorado e servido, é baseada nos ensinamentos de Maomé. Assim, o credo islâmico é: “Não há Deus senão Deus, e Maomé é seu profeta”.


3. Existem duas denominações principais de muçulmanos


As duas principais denominações de muçulmanos são sunitas e xiitas. Os sunitas são a grande maioria, 85% de todos os muçulmanos. A divisão ocorreu na primeira geração após a morte de Maomé e foi baseada em uma disputa sobre quem deveria sucedê-lo como líder da comunidade islâmica.


4. A teologia islâmica pode ser resumida como a crença em um Deus, seus profetas, seus livros, seus anjos, seus decretos e o julgamento final


O Islã ensina que os humanos nascem espiritualmente neutros, perfeitamente capazes de obedecer aos requisitos de Deus completamente, e que permanecem assim mesmo depois de terem pecado pessoalmente. A necessidade da humanidade, portanto, não é salvação, mas instrução; portanto, o Islã tem profetas, mas nenhum salvador.


5. O Islã ensina que Jesus foi um grande profeta


O Islã afirma que Jesus nasceu de uma virgem, que viveu uma vida sem pecado, que realizou milagres poderosos e que voltará no final da história. Até o chama de uma palavra de Deus. No entanto, nega explicitamente a divindade de Cristo e repudia o título “Filho de Deus” como blasfemo. Também (de acordo com a opinião da maioria) nega que ele morreu na cruz, alegando que o rosto de Jesus foi imposto a outra pessoa, que foi então crucificada, e que Jesus foi levado ao céu sem experimentar a morte. O Islã nega explicitamente a possibilidade de expiação substitutiva.


6. A prática islâmica pode ser resumida pelos Cinco Pilares do Islã


Estas são compostas de confissão de fé ("Não há Deus senão Deus, e Maomé é seu profeta"), oração (as orações rituais ditas em árabe cinco vezes por dia enquanto dirige-se a Meca e realiza o conjunto prescrito de inclinações, genuflexões e prostrações), esmolas (considerado um imposto em alguns países oficialmente islâmicos), jejum (o mês lunar do Ramadã, durante o qual os muçulmanos jejuam durante o dia, mas podem comer enquanto está escuro) e peregrinação (o Hajj, ou peregrinação a Meca, que todo crente muçulmano deve fazer uma vez na vida).


7. A grande maioria dos muçulmanos não é terrorista


Na verdade, a lei religiosa islâmica normal proíbe a morte intencional de não combatentes em batalha. Também proíbe o suicídio. É uma visão da pequena minoria que permite essas coisas, e é uma pequena minoria que se envolve em atividades terroristas.


8. Os muçulmanos podem ser algumas das pessoas mais amigáveis ​​e hospitaleiras na Terra


Eles são ótimos vizinhos e grandes amigos. Nenhum cristão deve ter medo de construir um relacionamento com um muçulmano.


9. Os muçulmanos precisam de salvação por meio de Jesus Cristo


Eles estão perdidos exatamente como qualquer outro não-cristão - nem mais nem menos do que qualquer outra pessoa. Além disso, os muçulmanos podem vêm à fé em Jesus Cristo. Geralmente leva tempo e uma exposição prolongada à Palavra de Deus e à vida dos cristãos, mas mais muçulmanos estão aceitando a fé hoje do que em qualquer outro momento da história.


10. Deus ama os muçulmanos, e nós também devemos - mesmo os poucos que são nossos inimigos


Devemos amá-los o suficiente para fazer amizade com eles, amá-los o suficiente para que sejam bem-vindos em nosso lar e amá-los o suficiente para compartilhar o evangelho com eles.



Este artigo foi publicado originalmente na edição do verão de 2013 da Southern Seminary Magazine.

* Zane Pratt atua como vice-presidente de treinamento global para o Junta de Missão Internacional da Convenção Batista do Sul.


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Título original: 10 Things Every Christian Should Know About Islam
URL do original: https://www.thegospelcoalition.org/article/10-things-every-christian-should-know-about-islam/
Acesso: 19/05/2021
Tradução: Pr. Robson Santana (Igreja Presbiteriana do Brasil)
Postado em: www.e-missional.blogspot.com

7 de outubro de 2020

As três frases mais comuns de igrejas moribundas | Thom S. Rainer

Se as igrejas pudessem falar, quais seriam suas palavras em seu leito de morte?

Você não tem que esperar até que uma igreja feche suas portas para ouvir algumas das sentenças que levaram à sua morte. Na verdade, essas três frases, ou algo semelhante às palavras, são difundidas em muitas igrejas.

1. “Nunca fizemos assim antes.” Essa frase se tornou o exemplo clássico de uma igreja que resiste à mudança. Embora nunca devamos mudar ou comprometer as verdades da Palavra de Deus, a maior parte da resistência à mudança é sobre metodologias, preferências e desejos. Infelizmente, essas batalhas geralmente são sobre questões de minúcia. Uma igreja recentemente teve uma batalha sobre o uso de uma tela nos cultos de adoração. Uma matriarca argumentou que o apóstolo Paulo não tinha uma tela de projeção. Acho que Paul estava confortável com seu hinário impresso.

2. “Nosso pastor não visita o suficiente”. As igrejas com essa reclamação geralmente têm expectativas altamente irracionais em relação ao pastor. O pastor poderia visitar os membros 24 horas por dia, 7 dias por semana e ainda não seria o suficiente. Alguns dos membros dessas igrejas comparam a duração e a frequência das visitas pastorais para ver quem está recebendo mais atenção. Essas igrejas estão focadas internamente e estão caminhando para o declínio e, muitas vezes, a morte iminente.

3. “As pessoas sabem onde nossa igreja está se quiserem vir aqui.” Esta frase está repleta de problemas. Primeiro, assume que a igreja é um lugar, que a localização física do prédio da igreja é a igreja. A igreja, trabalhando sob essa suposição errônea, nunca poderá sair de seus muros porque deixará de ser a igreja. Em segundo lugar, essa frase é freqüentemente usada como desculpa para as congregações permanecerem em seus “encontros sagrados” e nunca evangelizar a comunidade. Terceiro, em alguns casos, é uma sentença de encobrimento de preconceito e racismo. A comunidade fora da igreja mudou, mas a igreja não. Os membros da igreja realmente não querem “aquelas pessoas” invadindo sua fortaleza.

Muitas igrejas estão fechando suas portas todos os dias. E os membros dessas igrejas nunca teriam pensado que aquele dia triste chegaria.

Você tem a oportunidade agora de olhar os sinais de alerta em sua igreja. Se essas sentenças, ou alguma variação delas, fizerem parte da linguagem comum de sua congregação, a igreja está em apuros.

Sim, sua igreja pode mudar no poder de Deus. Infelizmente, a maioria dos membros dessas congregações não abrirá mão de suas preferências, confortos e preconceitos pessoais para mudar.

E esse tipo de mentalidade, infelizmente, é um certo caminho para a morte.

Thom S. Rainer

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Original disponível em inglês: The Three Most Common Sentences of Dying Churches
Acesso: 07 out. 2020.
Tradução: Google tradutor (Revisão: Robson Santana)

1 de setembro de 2020

É possível conciliar a fé cristã com a ideologia socialista?


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Vídeo Youtube AQUI

Texto inicial: Lucas 10:29-37 (Parábola do bom samaritano)

O assunto da nossa palestra é sobre a questão da Justiça Social. O que nós, como povo de Deus, devemos pensar e agir para socorrer os pobres, diminuir as desigualdades e lutar por uma sociedade mais justa, menos desigual, menos opressora em relação aos menos favorecidos?

Samuel Sey, no artigo Por que os Cristãos Reformados são Vulneráveis à Justiça Social, afirma que o problema ao tratar do assunto é partir da cultura, em vez das Escrituras. Ou seja, o problema é identificado pelos socialistas, mas os pressupostos e os objetivos para resolver a questão são totalmente diferentes do que ensinam a Palavra de Deus.

 

O pressuposto dos comunistas e socialistas é apenas histórico, material e econômico. O problema da humanidade é resolvido solucionando seus problemas terrenos através de uma reforma política e econômica radicais; através do que chamam de revolução, que normalmente ocorre de forma violenta, na força das armas e com derramamento de sangue.

 

Biblicamente, a busca da justiça social é o desembocar do amor ao próximo que todos os cristãos devem exercitar. Bem como uma ação do Estado, que também foi designado por Deus. Em 1 João 4.20-21 está escrito que não podemos dizer que amamos a Deus, se não amamos ao próximo, aqueles que estão ao nosso redor.

 

O pastor reformado, parlamentar, escritor e ex-Primeiro Ministro da Holanda, Abraham Kuyper (1937-1920), em uma palestra num Congresso para tratar do Problema da Pobreza, disse:

É necessária misericórdia diante da miséria temporal e também diante do sofrimento espiritual de homens cativos a falsos evangelhos, incluindo os evangelhos dos ideais revolucionários e de seus sonhos emancipatórios. (O problema da pobreza, p. 16).

É inegável que existe, e sempre existiu, uma sociedade injusta e até perversa, fundamentada no pecado e no engano, sendo os maiores deles, os pecados da avareza e da ambição desenfreadas.

 

Como já havia observado o Rei Salomão, em Eclesiastes 4.1: “Vi ainda todas as opressões que se fazem debaixo do sol: vi as lágrimas dos que foram oprimidos, sem que ninguém os consolasse; vi a violência na mão dos opressores, sem que ninguém consolasse os oprimidos”. 


No entanto, que é o que queremos argumentar, a “questão social não precisa ser necessariamente resolvida por meio do entendimento socialista” (O problema da pobreza (p. 119).

 

Vejamos, então, a proposta comunista/socialista original, e atual, e analisemos se é possível conciliar a questão da justiça social com a ideologia socialista.

 

No Manifesto Comunista, de Marx e Engels, de 1848, no segundo capítulo do livro, que tem por título PROLETÁRIOS E COMUNISTAS, está escrito:

 O objetivo imediato dos comunistas é o mesmo que o de todos dos demais partidos proletários: constituição do proletário em classe, derrubada da supremacia burguesa, conquista do poder político pelo proletariado. (p.51).

No cerne do pensamento comunista está uma mudança total no status quo das sociedades, ou seja, em tudo que estava estabelecido em termos de riqueza e cultura em geral. Segundo eles, houve a transição do sistema feudal para o burguês, mas isso não mudou muito a situação daqueles que estão com a mão na massa, ou seja, a situação do trabalhador ou proletário.

 

Logo, a mudança proposta por eles se dá de forma radical. Ainda no MANIFESTO COMUNISTA, é dito: “os comunistas podem resumir sua teoria numa única expressão: supressão da propriedade provada” (p.52).

 

No entendimento de Marx e Engels, o sistema de geração de riqueza gerado pelas propriedades privadas só acumulava riqueza para os proprietários. Eles entendiam que o problema humano girava em torno da seguinte situação antagônica (conflitante): o sistema capitalista explora o trabalho assalariado.

 

A ideia, então, era - e é - abolir a propriedade privada para que os trabalhadores (proletários) possam usufruir do capital. Como isso vai acontecer? Através de revoluções armadas. Foi assim na Rússia, China, Coreia do Norte, Cuba, Vietnã, Camboja, etc.

 

Só que, na experiência prática, esse governo do proletariado e em prol do proletariado nunca existiu. No lugar dos burgueses ficaram ditadores e tecnocratas. Em outras palavras, continuaram as desigualdades, e agora sem a iniciativa privada, sem as liberdades políticas, familiares e individuais. O Estado se torna um deus. Seus ditadores seus profetas inquestionáveis; que também deveriam ser venerados e adorados.

 

Outro desdobramento da ideologia comunista é que a ideia de família em seu conceito mais tradicional precisava ser abolida. Será que estou exagerando? Vejamos o que está no MANIFESTO COMUNISTA:

Supressão da família! Até os mais radicais se indignam com esse propósito infame dos comunistas.
[...] Censurai-nos por querermos abolir a exploração das crianças pelos seus próprios pais? Confessamos esse crime.
Dizeis também que destruímos as relações mais intimas, ao substituirmos a educação domestica pela educação social. (p.55)
Para alcançar seus objetivos era preciso “arrancar a educação da influência da classe dominante” (p.55), especialmente no Ocidente (Europa e Américas), o conceito de família está, de alguma forma, condicionado ao que a Bíblia ensina (judaico-cristão).

 

A ideologia socialista não apenas foi colocada em práticas em países comunistas – ontem e hoje – mas também em países democráticos no Ocidente. Por exemplo, A então candidata pelo Partido Democrata nos EUA, Hilary Clinton, advogava que o Estado deveria intervir mais diretamente na criação dos filhos, para inculcar o pensamento liberal e progressista mais à esquerda de seu partido.

 

O que vemos em tudo isso até aqui?

 

Na prática, a ideia comunista é realizada de forma ditatorial pelo Estado, abolindo a propriedade privada, as liberdades individuais, a autonomia das famílias e à própria religião.

 

Segundo escreveu Marx, “a religião é o ópio do povo” (Crítica da Filosofia do Direito de Hegel, 1843). Isso por que esteve atrelada ao sistema anterior, seja feudal, burguês ou capitalista. Logo, a solução é que a religião seja abolida.

 

Não somente isso. A ideia de pátria não existe. Ainda segundo o Manifesto Comunista:

os operários não têm pátria. não se lhes pode tirar aquilo que não possuem. como, porém, o proletariado tem o objetivo conquistar o poder político e elevar-se a classe dirigente da nação, tornar-se ele próprio nação, ele é, nessa medida, nacional, mas de nenhum modo no sentido burguês da palavra.

Logo depois de implantar o comunismo na Rússia, com o assassinato da família real, da dinastia Romanov, o próximo passo foi tentar expandir o comunismo para o resto da Europa. A Polônia estava no caminho. Disseram que iriam implantar o comunismo na Europa - e alhures - mesmo que fosse sobre os cadáveres dos poloneses. Mas nessa batalha foram derrotados. Talvez Marx e Engels não tivessem noção do que iria ocorrer décadas depois quando o comunismo fosse implantado em alguns países.

 

Eles diziam que o capitalismo iria acabar pouco a pouco em globalização. O comunismo iria apressar esse processo:

À medida que for suprimida a exploração do homem pelo homem será suprimida a exploração de uma nação pela outra (p.56).

Como a revolução comunista poderia ser colocada em prática? eles deixaram o passo-a-passo para isso:

Todavia, nos países mais adiantados, as seguintes medidas poderão geralmente ser postas em prática: 

· Expropriação da propriedade latifundiária e emprego da renda da terra em proveito do Estado.
· Imposto fortemente progressivo.
· Abolição do direito de herança.
· Confiscação da propriedade de todas os emigrados e sediciosos.
· Centralização do crédito nas mãos do Estado por meio de um banco nacional com capital do Estado e com o monopólio exclusivo.
· Centralização, nas mãos do Estado, de todos os meios de transporte.
· Multiplicação das fábricas e dos instrumentos de produção pertencentes ao Estado, arroteamento das terras incultas e melhoramento das terras cultivadas, segundo um plano geral.
· Trabalho obrigatório para todos, organização de exércitos industriais, particularmente para a agricultura.
· Combinação do trabalho agrícola e industrial, medidas tendentes a fazer desaparecer gradualmente a distinção entre a cidade e o campo
· Educação pública e gratuita de todas as crianças, abolição do trabalho das crianças nas fábricas, tal como é praticado hoje. Combinação da educação com a produção material, etc. (p.58).

No parágrafo final do Manifesto Comunista, Marx e Engels dizem:

 Os comunistas se recusam a dissimular suas opiniões e seus fins. Proclamam abertamente que seus objetivos só podem ser alcançados pela derrubada violenta de toda a ordem social vigente. Que as classes dominantes tremam à ideia de uma revolução comunista! Nela os proletários nada têm a perder a não ser os seus grilhões. Tem uma munda a ganhar. PROLETÁRIOS DE TODOS OS PAÍSES, UNI-VOS. (p.69).

 

"Qual deve ser a posição e a atitude dos que confessam a religião cristã frente a este movimento socialista?" Pergunta Kuyper (o problema da pobreza, p. 128).

 


1) Os problemas sociais e as desigualdades devem gerar em nós profunda misericórdia

 

Exemplo: Bom samaritano. Dois religiosos passaram longe, mas um samaritano sentiu a dor do outro, comoveu-se, deu assistência necessária imediata e proveu ajuda através de outras pessoas.

 

De fato, Kuyper diz que devemos exercitar o contentamento, como diz Paulo, “Tendo sustento e com que nos vestir, estejamos contentes” (1Tm 6.8). Ao mesmo tempo, podemos simplesmente usar erroneamente as palavras de Cristo: “os pobres sempre tendes convosco” (Mt 26.11), querendo nos isentar da nossa responsabilidade com o próximo. Desse modo, devemos reagir biblicamente quando pessoas são oprimidas e seu sustento é tirado mesmo quando tenha trabalhando para isso.

 

Kuyper disse também: 

“Uma misericórdia que só oferece dinheiro não é amor cristão. Amor cristão se caracteriza por uma doação completa. Não somente doação de dinheiro, mas doação de si mesmo, do seu tempo, de suas forças e da sua empatia. Somente então sairás em liberdade, quando sua doação transcender, com o fim de ajudar a solucionar o problema e colocar para sempre um fim a esta transgressão e, assim, minimizar os erros de uma vez por todas. Também nada do que se encontra escondido na casa do tesouro da sua religião cristã.” (O problema da pobreza (p. 130).


2) “Outra questão prática que deve ser levada em conta é que “o primeiro artigo de qualquer programa social, que se prepara para a aplicação do resgate, sempre será: creio no deus altíssimo, criador do céu e da terra.”  Kuyper. (p. 132).

 

Nos movimentos socialistas puramente materialista, Deus foi abolido, seja na Revolução Francesa, seja nos movimentos comunistas que vingaram no século XX.

 

Movimentos que buscaram diminuir os poderes autoritários e melhorar a vida da sociedade e que desemborram em sistemas democráticos e melhoraram de fato a sociedade, colocaram Deus no centro de seus projetos, seja na Inglaterra, Holanda ou Estados Unidos.

 


3) A questão da propriedade privada

 

De acordo com a Bíblia, as pessoas podiam acumular riqueza de forma honesta e sua herança passar para sua descendência (herdeiros). Isso não quer dizer que o Estado não deva estar atento às necessidades urgentes dos pobres e menos favorecidos.

 

No Brasil temos o Bolsa Família, Seguro Defeso. Recentemente o Auxílio Emergencial, etc. Mas a solução não dever ser apenas assistencialista. O Estado e outras entidades civis e religiosas devem auxiliar pessoas e famílias a encontrarem um caminho onde possa trabalhar e adquirir renda para sua família, empreender, etc.

 

O teólogo Wayne Grudem, em parceria com o economista Barry Asmus, escreveram o livro Economia e Política na Cosmovisão Cristã. Falando sobre a questão da desigualdade econômica, dentre outras coisas, disse: 

“A única solução em longo prazo para a pobreza vem quando as pessoas têm habilidades suficientes e disciplina para obter e manter empregos economicamente produtivos” (p.56)


Trazendo a ideologia socialista para o campo daqueles que professam a fé cristã, Franklin Ferreira escreveu recentemente o artigo infiltração dos “cristãos progressistas” na igreja cristã. Segundo ele, de modo geral, os “cristãos progressistas”: 

·  repudiam a Bíblia como Palavra de Deus inspirada e infalível;

·  falam da irrelevância da Trindade ou defendem o teísmo aberto;

·  são indiferentes aos ensinos sobre o pecado original e pessoal e a salvação pela graça;

·  repudiam o nascimento virginal de Cristo Jesus;

·  seu sacrifício expiatório e substitutivo na cruz;

·  e sua ressurreição corporal;

·  rejeitam todo e qualquer milagre ou sinal divino;

·  são críticos das igrejas ou “desigrejados”;

·  são indiferentes ou abandonaram qualquer crença na segunda vinda de Cristo.

Esta ruptura com as doutrinas centrais da fé cristã pode ser encontrada numa consulta aos livros, artigos, ensaios e apostilas sugeridos ou publicados por estes e que ilustram a ruptura com a fé entre muitos dos “cristãos progressistas” brasileiros; Infelizmente essa ideologia adentrou nos seminários teológicos, gerando pastores praticamente ateus.

 

Franklin Ferreira questiona: Se há tal ruptura com a tradição cristã mais ampla, como reconhecer esses ditos “progressistas” como cristãos?

 

A agenda dos chamados “cristãos progressistas” tornam absoluta toda a agenda atrelada aos anseios centrais da esquerda e extrema-esquerda, defendendo ferrenhamente: 

·  a união homoafetiva e a redefinição do conceito de família;

·  a defesa do aborto;

·  a liberalização das drogas;

·  o antissemitismo e antissionismo, e Israel como um “estado terrorista”;

·  a divisão marxista da sociedade em categorias de opressor e oprimido/vítima;

·  uma política identitária que divide a sociedade, sem nenhum interesse em reconciliação;

·  a crença de que “todos os homens brancos são responsáveis pela opressão branca” e que o homem branco cristão é o opressor, “o diabo” (James Cone), e “a igreja ‘branca’ é o Anticristo” (Jeremiah Wright);

·  a satanização dos opressores e imposição aos indivíduos de pagar por opressões históricas das categorias a que pertencem;

·  que aqueles que não concordem com eles são fascistas, homofóbicos, racistas, misóginos etc.

·  e a fé de que o Estado controlador, sob o domínio do Partido, pode moldar e controlar a sociedade civil, levando-a a um milênio secularizado.

Este é todo o “evangelho” que os “cristãos progressistas” têm para oferecer.

 

Finalizo com as palavras do estadista reformado Abraham Kuyper: 

“Tudo o que se pode sussurrar aos nossos ouvidos aqui é o comovente e eloquente chamado do bom samaritano. Há sofrimento ao teu redor e os que passam por este sofrimento são teus irmãos, compartilham a mesma natureza, são de tua própria carne, de teus próprios ossos. Tu poderias estar no lugar deles; e eles, em tua posição privilegiada. E agora o evangelho vos fala de um Redentor da humanidade que, mesmo sendo rico, fez-se pobre por amor de vós para vos tornar ricos. O evangelho nos faz ajoelhar e adorar uma criança que nos nasceu, mas que nasceu em um estábulo. Uma criança que foi deitada em uma manjedoura e envolta em faixas. Este fato nos aponta para o Filho de Deus, mas o qual se tornou Filho do homem a fim de percorrer a terra, indo da rica Judeia à pobre Galileia, achegando-se, naquela desprezada Galileia, aos que ali se encontravam necessitados ou pressionados pelo sofrimento. Sim, este evangelho vos fala de um único Salvador que, antes de partir deste mundo, inclinou-se com vestes de escravo a fim de lavar os pés de seus discípulos, um a um. Após ter feito isso, levantou-se e disse: “Eu vos dei o exemplo, para que, como eu vos fiz, façais vós também uns aos outros”. (O problema da pobreza. p. 146).


















Pergunto: É possível conciliar a fé cristã com a ideologia socialista?

 


Robson Rosa Santana

Pastor da Igreja Presbiteriana do Brasil

(62) 98547-6460