WOLTERS, Albert M. A Criação Restaurada: base bíblica para uma
cosmovisão reformada. Trad. Denise
Pereira Ribeiro Meister. 1 ed. São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2006.
Original em inglês: Creation regained (1985).
Este
livro de Albert W. Wolters trata do tema cosmovisão da perspectiva bíblica e
reformada. Revela a sua não
originalidade sobre os temas do livro dizendo que deve a personagens cristãos
como Tyndale e Calvino e alguns escritores da linha do neocalvinismo holandês
como Abraham Kuyper, Herman Bavinck, Herman Dooyerweerd e H. T. Vollenhoven.
Para
os propósitos do livro, ele conceitua cosmovisão como “a estrutura compreensiva
da crença de uma pessoa sobre as coisas”. Embora sua definição seja curta, a
abrangência do significado abrange todas as coisas e como as pessoas, grupos ou
sociedades pensam e vivem através dessa compreensão, uma vez que todos, mesmo
que tacitamente, acreditam no significado daquilo que concluem acerca do mundo
e assim modelam suas práticas.
Ainda
no primeiro capítulo ele reconhece que há algumas distinções dentro da fé
cristã sobre cosmovisão. Ele dá o exemplo de Herman Bavinck que conceitua a fé
cristã de modo abrangente como toda a realidade criada. Eis a definição: “Deus,
o Pai, reconciliou o seu mundo criado, mas caído, por meio da morte de seu
Filho, e o renova num Reino de Deus pelo seu Espírito”.
Para
Wolters, além da formula ser trinitariana, sua cosmovisão cristã abrange todo o
propósito de Deus sobre todas as coisas. Ou seja, a criação (tudo que existe),
a queda (o pecado e o mal no mundo) e a redenção (o que Deus fez para redimir o
homem e o restante da criação por meio de Jesus Cristo).
Segundo
ele, as outras cosmovisões cristãs são dualistas aplicando as verdades de Deus
apenas para uma parte da humanidade, os próprios cristãos. Como se as outras
relações e empreendimento humanos, e o próprio mundo, fossem esquecidos pelas
verdades de Deus. O dualismo ou a dicotomia não expressa a integralidade da
visão de Deus sobre tudo. Esse dualismo é expresso na cosmovisão
sagrado/secular, religioso/natural-profano. Assim ele faz uma distinção da
cosmovisão reformada e as outras cosmovisões cristãs.
Os
próximos três capítulos Wolters aplica o conceito até agora abstrato às
realidades de toda a nossa experiência social e cultural ao fio teológico
unificador de toda a Escritura: Criação-Queda-Redenção.
Assim
no capitulo 2 fala sobre a Criação. Apresenta o duplo significado da palavra Criação. O modo como Deus aplica a sua
lei sobre o cosmo, que é de modo direto (sem mediação) ou indireto (envolvendo
as ações humanas). As leis diretas são
aplicadas a natureza, as chamadas leis da natureza que o homem não pode mudar,
enquanto as normas se aplicam ao seres humanos, nas suas mais amplas
realizações como relacionamentos interpessoais, cultura, Estado, administração
da agricultura e tudo mais. “Os estatutos e as ordenanças de Deus estão sobre
todas as coisas, certamente não excluindo o amplo domínio dos assuntos humanos”
(p.28). Enfim, há uma lei geral para a criação. O autor ainda faz uma distinção
entre a lei geral e particular. Ainda nesse capítulo estuda o conceito da
“Palavra de Deus na criação”.
A
própria Bíblia revela que por meio da criação o próprio Deus se revela (Sl
19.1-4; At 14.17; Rm 1.18-20). Ele assim mostra que o conhecimento da criação é
o fundamento para toda a compreensão humana, “tanto da ciência quanto na vida
diária”.
Embora
o pecado tenha maculado o mundo, em suas relações sociais, culturais e
religiosas, os planos e leis de Deus continuam sendo seu projeto para todas as
coisas. Isso não deve nos deixar inocentes para o processo de secularização da
ciência, tecnologia e economia. A lei de Deus abrange essas áreas também, o que
nos livra da dicotomia sagrado/religioso.
No
capitulo 3, ao continuar a desenvolver uma cosmovisão reformada, Wolters agora
trata sobre a Queda. Ele nos mostra que o pecado de Adão não foi apenas um ato
isolado que atingiu somente ele e seus descendentes, mas toda a criação no
sentido terreno. Ele cita Rm 8.22 como texto-prova.
Sua
tese principal nesse capítulo é que ao criar Deus estabeleceu sua lei sobre
toda a criação, é o que ele chama de estrutura
e direção, ou seja, Deus criou tudo
com uma estrutura e para seu bom funcionamento estabeleceu como deveria
funcionar, a direção. Lembra os
símbolos de Westminster (criação e providência). No entanto, com a entrada do
pecado e a rebelião do homem, foi dado direções pecaminosas à estrutura dada
por Deus devido à corrupção do ser humano. Segundo Wolters, “Deus força a sua
reivindicação sobre nós na estrutura da sua criação, qualquer que seja a nossa
direção” (p.72)
No
capítulo sobre a Redenção (4), o autor mostra que uma vez que a criação e a
queda envolve todo o cosmo, a redenção é cósmica, pois seu propósito é restaurar toda a
criação. Ele divide a redenção em duas partes. A primeira é a restauração, que tem o objetivo de
restaurar ao que era antes da queda. Não é restaurar a uma coisa nova, mas ao
que era antes. E a segunda questão que envolve a restauração é que esta traz
implicações para toda a criação, e não a apenas uma parte dela. Essa
compreensão mais ampla da redenção revela que não se restringe à esfera pessoal
ou eclesiástica, mas também social e cultural. Ele compreende a restauração da
criação como a vinda do Reino de Deus. “... a salvação em Jesus Cristo no
sentido mais amplo, significa uma restauração da cultura e da sociedade no seu
atual estágio de desenvolvimento” (p.87).
Critica
outras cosmovisões cristãs como reducionismo do propósito bíblico da redenção,
tais como o pietismo, com sua visão de que o Reino é a igreja institucional; os
dispensacionalistas, com sua visão de reino futura; o liberalismo clássico e a
teologia da libertação.
O
capítulo final “Discernindo estrutura e direção”, Wolters traça algumas
implicações da cosmovisão reformada para vida social, pessoal e cultural dos
crentes. Ou seja, as distorções na direção ao propósito estrutural original e
permanente de Deus devem ser novamente canalizadas para os propósitos de Deus.
Ele trata do redirecionamento estrutural na questão da santificação, família,
agressividade, dons espirituais, sexualidade, dança (ele entende que há algo de
estrutural na dança, que deve ser redirecionada pela redenção, mas não fala
onde deve ser usada).
Ele
conclui o livro dizendo que buscou “ressaltar que a cosmovisão reformada que
consideramos requer uma filosofia reformada que possa relacionar os critérios
básicos de uma perspectiva bíblica à base de uma filosofia sistemática que seja
relevante às disciplinas especiais da universidade” (p.126).
Enfim,
Wolters aplica que a restauração do pecador e da sociedade por meio de Jesus
Cristo deve se coadunar com a estrutura original da criação, ou seja, os
aspectos espiritual, social e cultural devem ser direcionados por essa
cosmovisão cristã reformada toda abrangente que a Palavra de Deus nos revela.
Robson Rosa Santana
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