12 de fevereiro de 2010

MISSIOLOGIA

Por
Arthur F. Glasser
Informação Avançada
O termo tem sido definido de forma variada como “a ciência da comunicação transcultural da fé cristã,” como “proeminentemente a disciplina erudita subjacente a tarefa da evangelização mundial”, e como “o campo do estudo que pesquisa, registra e aplica dados relacionados às origens e histórias bíblicas da expansão do movimento cristão a princípios e técnicas antropológicas para seu maior avanço.

Se a missiologia é descrita como uma ciência, deve ser reconhecida como ciência aplicada.  A dinâmica subjacente do processo missiológico começa com uma situação de campo real confrontando a igreja ou missão, nos quais seus problemas, sucessos e falhas são claramente conhecidos; finaliza com a aplicação de perspectivas missiológicas para essa mesma situação de campo.

As três principais disciplinas cujas contribuições são essenciais ao processo missiológico são teologia (principalmente bíblica), antropologia, (principalmente, aplicada, e teórica, porém incluindo religião primitiva, lingüística, dinâmica cultural e mudança cultural), e história. Outras disciplinas contributivas incluem psicologia, teoria da comunicação e sociologia. Todas estas disciplinas interagem nas estruturas e problemas específicos da situação de dado campo e com a motivação do evangelho como força motriz dessa interação. Portanto, componentes básicos que vem a ser a “missiologia” não são nem teologia ou história, nem antropologia ou psicologia, nem a soma total desses campos de estudos. Assim surgem a etnoteologia, a etno-história e a etnopsicologia. A disciplina da missiologia então vem a ser em si mesma enriquecida e influenciada por ingredientes como ecumenismo, religião não-cristã e economia.

Questões principais
A missiologia é uma nova disciplina com uma longa história. Em nenhum período em sua historia a igreja tem esquecido totalmente sua tarefa missionária ou falhado em se envolver em uma medida de reflexão séria sobre questões básicas que esta tem levantado. De um modo ou de outro os cristãos em cada geração têm debatido essas cinco questões:
  Prática apostólica
Como a apostolicidade da igreja é expressa se está concebida como envolvendo a prática evangelística dos apóstolos assim como seu ensino “recebido”? Qual é a responsabilidade coletiva da igreja no que tange ao envio de obreiros para “trazer a obediência da fé... entre todas as nações” (Rm 1.5)?
Estrutura da Igreja e Missão
Qual é a relação entre as congregações estruturadas de igreja, reguladas por suas autoridades eclesiásticas, e aquelas estruturas de missão dentro de sua vida dirigida por outros, quer voluntária ou autorizada, pelo que o evangelho é compartilhado com não cristãos e novas congregações são plantadas?
O Evangelho e as Religiões
Qual é a relação entre as boas novas sobre Jesus Cristo e outros sistemas religiosos que não reconhecem o seu senhorio? Há validade para a experiência religiosa de seus devotos, ou estas religiões representam uma condição de abandono por Deus e rebelião humana?
Salvação e não Cristãos
Qual é o destino eterno daqueles que por nenhuma falta deles próprios morrem sem ainda ouvir o evangelho? Qual é a relação entre a obra redentora de Cristo e aqueles que, conquanto ignorante dela, tem discernido o divino através da natureza, da consciência e da história e tem clamado: “Deus, seja misericordioso a mim, pecador?”
Cristianismo e Cultura
Se Deus é o Deus das nações e está trabalhando em todas as épocas da história humana, qual é a validade de cada cultura separada?  Devem seus elementos ser “mantidos” ou “acomodado” ou “substituidos” quando o movimento cristão entra e congregações locais são estruturadas?

História
Estas questões têm sido discutidas por quase dois mil anos, porque a igreja sempre esteve sensível em algum grau à sua responsabilidade de ser missionária. Raramente existe uma congregação viva que não tem cumprido a missão, mesmo que isso ocorra dentro da sua linha de parentesco e dentro de limites raciais. Mas foram dois escritores Católicos Romanos, o jesuíta José de Acosta em 1558 e o carmelita Thomas de Jesus em 1613, os primeiros a desenvolver teorias detalhadas de missão, primeiramente com referência a América Latina. Seus escritos muito estimularam uma sucessão de Protestantes Holandeses do século XVII que muito se preocuparam com a evangelização das Índias Orientais: Hadrianus Saravia, Justus Herunius, Gisbertus Voetius e Johannes Hoornbeeck. Por sua vez, os escritos desses homens influenciaram John Eliot, primeiro missionário aos índios da Nova Inglaterra, e William Carey, o “pai das missões modernas”. Através de Jan Amos Comenius, bispo dos Morávios nos Paises Baixos, sua influência alcançou o Conde von Zinzendorf, que foi proeminente na transformação dos Morávios num movimento missionário dinâmico.

No entanto, somente no século XIX que a missiologia realmente veio a ser uma disciplina acadêmica. Dois Luteranos Alemães foram responsaveis: Karl Graul, diretor da Missão de Leipzig, foi (segundo Otto Lehmann) “o primeiro alemão a qualificar-se para o ensino acadêmico superior neste campo”; e Gustav Warneck, que hoje é considerado como o fundador da ciência missionária protestante. Seu “Evangelische Missionslehre” [Ensino Evangélico de Missões] (1892) confirma abundantemente esta designação. Warneck influenciou de modo significante o grande missiologista Católico Josef Schmidlin (1876-1944) e assim iniciou uma interação estimulante entre os dois maiores segmentos da igreja que continua até o presente.

A morte de Warneck quase coincidiu com a Conferência Missionária Mundial em Edimburgo em 1910. Desde então, as reuniões afilhadas desta conferência, o Conselho Mundial Internacional (até Gana, 1958) e a Comissão sobre Missão Mundial e Evangelismo do Conselho Mundial de Igrejas (após Nova Delhi, 1961), continuou a refletir sobre uma grande variedade de aspectos da ciência de missão. Nos anos recentes evangelicais não conciliares têm participado de forma crescente neste debate erudito por causa de suas preocupações que a teologia bíblica da igreja deve tornar central seu chamado missionário, um postulado que foi profundamente desafiado a partir de 1960 com a radicalização da teologia ecumênica e o aumento da secularização de muitas igrejas-membros do Conselho Mundial de Igrejas em seu serviço no mundo.

Em décadas recentes a literatura sobre a teoria de missão aumentou grandemente, com polarizações populares de filosofias de missão concorrentes dominando o cenário. Os evangélicos são repreendidos por causa da teologia de missão que ignora o reino de Deus e focaliza quase que inteiramente a vida eterna. Os católicos têm mudado com o triunfalismo, supostamente porque tudo que eles tinham de advogar era um teologia com um foco único: a expansão da igreja. (No entanto, durante os anos de 1970 grandes seções desta igreja têm sido uma força dominante nos esforços pela justiça social no Terceiro Mundo). Protestantes Conciliares [CMI] são acusados de ser tão capturados pelas questões sociais e humanas que elas fazem liberdade desnecessária com a Bíblia e seus textos até que o evangelismo é reconceitualizado para significar política, a obrigação da igreja para evangelizar “povos não-alcançadas” é descartada como irrelevante e o encontro religioso é confinado ao tipo de conversação amigável que evita todo pensamento de conversão e plantação de igreja.

Os Evangélicos e o Debate Contemporâneo
Num esforço para reduzir esta cacofonia de diversidade discordante e desenvolver uma base coerente para uma disciplina erudita válida, os evangélicos tiveram uma posição importante na organização da Sociedade Americana de Missiologia (ASM) no Scarritt College, Nashiville, Tennessee, em junho de 1972. Eles reconheceram a validade e a essencialidade das perspectivas de todos os segmentos do movimento cristão; o estudo de missiologia ficaria desbalanceado e seria empobrecido se alguma perspectiva fosse negada em uma investigação. Assim a Sociedade Americana de Missiologia tornou-se uma comunidade de estudiosos composta de Protestantes conciliares [CMI], Católicos Romanos, Ortodoxos e evangelicos não conciliares.

Dentro desse fórum os evangélicos parecem estabilizar esta disciplina emergente com suas ênfases bíblicas sobre o centro cristológico: o evangelho tem em seu coração a afirmação de que somente Jesus Cristo é o Senhor e que ele se oferece para entrar nas vidas de todos os que virem a ele em arrependimento e fé. A preocupação principal deles é a tarefa evangelística de proclamar Jesus e persuadir todas as pessoas de todos os lugares para se tornarem discípulos dele e membros responsáveis de sua igreja. Eles consideram isso como um objetivo principal e insubstituível na missão cristã. Eles enfatizam a prioridade de múltiplas expressões estruturadas da comunidade cristã na qual a adoração pode ser realizada e uma koinonia [comunhão] profunda e estendida. E eles encorajam a multiplicação de associações voluntárias (estruturas de missão) de levar a cabo a grande variedade de tarefas que Deus dá ao seu povo.

Em adição, os evangélicos estão respondendo de forma crescente, em face do debate contemporâneo e dos clamores agonizantes dos oprimidos, aos assuntos acentuados protestantes conciliares como eles chamam todos os cristãos de todos os lugares a tomar esses passos prioritários que demonstrarão sua autenticidade perante o mundo como “sal e luz”. Seu foco é inevitavelmente eclesiológico. Eles debatem que o desenvolvimento do indivíduo e da fé interior deve ser acompanhado por uma obediência coletiva e externa ao mandato cultural amplamente detalhado na Bíblia Sagrada. O mundo é para ser servido, não evitado. A justiça social deve avançar, e as questões de guerra, racismo, pobreza e desigualdade econômica devem se tornar preocupação ativa e participativa daqueles que professam seguir Jesus Cristo. Não é suficiente que a missão cristã seja redentiva; deve ser profética também. E tem de acentuar a obrigação de expressar perante o mundo a unidade do povo de Deus. O movimento cristão deve focar na consolidação enquanto alcança expansão.

Missiólogos Católicos Romanos e Ortodoxos acentuam o ethos sacramental, litúrgico e místico que enriqueceu a igreja durante os séculos. Os assuntos que mais os interessam são como a Igreja deve cumprir o mandato do Vaticano II e sua função essencial como o “Dom Divino”, por manifestar e realizar no mundo o eschaton, a realidade final da salvação e salvação; como garantir que o estado, a sociedade, a cultura e a própria natureza estejam dentro dos objetivos reais da missão. Como alcançar verdadeiramente congregações nativas; como entrar na seqüência que produz formação espiritual genuína; como participar de diálogos significantes e espiritualmente produtivos com as crenças asiáticas; e como guardar a exclusividade e finalidade de Jesus Cristo enquanto que ao mesmo tempo reconhece que o movimento cristão em seu melhor representa o que Berdyaev coloca: “uma revelação inacabada sobre o significado absoluto e o chamado do homem”.

Missiólogos dessas três correntes de percepção sobre a obrigação bíblica são comissionados a ouvir honestamente uns aos outros. E isso pressagia bem a missiologia como “ciência”, “disciplina”, e “campo separado de estudo” ainda em desenvolvimento. Como torna-se mais nitidamente diferenciada, e seus conceitos e ferramentas são melhor dominados, se tornará em instrumento útil em crescimento para a compreensão e desempenho da missão cristã em nossos dias.

Destacados missiólogos evangélicos americanos são Rufus Anderson, popularizador da igreja nativa no século dezenove (“Missões são instituídas para a expansão de um cristianismo escriturístico e auto propagante”); Kenneth Scott Latourette e R. Pierce Beaver, duas destacadas autoridades sobre a história das missões e das igrejas mais jovens; Donald A. McGavran, o fundador do Movimento de Crescimento da Igreja; Eugene A. Nida, especialista em tradução bíblica e comunicação transcultural da fé cristã; J. Herbert Kane, escritor prolífico dos principais textos em todos os aspectos da missão cristã; e George W. Peters, o teólogo bíblico criativo na tradição Menonita.

Bibliografia C. W. Forman, "A History of Foreign Mission Theory in America," in American Missions in Bicentennial Perspective ed. R P Beaver;
A. F. Glasser, "Missiology, What's It all About?" Miss Rev 6:3 - 10;
J. Glazik, "Missiology," in Concise Dictionary of the Christian World Mission;
O. G. Myklebust, The Study of Missions in Theological Education;
J Verkuyl, Contemporary Missiology: An Introduction.
    
Traduzido do original em inglês por Robson Rosa Santana. Dezembro de 2009. Capturado do site: http://mb-soft.com/believe/txo/missiolo.htm.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Você pode comentar aqui se quiser