Introdução
Num túmulo na Europa Central há a seguinte inscrição: "Ele morreu por causa de algumas palavras não pronunciadas". Este túmulo pertence a um rapaz que havia trazido vergonha e tristeza a seus pais. Ele continuou vivendo miseravelmente, a despeito de suas promessas de reconciliação e da tolerância de seus pais. Por fim, a paciência de seu pai acabou.
Numa noite, quando o jovem chegou em casa bêbado, seu pai, irritado, lhe disse: "Vá embora, e não volte nunca mais". Ao sair pela porta, o filho voltou-se e disse: "O senhor está falando sério, papai? Não é para eu voltar nunca mais?" "Estou", respondeu o pai, "Não quero mais este escândalo em casa". O moço foi embora, e suicidou-se.
O pai, triste, nunca perdoou a si mesmo por ter dito aquilo. Ao invés de pronunciar as palavras que seu filho suplicou para ouvir, o pai endureceu seu coração [...] (Toivo Rajama - Finlândia)
Podemos dizer que este caso não é tão comum, que não acontece freqüentemente com as pessoas. Mas não podemos negar que, numa variação de graus, somos assolados por algum tipo de pecado e de alguma culpa que abate nosso coração.
De certo modo, estamos acostumados com boas doses de culpa. Nosso comportamento é controlado pelo medo dela. Quando falhamos em encontrar padrões para nossas vidas, sentimos o peso da culpa. Enquanto muito disso é simplesmente cultural, há uma culpa mais profunda, o senso de que temos falhado em viver tudo aquilo para o qual nós fomos designados a ser e a tornar-se. É culpa existencial, que reside no profundo de nosso ser. Nas palavras de Paul Tournier, esta é a “culpa perante Deus”.
Normalmente as pessoas tratam a culpa de quatro modos:
A primeira é a negação. Simplesmente negamos a sua existência. É o caso de pessoas que não acreditam no pecado, ou se creem, acham que não são pecadoras. Por incrível que pareça, existe esse tipo de pessoa.
Outra maneira de tratar com a culpa é o da racionalização. Admitimos que somos culpados, mas logo depois da confissão, tentamos encontrar alguma coisa para atenuar as suas conseqüências, como se algo conspirasse para que fizéssemos aquilo. Como não podemos culpar nossos pais ou outros, colocamos a culpa no governo ou nos nossos genes. Como disse alguém, é a síndrome de Gabriela: “Eu nasci assim, eu cresci assim, sempre Gabriela”.
Outro modo de tratar com a culpa é a relativização. Todo mundo pensa e faz desse jeito, por isso não sou tão mal assim. E ao encontrarmos exemplos piores do que o nosso, faz-nos parece melhor. Nivelamos a nossa vida por baixo, esquecendo-nos que o nosso padrão é a santidade de Deus.
Mas existe um caminho para se tratar com a culpa, que é a admissão, confissão e perdão. A vantagem desse modo é que não precisamos mais carregar a culpa. Visto que este caminho é de cura, é o modo de Deus, e o Salmo 130 nos ensina isso.
Narrativa
Neste salmo, o salmista clama em dor, em angústia, em urgência a Deus por perdão e fica numa posição de espera por Deus agir. Ele espera naquele que promete. Porque ele conhece Deus como Redentor misericordioso que “redime Israel de todas as suas iniquidades” (v.8).
Comentaristas identificam este Salmo como lamento individual. O lamento expressa uma emoção oposta àquela do louvor, o salmista abre seu coração a Deus, um coração às vezes cheio de tristeza, medo ou mesmo ira. Em poucas exceções, os lamentos voltam-se para Yahweh com confiança no final, e este Salmo é um exemplo disso. Há um misto de lamento e ações de graça.
Quando analisamos mais atenciosamente o Salmo 130, percebemos que é uma confissão de um homem temente a Deus que foi capaz de se levantar das maiores profundezas da angústia gerada pelo pecado para a segurança da graça e do perdão de Deus. E de acordo com o v.8 podemos dizer que foi recitado pelo poeta na adoração comunitária.
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Como podemos nos livrar da culpa?
1) RECONHECENDO NOSSO PECADO PERANTE O SENHOR (vv.1-2)
No verso 1 vemos a angústia, a agonia interior do salmista. É uma agonia profunda. Isso é demonstrado na metáfora “das profundezas”, que revela uma aflição física e mental. Essa mesma metáfora também pode-se ver nos Salmos 69, 14, 18, 32 e 40.
Na cultura judaica refere-se ao caos interior da vida daquele homem. Estas profundezas representam a batalha interior que o salmista estava sentindo, incluindo as iniquidades que ele fala no verso 3 que o torna cônscio de estar separado de Deus, como que por um abismo intransponível do pecado (cf. Is 59.2).
No verso 2 o salmista demonstra dramaticamente os seus sentimentos: “Escuta, Senhor, a minha voz; estejam alertas os teus ouvidos às minhas súplicas”. Deus ouvir sua voz significa que Ele voltou-se para ele com favor. Pois sem Deus o homem está perdido, e somente Deus pode restaurar a ponte que o homem quebrou por seus próprios pecados.
Para onde voltamos quando estamos nas profundezas? Alguns tentam medicar sua dor através do álcool ou das drogas. Outros se rendem à dor e entram na fossa das trevas da depressão. Os que conhecem a Deus não! Fazem como o salmista e clamar a Deus. Do mais profundo do nosso ser devemos estender as nossas mãos para Deus e pleitear que ele se incline para nós, que sua graça nos alcançará, mas o primeiro passo é sentir a dor da nossa transgressão contra Deus, e não tentar sublimar, colocar panos quentes sobre a nossa culpa. O melhor caminho é reconhecer. E se dissermos que não temos cometido pecados somos mentirosos, como diz a apóstolo João.
Devemos fazer como o publicano (cobrador de impostos dos judeus para Roma) da parábola: "Propôs também esta parábola a alguns que confiavam em si mesmos, por se considerarem justos, e desprezavam os outros: 10 Dois homens subiram ao templo com o propósito de orar: um, fariseu, e o outro, publicano. 11 O fariseu, posto em pé, orava de si para si mesmo, desta forma: Ó Deus, graças te dou porque não sou como os demais homens, roubadores, injustos e adúlteros, nem ainda como este publicano; 12 jejuo duas vezes por semana e dou o dízimo de tudo quanto ganho. 13 O publicano, estando em pé, longe, não ousava nem ainda levantar os olhos ao céu, mas batia no peito, dizendo: Ó Deus, sê propício a mim, pecador!" (Lc 18.9-13).
2) CONFESSANDO NOSSO PECADO PERANTE O SENHOR (vv. 3-4)
Assim como uma criança chateada não olha diretamente na face do pai, o salmista não pede diretamente perdão de seus pecados. Ele sente tão fortemente sua situação que quase não justifica tal pedido. Se ou não Deus perdoará depende somente da sua livre decisão, mas o salmista sabe que o coração de Deus está aberto para ele com misericórdia e amor, e que seu clamor não será vão. Ele sabe que somente a misericórdia de Deus poderia livrá-lo de seu pecado. Por isso ele diz: “Se observares, Senhor, iniquidades / quem Senhor, subsistirá?”. A figura usada aqui é de alguém que está tomando nota dos pecados, e se Deus for olhar somente para a dívida que temos para com ele, estamos perdidos. Ninguém subsistirá. Ninguém há de permanecer, de viver. A única coisa que resta é a morte e condenação, pois, de fato, temos cometido iniquidades, temos nos desviados do caminho de Deus.
Mas louvado seja o nome do Senhor, pois com Ele está o perdão. Isso é maravilhoso. Isso é puro evangelho. É graça. Por isso, quando estivermos nas profundezas, quando a culpa estiver diante da nossa face, quando a angústia do pecado assolar nosso coração, clamemos a Deus que ele ouve e vem, não com julgamento, mas com graça.
O próprio Jesus demonstra o perdão e a graça de Deus quando diante da mulher adúltera e de seus acusadores, diz: “Quem não tiver pecado atire a primeira pedra”. A ironia que vemos nessa afirmação é que ele era o único que poderia apedrejá-la, pois é o Filho de Deus sem pecado, mas, não, ele a perdoa: “nem eu tampouco te condeno; vai e não peques mais” (Jo 8.11).
Realmente, nós temos certeza, como diz o salmista acerca de Yahweh, “Contigo, porém, está o perdão”, e como consequência da misericórdia de Deus, ele adiciona: “para que te temam” (v.4).
Quando entendemos o perdão de Deus e o seu custo, enviando seu Filho à cruz do calvário, somos quebrantados e humilhados, nós nos curvamos em temor diante de Deus. E aí não existe presunção, não existe arrogância, pois merecemos juízo e recebemos misericórdia. Como o retorno do filho pródigo, nós somos maravilhados pelo Pai que nos dar boas vindas ao lar livremente.
3) ESPERANDO PELO SENHOR (vv. 5-6)
A partir do v.5 a forma de oração é abandonada. Nesse verso o salmista faz uma confissão diante do Senhor na congregação, dizendo como ele espera com ansiedade, com um desejo profundo, pelo momento em que poderia entrar na presença de Deus e ouvir a promessa de perdão. Pois o verdadeiro arrependimento, que difere de uma disposição meramente transitória de penitência, é um estado de estar em constante tensão entre esperança e posse, porque simultaneamente devemos estar consciente da bondade e da severidade de Deus. Essa tensão é expressa pelo verbo em hebraico traduzido por esperar. E desse modo o v. 6 é semelhante ao v.5, pois o salmista tem certeza que, assim como os guardas estão esperando pelo romper da manhã, e isso acontecerá, assim ele espera pelo perdão de Deus. Mas é necessário esperar.
Em nossos dias, não somente agora, mas já há algum tempo, vivemos tempos agitados. O tempo é escasso. Nas palavras de um ex-presidente americano, “Time is money”: Tempo é dinheiro. Não podemos perder tempo. Temos de produzir. Desse modo, não sobra tempo para a meditação e oração. Conhecemos pouco do estar diante de Deus com expectativa. Uma das coisas que Deus está nos ensinando aqui é o valor de esperar diante dele e nele.
Somente na quietude nós podemos ouvir a voz do Senhor. É andando nessa verdade teológica do perdão de Deus, que o salmista espera para ser perdoado. Assim, fundamentado sobre a promessa de Deus e esperando nele, devemos esperar por Ele para que fale e aja em nossas vidas.
Necessitamos experimentar a realidade da culpa levada, do pecado perdoado e não nos contentarmos com menos que isso. Não é de estranhar que as nossas vidas espirituais sejam tão superficiais, pois nos recusamos a esperar no Senhor. Quando nós paramos e esperamos diante dele, Ele agirá com graça e misericórdia.
Como fruto da sua própria experiência, o salmista generaliza a todo o povo de Deus (veja os versos 7 e 8. Esse imperativo para que o povo esperasse no Senhor é baseado do próprio caráter de Deus: “pois no Senhor há misericórdia; nele, copiosa redenção” (v.7).
Deus é fiel em seus compromissos para com o Seu povo. É o que a palavra misericórdia significa no hebraico: o amor pactual de Deus para com o Seu povo, o amor da aliança. E esse amor é incondicional. Como diz o Senhor em Jeremias 31.3: “…com amor eterno eu te amei (o povo de Israel ) por isso, com benignidade te atraí”. É o próprio Deus que nos ama e nos atrai a Ele, mesmo quando pecamos, é Ele quem nos conduz ao arrependimento por Sua bondade. “Ou desprezas a riqueza da sua bondade, e tolerância, e longanimidade, ignorando que a bondade de Deus é que te conduz ao arrependimento? (Rm 2.4)
É Ele que vem a nós libertando do pecado, da culpa e da escravidão. E desde que nele há “copiosa redenção”, Ele agirá, como diz o verso 8: “É ele quem redime a Israel de todas as suas iniquidades”. Esperemos e confiemos no Senhor!
CONCLUSÃO
Como o salmista esperou em Deus, ele sabia que experimentaria o Seu perdão, Seu amor pactual, Seu poder redentivo. É isso que milhões de crentes precisam hoje . Quem sabe você é uma dessas pessoas. Você tem ouvido acerca de Deus, mas não conhece a Deus. Tem ouvido que Deus é misericordioso, mas não tem recebido misericórdia. Desse modo, você carrega sua culpa como melhor você pode. Você precisa, em nome de Jesus, colocar sobre Ele a sua culpa, o seu pecado.
Não pense como muitos que o seu pecado é imperdoável, que não tem jeito para você. Quero que você saiba que o sangue de Jesus purifica todo e qualquer pecado. É hora de você reconhecer isso, e do mais profundo do seu ser colocar diante de Deus. Como diz o salmista, em Deus há misericórdia, com Ele está o perdão, nele há abundante redenção. Podemos tomar aqui o texto de Paulo quando ele escreve que onde abundou o pecado, superabundou a graça. Você não precisa mais carregar esse peso. Vá até Deus, por meio de Cristo, que Ele há de perdoar esse pecado que tem dominado a sua vida, e você ficará mais alvo que a neve. E pronto para adorar a Deus como lhe é devido.
Pr. Robson Santana
* Reprodução autorizada desde que mantida a integridade dos textos, mencionado o autor e a fonte como: www.e-missional.blogspot.com e comunicada sua utilização através da parte dos comentários ou e-mail: rrsantana@hotmail.com
verdade quando o texto nos fala sobre vivermos uma vida cristã superficial, estamos trocando a intimidade com Deus por este mundo capitalista, trocando momentos de oração pela internet, momentos de leitura por outras coisas fúteis, meu erro é esse de que teria pecado imperdoável, graças à Deus por saber que ele nos perdoa se confessarmos os pecados de todo coração nos arrependermos, e também sei que não podemos carregar um fardo tão pesado ao ponto de nossos ombros não suportarem, espero em Deus poder ter uma vida cristã, de santidade e servidão não superficial!
ResponderExcluirEste texto do salmo é uma dádiva de como temos que nos perdoar dos nossos pecados e perdoar a quem precisa, para que possamos levar uma vida na paz de Jesus.
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