SIRE, James W. O Universo ao Lado: um catálogo básico sobre cosmovisão. Trad. Fernando Cristófalo. 4 ed. São Paulo: Hagnos, 2009. Original em inglês: The Universe next Door (2004).
O livro Universo ao Lado teve sua primeira
edição em 1976, o que dista da sua última edição em inglês vinte e oito anos. E
como algumas cosmovisões estavam ainda tomando forma, como o Movimento da Nova
Era e Pós-modernismo, Sire faz alguns atualizações baseadas no conhecimento mais
profundo que o intervalo entre a primeira e quarta edição em inglês produziu.
Fundamenta as cosmovisões citando vasta pesquisa bibliográfica.
O que Sire faz nesse livro é mostrar as
cosmovisões mais importantes que ainda estão em atuação no mundo, com o propósito
de os leitores tomarem uma decisão pela cosmovisão que tenha mais coerência e
não se contradiga. Nesse caso, como cristão, apresenta a cosmovisão do teísmo cristão
como a mais convincente.
São oito as
cosmovisões básicas examinadas: (1) teísmo cristão, (2) deísmo, (3)
naturalismo, (4) niilismo, (5) existencialismo, (6) monismo panteísta oriental,
(7) nova era e (8) pós-modernismo. Se o niilismo que é a negação de qualquer
cosmovisão não for contada, são sete. São nove se o existencialismo for contado
como duas, uma vez que é divido em ateísta e teísta. Ou até mesmo dez, contando
com a breve explanação do animismo.
Na introdução, Sire diz que aperfeiçoou
seu conceito de cosmovisão: “Uma cosmovisão é um comprometimento, uma
orientação fundamental do coração, que pode ser expressa como uma história ou
um conjunto de pressuposições (hipóteses que podem ser total ou parcialmente
verdadeiras ou totalmente falsas), que detemos (consciente ou
subconscientemente, consistente ou inconsistente) sobre a constituição básica
da realidade e que fornece o alicerce sobre o qual vivemos, movemos e possuímos
nosso ser” (p.16).
Para ele são sete as questões básicas da
maioria das cosmovisões, pelas quais ele tenta definir as cosmovisões
analisadas. As questões básicas são as seguintes: (1) O que é a realidade
primordial, qual seja, o que é realmente verdadeiro? (2) Qual a natureza da
realidade externa, isto é, o mundo que nos rodeia? (3) O que o ser humano é? (4)
O que acontece quando uma pessoa morre? (5) Por que é possível conhecer alguma
coisa? (6) Como sabemos o que é certo e errado? (7) Qual é o significado da
história humana? No entanto, nem todas as cosmovisões respondem a todas as
perguntas.
O capítulo 2 aborda as questões do Teísmo
Cristão, onde ele as responde da seguinte forma: “(1) Deus é infinito e pessoal
(trino), transcendente e imanente, onisciente, soberano e bom. (2) Deus criou o
cosmos ex-nihilo para operar com uma uniformidade de causa e efeito e um
sistema aberto. (3) Os seres humanos são criados à imagem de Deus e, portanto,
possuem personalidade, auto-transcendência, inteligência, moralidade, senso
gregário e criatividade. (4) Os seres humanos podem conhecer tanto o mundo que
os cerca quanto o próprio Deus, porque ele colocou neles essa capacidade e
porque ele desempenha um papel ativo na comunicação com eles. (5) Os seres
humanos foram criados bons, porém, devido à queda a imagem de Deus tornou-se
desfigurada, embora não tão destruída de modo a não ser mais passível de
restauração; através da obra de Cristo, Deus redimiu a humanidade e começou o
processo de restaurar as pessoas à bondade, muito embora qualquer pessoa possa
escolher rejeitar essa redenção. (6) Para cada ser humano a morte representa
tanto o portão para a vida com Deus e seu povo quanto para a separação eterna
da única coisa que poder satisfazer as aspirações humanas definitivamente. (7)
A ética é transcendente e alicerçada no caráter de Deus como bom e (santo e
amoroso).”
No capítulo 3, acerca do Deísmo, conclui com
as respostas: “(1) Um Deus transcendente, como primeira causa, criou o
universo, mas, então, o deixou funcionar por conta própria. Deus é, portanto,
não imanente, não totalmente pessoal, não soberano sobre os assuntos humanos e
não providencial. (2) O cosmo criado por Deus é determinado, pois foi criado
como uma uniformidade de causa e efeito em um sistema fechado; nenhum milagre é
possível. (3) Os seres humanos, embora pessoais, fazem parte do mecanismo do
universo. (4) O cosmo, este mundo, é compreendido como estando em seu estado
normal; ele não é decaído ou anormal. Podemos conhecer o universo e por meio de
seu estudo determinar como Deus é. (5) A ética é restrita à revelação geral;
pelo fato de o universo ser normal, ele revela o que é certo. (6) A história é
linear, pois o curso do cosmo foi determinado na criação”.
O capítulo 4 trata da cosmovisão do
Naturalismo, e tem como respostas às questões básicas: (1) A matéria existe
eternamente e é tudo o que há. Deus não existe. (2) O cosmo existe com uma
uniformidade de causa e efeito em um sistema fechado. (3) Os seres humanos são
“máquinas” complexas; a personalidade é uma interrelação de propriedades
químicas e físicas ainda não totalmente compreendidas. (4) A morte é a extinção
da realidade e da individualidade. (7) A história é uma corrente linear de
eventos ligada por causa e efeito, porém, sem uma proposta abrangente. Tem como
teóricos maiores Darwin e Marx. O naturalismo na prática desembocou no (1)
Humanismo secular; e (2) Marxismo.
Quando trata do Niilismo no capítulo 5, as
respostas àquelas questões básicas não existem. Pois é mais um sentimento do
que uma filosofia. Na verdade, nega qualquer verdade filosófica, qualquer tipo
de conhecimento e valor de todas as coisas. “Nega até mesmo a realidade de sua
própria existência” (p.109). Em suma, nega a realidade de tudo. Essa negação de
todas as coisas leva, inexoravelmente, à perda de significado. E como se vive
sem significado para nada, até mesmo para si? Sem sentido algum para a
existência. O que Sire faz é mostrar as incoerências dentre do niilismo
teórico, bem como na incoerência dentro da sua epistemologia prática,
apresentando, assim, tensões dentro desse “sentimento” de nada ser, nem
existir.
No capítulo 6 aborda a cosmovisão
existencialista como uma filosofia que transcende o niilismo. Tem duas formas
básicas: ateísta e deísta. Sendo que a
primeira é uma parasita do naturalismo e a segunda, do teísmo. As respostas às
questões básicas do existencialismo ateísta são: “(1) O universo é composto
apenas de matéria, porém para o ser humano a realidade se apresenta em duas
formas – subjetiva e objetiva. (2) Para os seres humanos a existência precede a
essência; as pessoas fazem de si mesmas o que são. (3) Cada pessoa é totalmente
livre com respeito à sua natureza e ao destino. (4) O altamente elaborado e
firmemente organizado mundo objetivo se coloca contra os seres humanos e parece
absurdo. (5) No pleno reconhecimento e contra o absurdo do mundo objetivo, a
pessoa autêntica deve revoltar-se e criar valores.”. Quanto ao existencialismo
teista: “(1) Deus é infinito e pessoal (trino), transcendente e imanente,
onisciente, soberano e bom. (2) O pessoal é que possui valor. (3) Os seres
humanos são seres pessoais que, quando chegam à plena consciência, descobrem-se
em um universo hostil; Se Deus existe ou não é uma questão difícil a ser
resolvida, não pela razão, mas por meio da fé. (4) O conhecimento é
subjetividade; a verdade total é com freqüência, paradoxal. (5) A história como
registro de eventos é incerta, sem importância, mas a história como modelo,
tipo ou mito a ser feito presente e vivenciado é de suma importância”. Há 2
passos além do teísmo tradicional: 1) desconfia da precisão histórica e 2) perde o interesse em sua facticidade e
enfatiza a sua implicação ou significado religioso].
O Monismo Panteísta Oriental é analisado
no capítulo 7. Assim como o Movimento da Nova Era, não possui uma base
doutrinária básica ou unificada, isto é, há algumas vertentes dentro da própria
cosmovisão. Principais questões são respondidas da seguinte forma: “(1) Atma é
Brahma, isto é, a alma de cada um e de todo o ser humano é a alma do cosmo.
(“Deus” é a realidade única, infinita, impessoal e suprema, p.183). (2) algumas
coisas são mais únicas que outras. (3) Muitos (se não todos) caminhos levam ao
um. (Daí surge a idéia: “todos as religiões levam ao mesmo fim. Ao Um com a
divindade. (4) perceber a unidade com o cosmo é ir além da personalidade. (Já
que a realidade última – Atma – é impessoal. No final das contas o ser humano é
em essência impessoal. (5) Perceber a unidade de alguém é ir além do
conhecimento. O principio da não contradição não se aplica onde a suprema
realidade está relacionada. (em outras palavras o ser é incognoscível e a
verdade não existe). (6) Perceber a unidade com o cosmo é ir além do bem e do
mal; o cosmo é perfeito a todo o momento. (7) A morte é o fim da existência
pessoal, individual,mas não altera em nada de essencial na natureza do
indivíduo (há imortalidade, mas não pessoal e individual). 8. Perceber a
unidade com o um é ir além do tempo. O tempo é irreal. A história é cíclica.”
Perceber a própria divindade é transcender a história. A seguir faz uma
distinção entre o hinduísmo não dualista e o zen budismo. Por fim, Sire advoga
que há um problema de comunicação com o Ocidente por ser as cosmovisões
totalmente divergentes, embora muitos ocidentais estejam bebendo sedentos da
cosmovisão oriental panteísta.
O
capítulo 8 aborda a cosmovisão do Movimento da Nova Era. Até aqui as
cosmovisões têm suas origens no Ocidente, ao passo que a Nova Era é um
“estrangeirismo” do oriente. Isso exige uma mudança grande no modo de pensar
ocidental. Muitas das respostas apresentadas são difíceis de compreender pela
tradição filosófica do Oeste. Ainda é um cosmovisão em desenvolvimento sem
conceito unificado. Vejamos as respostas condensadas de Sire: (1) Qualquer que
seja a natureza do ser (idéia ou matéria, energia ou partícula), o eu é o
centro, a realidade fundamental. Como os seres humanos crescem em sua
consciência e compreensão desse fato, a raça humana está no limiar de uma
transformação radical na natureza humana; mesmo agora vemos alguns precursores
da humanidade transformada e protótipos da Nova Era. (2) O Cosmo, embora
unificado no eu, é manifesto em duas dimensões mais: o universo visível, que é
acessível por meio da consciência comum, e o universo invisível (ou mente
expandida), acessível por estados alterados de consciência. (3) A essência da
experiência da Nova Era é a consciência cósmica, na qual categorias comuns de
espaço, tempo e moralidade tendem a desaparecer. (4) A morte física não é o fim
do eu; sob a experiência da consciência cósmica, o temor da morte é removido. (5)
Três atitudes são consideradas para a questão metafísica da realidade sob o
quadro geral da Nova Era: (1) a versão oculta, na qual os seres e coisas
percebidos em estados alterados de consciência existem à parte do ser que é
consciente, (2) a versão psicodélica, na qual essas coisas e seres são projetos
do eu consciente e (3) a versão relativista conceitual, na qual a consciência
cósmica é a atividade consciente de uma mente, utilizando um dos muitos modelos
incomuns para a realidade, nenhum dos quais é “mais verdadeiro” do que qualquer
outro”.
Por fim, é abordada a cosmovisão do
Pós-modernismo. Respostas às questões básicas: “(1) A primeira questão que o
pós-modernismo suscita não é o que está lá ou como sabemos o que está lá, mas
como a linguagem funciona para construir significado. Em outras palavras, há
uma mudança nas ‘primeiras coisas’ de ser para saber, para construir
significado. (2) A verdade sobre a própria realidade está para sempre oculta de
nós. Tudo o que podemos fazer é contar histórias. (3) As histórias propiciam às
comunidades o seu caráter de coesão. (4) Todas as narrativas mascaram um jogo
pelo poder. Qualquer narrativa utilizada como metanarrativa torna-se opressiva.
(5) Não há substancial. Os seres humanos fazem de si mesmos o que são pelas
linguagens construídas sobre eles mesmos. (6) A ética, como o conhecimento, é
uma construção lingüística. O bem social é tudo que a sociedade assume
ser. (7) O pós-modernismo é instável.”
Não posso analisar com maior propriedade
as cosmovisões abordadas, com exceção do Teísmo cristão. Nessa cosmovisão, Sire
diz que não entraria na questão das divergências internas, como predestinação versus livre arbítrio (p.45), no
entanto, deixa claro sua posição arminiana (p.43), e parece crer num universo
aberto, lembrando o teísmo aberto (p.32-35).
Pr. Robson Rosa Santana
Igreja Presbiteriana do Brasil
Obrigado Pastor!
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