25 de novembro de 2009

Vida cristã: uma maratona de fé (Hb 12.1-3)

Introdução
Uma das imagens mais impressionantes de obstinação, desejo de chegar ao final da disputa, foi numa olimpíada em que uma mulher corria na maratona (42 km). Ela já estava quase totalmente exausta, quase sem força, capengando, exigindo o máximo da energia de seu corpo, e cambaleando chega até o final da corrida.


Eu mesmo nem sei quem venceu a corrida, pois aquela mulher roubou a cena e serviu de modelo de persistência e perseverança. Tinha um alvo, objetivo, a alcançar e se esforçou o máximo para chegar lá. Chegou. Completou a carreira!

A Bíblia mostra muitas ilustrações do que é a vida cristã:
Uma caminhada: Jesus é o Caminho, só alcançaremos a salvação se andarmos no caminho estreito. O próprio cristianismo no início era chamado de O Caminho. E Pedro nos chama de peregrinos.


Uma guerra, combate, luta: não lutamos contra o homem em si, mas contra os espíritos malignos que nos tentam, usam pessoas e que tem a finalidade de mentir, roubar, matar e destruir. Por isso devemos estar revestidos da armadura espiritual que vem de Deus.


Uma corrida, carreira, maratona: Paulo até usa duas ilustrações no mesmo verso: “combati o bom combate, completei a carreira, guardei a fé” (2Tm 4.7).


NarrativaO autor de Hebreus, no texto lido, fala que estamos numa corrida: na Maratona da Fé. Antes já havia dito que “sem fé é impossível agradar a Deus” (11.6). Aqui não é simplesmente a fé salvadora em Cristo Jesus. Mas a fé de ultrapassar todos os obstáculos que estiverem à nossa frente e chegarmos ao final da corrida.

Pois isso o texto diz: “temos a rodear-nos de tão grande nuvem de testemunhas”: Abel, Enoque, Noé, Abraão (o pai da fé), Sara, Isaque, Jacó, José, Moisés, e tantos outros, como os juízes e profetas, que pela fé no Deus todo-poderoso, dependeram exclusivamente de Suas promessas e venceram tudo que estava tentando atrapalhar a sua caminhada rumo a Deus e ao céu.


O verso 1 fala do grande serviço que a Bíblia (Deus) exige dos Hebreus e que ele deseja muito que eles possam cumprir na maratona da fé, da seguinte forma:
"desembaraçando-nos de todo peso e do pecado que tenazmente nos assedia, corramos, com perseverança, a carreira que nos está proposta".


Isso consiste de 2 partes: (1) Preparação e (2) Aperfeiçoamento


1) Preparação

Como o crente se prepara para a corrida da vida cristã?
“desembaraçando-nos de todo peso”(deixar de lado todo o peso), assim como um corredor usa roupas bem leves e coladas ao corpo para facilitar a corrida.


Ex.: nadadores, depilam os pelos do corpo para ficar mais lisos, alguns até usam uma roupa de pele de tubarão para deslizar melhor e ganhar alguns milésimos de segundo.

Assim também nós, cristãos, na nossa corrida cristã, devemos tirar todo o peso das nossas vidas.


Que peso é esse? São todos os impulsos e desejos pecaminosos do nosso corpo. É nos separar dos cuidados pelas coisas dessa vida e das coisas do mundo; que só geram ansiedade e nos deixam paralisados nas coisas do reino de Deus. Às vezes estamos tão preocupados com as coisas terrenas e carnais que não conseguimos buscar a Deus, nem muito menos servi-lo.

Calvino: “Deparamo-nos com todo gênero de cargas que nos atrasam e embaraçam nossa corrida espiritual, ou seja: o apego a esta presente vida, os deleites do mundo, os apetites da carne, as preocupações terrenas, as riquezas e honras, bem como outras coisas desse gênero”.
“do pecado que tenazmente nos assedia”O verso ainda diz que devemos nos desembaraçar do pecado. Pecado aqui nos fala da nossa natureza pecaminosa. O maior empecilho para que vivamos uma vida de adoração, de comunhão com Deus, de serviço na sua obra, quer seja evangelizar, visitar, aconselhar ou ajudar os irmãos, é o empecilho do pecado que habita em nós. (Leia Romanos 7.17-23)

Como nos livrar ou diminuir a ação do pecado em nós? Se enchendo do Espírito (Gl 5.16-17). Estamos numa luta constante e como diz o Hb 12.4: “Na vossa luta contra o pecado, ainda não tendes resistido até o sangue”.
O pecado tenazmente nos assedia (nos atrai), que nos envolve, que está ao nosso redor.
“Como um animal selvagem à noite que fica às escondidas esperando o melhor momento para atacar suas vítimas descuidadas” (Paráfrase de Robertson).

Devemos ficar mais atentos do que com relação ao Diabo. Ele também faz esse cerco com relação ao crente, mas o pecado está dentro de nós. Requer mais vigilância.
Alguns pecados que nunca conseguimos vencer nos deixam sem a capacitação e a autoridade para fazer a obra de Deus. Meditemos nisso.


Resumo: A primeira parte com relação à nossa corrida é essa: a preparação: tirar tudo aquilo que nos atrapalha, que nos amarra, que impede que corramos livremente: (a) os pesos da vida e do mundo; e (b) a natureza pecaminosa que está em nós, por isso devemos lutar contra ela nos enchendo do Espírito Santo de Deus.

2) Aperfeiçoamento 

Os cristãos têm uma corrida a correr, uma corrida de serviços e sofrimentos, ou seja, uma obediência ativa e passiva. Esta corrida (carreira) nos está proposta; foi marcada para nós por meio da Palavra de Deus e pelos exemplos dos servos do passado que foram fiéis a Deus. Tudo aquilo que precisamos para a nossa maratona cristã foi preparada por Deus.


Esta corrida deve ser com paciência e perseverança. Pois haverá a necessidade de paciência para enfrentar as dificuldades que surgem pelo caminho e de perseverança para resistir à tentação de desistir ou deixar tudo de lado. Devemos cultivar e guardar a fé e a paciência, que são graças de Deus para nós.

Os crentes têm um exemplo maior do que todos os heróis da fé que foram citados no capítulo 11, que é o Senhor Jesus Cristo. “Ohando firmemente para o Autor e Consumador da fé, Jesus” (v.2).Jesus é aquele que gerou a fé em nós. É Ele o que a aperfeiçoa e também o recompensador daquilo que Ele mesmo nos deu.

Como maior exemplo para que continuemos a nossa carreira, corrida ou maratona cristã, é preciso que observemos que Cristo também é nosso exemplo de uma pessoa que ultrapassou todas as tentações que vieram ao seu encontro:


v.2: “suportou a cruz” – chegou a pedir, se possível fosse, que passasse dele o cálice da ira de Deus sobre a sua vida. Ele suportou os pregos, a dor, a vergonha, a zombaria, a morte maldita, como um transgressor, um malfeitor vil. Tudo isso Ele suportou firme, com paciência e obstinação.


v.2: “não fazendo caso da ignomínia” (“desprezando a vergonha” – NVI) – mesmo sendo Deus, o Filho se humilhou, recebeu a oposição dos homens na vida e na morte, mas tudo isso Ele não fez caso por causa de seu amor pela igreja; Ele desprezou o desprezo que fizeram com Ele.

v.3: “suportou tamanha oposição dos pecadores” (especialmente os líderes judaicos).

Devemos olhar para Jesus como nosso exemplo maior de obediência a Deus, tanto em obedecer aos mandamentos do Pai, como de obedecer enquanto sofria a rejeição de seu próprio povo.

Devemos estar com os olhos fixos em Jesus, especialmente quando sabemos que Ele fez isso voluntariamente, pois ele troca a alegria, um estado de glória maravilhoso que fazia parte de seu estado original antes de vir à terra (“em troca da alegria que lhe estava proposta” [v.2]).
Fez tudo para reconciliar o pecador com o Criador. E Ele recebeu a recompensa pelos seus sofrimentos: “assentou-se à direita do trono de Deus” (v.2). E de lá ainda intercede por nós (Hb 7.25).

Resumo: nos preparamos para a corrida olhando para os heróis da fé do passado. Como se eles estivessem na arquibancada de um estádio e nós estivéssemos na pista de corrida. E eles não são apenas expectadores, é como se eles torcessem por nós (eu vivi pela fé, você consegue também chegar até o final. Vamos lá. Desânimo jamais!).


Conclusão
Devemos correr com paciência e perseverança, com determinação, com animo e fé, a nossa maratona cristã. Como diz o texto:


v.2: “olhando firmemente para o autor e consumador da nossa fé”. Os nossos olhos devem estar fixos em Jesus; exemplo de tudo para nós. Por isso não temos desculpas por abandonarmos a nossa corrida por qualquer motivo ou pessoa. É desculpa que não vai ser aceita no dia do juízo.

O próprio Jesus está na linha de chegada dizendo, “olhem para mim. Olhem para tudo o que eu suportei, as tentações, as calúnias, as blasfêmias, a dor; tudo isso foi por vocês. No mundo vocês passam por aflições e dificuldades, mas tenham ânimo, eu venci e vocês também vencerão. Só basta não desistir!”
v.3: “Considerai, pois, atentamente, aquele que suportou tamanha oposição dos pecadores contra si mesmo, para que não vos fatigueis, desmaiando em vossa alma”. NVI: “Pensem bem”. Ou seja, medite em tudo que Cristo sofreu. Como disse Pedro, devemos seguir os passos de Jesus também quando vêm os sofrimentos (1Pe 2.21).

João Calvino: “A súmula de tudo isso, pois, é que nos encontramos engajados num torneio, o qual se desenvolve no mais famoso dos estádios, no qual se acha presente a rodear-nos uma grande multidão de espectadores e onde o Filho de Deus preside, incitando-nos a conquistar o prêmio. Portanto, seria uma inominável desgraça pararmos cansados ou sermos dominados pela indolência bem ao meio do percurso”.


Pr. Robson Rosa Santana


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Pesquisa:
Matthew Henry, Commentary on Hebrews.
Joao Calvino, Hebreus
Robertson, Word Pictures (BibleWorks).

7 de outubro de 2009

O TRIUNFO DO PROPÓSITO REDENTOR DE DEUS (MILÊNIO) - Ap 20.1-10



O Livro de Apocalipse baseia-se no discurso de Cristo sobre as coisas do por vir. Está cheio de expressões empregadas por Jesus e tira muitas de suas figuras de Ezequiel e Daniel.

É um livro de símbolos e figuras, e constantemente causa assombro.

Por exemplo, a primeira visão de Cristo é a de alguém andando com cabelos brancos, olhos de fogo, cinto de ouro, sua língua como a de uma faca de dois gumes afiada.

Depois, ele é o Leão da tribo de Judá, depois um cordeiro. Isso só com relação a Cristo. Existem várias outras imagens, bem como sons, coros, vozes e músicas.

É um livro de guerras, mas a guerra sempre termina em paz. A palavra guerra ocorre nove vezes em Apocalipse, e apenas sete vezes em todo o restante do Novo Testamento.

É um livro de trovões e terremotos, mas eles desaparecem e são seguidos por liturgias e salmos.

É um livro de recompensas aos justos. Isso pode ser visto nas cartas às sete igrejas e nas vitórias dos justos em todos os conflitos e guerras do livro.

Portanto, é um livro de otimismo. Em toda a parte Deus vence Satanás, o cordeiro triunfa, a Babilônia perece, etc.

O propósito do livro foi confortar os cristãos do primeiro século que sofriam violentas perseguições e de confortar os cristãos de todos os tempos. A visão do Cristo triunfante sobre as perseguições e a morte, reinando do céu, é uma garantia certa do triunfo de todos os crentes na terra e no céu. O livro inspira gratidão, confiança e esperança aos perseguidos de todas as épocas.

Existe praticamente unanimidade sobre a extensão do tempo quando os acontecimentos das visões deverão cumprir-se. É a extensão do tempo entre a primeira e a segunda vinda de Cristo. Só não há unanimidade sobre os momentos em que exatamente acontecerão.

O melhor, porém, é compreender a estrutura do livro como composta por sete seções paralelas. Ou Sete painéis,

Cada seção representa todo o tempo entre a primeira e a segunda vinda de Cristo.

Cap 1-3 = Cristo ressurreto e glorificado andando no meio dos sete candeeiros de outro, dirigindo-se às 7 igrejas da Ásia. Claramente forma uma unidade.

Cap 4-7 = João tem a visão dos sete selos. Nesta visão vemos a igreja passando por provações e perseguições, tendo como pano de fundo a vitória de Cristo.

Cap 8-11 = descreve as sete trombetas de julgamento. Vê-se a igreja vingada, protegida e vitoriosa.

Cap 12-14 = visão da mulher dando à luz um filho, Jesus Cristo, e tentativa de devorá-lo por parte de satanás. E continua falando da oposição de Satanás, por meio das duas bestas.

Cap 15 e 16 = descreve as sete taças da ira de Deus, isso demonstra a forma como Deus visitará os impenitentes no juízo final.

Cap 17-19 = descreve a queda da Babilônia e das bestas.

Cap 20-22 = narra o fim do dragão, que é Satanás, e assim finaliza a derrota dos inimigos de Cristo. Além disso, descreve o juízo, o triunfo final de Cristo e sua Igreja e o universo restaurado, os novos céus e nova terra.

Além do paralelismo que existem entre essas secções, há também uma nítida progressão, por isso pode-se dizer que Apocalipse tem o método de interpretação chamado paralelismo progressivo.

As seções encaram esse período sob diversos enfoques. Assim as seções das trombetas, das taças da ira, da luta entre a mulher e o dragão, da prisão de Satanás no cap. 20, etc., correm paralelas e todas terminam com o juízo final. A extensão do tempo, expressa por diversas medidas: 42 meses, 1260 dias, um tempo, tempos e metade de tempo, é a mesma. Segundo Hendriksen, “nas seções ainda ocorre um clima ascendente do ponto de vista escatológico. O juízo final é primeiro anunciado, depois introduzido e finalmente descrito. O novo céu e a nova terra são descritos mais plenamente na seção final do que nas seções precedentes”.

É consenso que o livro foi escrito pelo apóstolo João, em cerca de 95 d.C., época de grande perseguição sofrida pelo imperador Domiciano.

O Livro de Apocalipse é com certeza um livro misterioso, por usar uma linguagem cheia de símbolos. Devemos entender o momento histórico em que ele foi escrito, para podermos entendê-lo melhor. A linguagem cheia de símbolos utilizada pelo escritor era de fácil compreensão para os cristãos daquela época, eles conheciam os códigos, já para os gentios era impossível saber ao certo do que tratava o livro.

O texto que ora acabamos de ler, encontra-se na última secção do livro. E assim, como as outras secções, retrata um período entre a primeira e a segunda vinda de Cristo.

Todo o livro fala da confiança e esperança que os crentes devem ter no Cristo que reina e obterá vitória final sobre todos os seus inimigos.

Em face disso, gostaria de falar sobre:

O TRIUNFO DO PROPÓSITO REDENTOR DE DEUS

1. O Aprisionamento de Satanás

Apocalipse 20:1 Então, vi descer do céu um anjo; tinha na mão a chave do abismo e uma grande corrente.

2 Ele segurou o dragão, a antiga serpente, que é o diabo, Satanás, e o prendeu por mil anos;

3 lançou-o no abismo, fechou-o e pôs selo sobre ele, para que não mais enganasse as nações até se completarem os mil anos. Depois disto, é necessário que ele seja solto pouco tempo.

O Ap fala de vários espaços de tempo, tais como 1260 dias, 42 meses, 1 tempo, tempos e metade de um tempo, bem assim, 1000 anos, é um tempo simbólico. Um texto que pode clarear isso é 2 Pe 3:8 quando o apóstolo argüiu que: “para o Senhor, um dia é como mil anos, e mil anos, como um dia”.

Esse texto nos ajuda a lembrar que o relógio de Deus não corre pelo nosso e que tempos, estações e programas estão com Ele.

O livro foi escrito para confortar os santos, e, não, para gerar discussão entre eles.

No entanto, é preciso ressaltar que existem 4 posições quanto ao Milênio:

Pré-milenismo dispensacionalista

Pré-milenismo histórico

Pós-milenismo

Amilenismo

O primeiro é o mais difundido no meio evangélico, talvez 90% dos cristãos são, de alguma forma, adeptos dessa corrente. Têm como princípio a interpretação literal. Por exemplo, os batistas e quase todos os pentecostais são pré-milenistas dispensacionalistas, ou seja, crêem num reino literal de mil anos de Cristo antes do juízo final.

Não posso expor todos os princípios dessa corrente, mas eles fazem separação entre Reino e Igreja. Cristo veio para estabelecer o reino messiânico e foi rejeitado, logo, não reinou, segundo eles. Por isso, ele precisa voltar novamente para reinar. Desse modo, eles transferem o Reino para o futuro, e diz que a fundação da Igreja é como um parêntese até que o Reino seja estabelecido, mas eles esquecem que o próprio Jesus rejeitou o reinado terreno, ver João 6:15 Sabendo, pois, Jesus que estavam para vir com o intuito de arrebatá-lo para o proclamarem rei, retirou-se novamente, sozinho, para o monte. João 19:36 está escrito: Respondeu Jesus (a Pilatos): O meu reino não é deste mundo. Se o meu reino fosse deste mundo, os meus ministros se empenhariam por mim, para que não fosse eu entregue aos judeus; mas agora o meu reino não é daqui.

O Reino de Cristo é espiritual, vejamos a interpretação de Pedro acerca daquele reinaria no trono de Davi: Atos 2.30, 31: Sendo, pois, profeta e sabendo que Deus lhe havia jurado que um dos seus descendentes se assentaria no seu trono, prevendo isto, referiu-se à ressurreição de Cristo, que nem foi deixado na morte, nem o seu corpo experimentou corrupção.

Desse modo, é incontestável que Cristo já está reinando nos céus, à destra do Pai.

Deve-se entender que Cristo está reinando durante o milênio que já está se realizando, ou seja, no período entre a sua primeira e segunda vinda.

Além do mais, se formos olhar a ordem dos fatos no texto de Ap. 20, veremos que a ordem é a seguinte: milênio, pouco tempo de satanás, segunda vinda, ressurreição de todos os mortos e juízo final.

Essa é a ordem que está na Bíblia e esta ordem demonstra que Cristo virá depois do milênio, não antes do milênio, nem para iniciar o milênio.

Quanto à prisão de Satanás, é preciso entender que não significa uma restrição total da obra satânica. A linguagem é simbólica: corrente, abismo, prisão. No entanto, quer dizer que ele foi amarrado de alguma forma, não o sabemos como, mas foi.

Esse aprisionamento de Satanás começou quando Cristo o venceu na tentação do deserto, e continuou quando Ele começou a expulsar os demônios, por isso Ele disse: Mt 12:28: Se, porém, eu expulso demônios pelo Espírito de Deus, certamente é chegado o reino de Deus sobre vós. 29 Ou como pode alguém entrar na casa do valente e roubar-lhe os bens sem primeiro amarrá-lo? E, então, lhe saqueará a casa.

Ver também Jo 12.31, 32.

Segundo Hendriksen, a prisão de Satanás e o fato de que ele é lançado no abismo por mil anos indicam que durante esta presente era evangélica a influência do diabo é cerceada. Ele é incapaz de impedir a expansão da Igreja entre as nações por meio de um programa missionário ativo. Ao longo desse período ele é impedido de incitar as nações – o mundo em geral – a destruir a Igreja como instituição missionária poderosa. Mediante a pregação da Palavra aplicada pelo Espírito Santo, os eleitos, de todas as partes do mundo, são levados das trevas para a luz.

Depois desse período de restrição, ele será solto por um breve tempo.

2. O Reinado dos Santos com Cristo

4 Vi também tronos, e nestes sentaram-se aqueles aos quais foi dada autoridade de julgar. Vi ainda as almas dos decapitados por causa do testemunho de Jesus, bem como por causa da palavra de Deus, tantos quantos não adoraram a besta, nem tampouco a sua imagem, e não receberam a marca na fronte e na mão; e viveram (e;zhsan) e reinaram com Cristo durante mil anos.

5 Os restantes dos mortos não reviveram (e;zhsan, v.4) até que se completassem os mil anos. Esta é a primeira ressurreição.

6 Bem-aventurado e santo é aquele que tem parte na primeira ressurreição; sobre esses a segunda morte não tem autoridade; pelo contrário, serão sacerdotes (Ap 1.6) de Deus e de Cristo e reinarão com ele os mil anos.

Mil anos do v.3 e v.4 são concomitantes. Ver tb v.6. “os mil anos”

Depois da visão da prisão de Satanás, João vê tronos e aqueles que reinam com Cristo: “autoridade para julgar”; “almas dos decapitados” (perseguição da época); “não adoraram a besta...” ou seja, a totalidade dos crentes que morreram. Mas estão vivos com Cristo, já estão desfrutando da benção com Jesus em seu estado intermediário. Viveram (ezesan) retrata essa vida, vem do verbo zao, subst. Zoe – vida (eterna) Jo 3.16. Normalmente, João no Evangelho, quando quer falar de vida eterna ele usa zoe.

Além do mais o texto fala das “almas dos decapitados”, a psique. E não os corpos deles, o que aconteceria com uma ressurreição do corpo. João diz que viu “as almas”, não viu os “os corpos” dos mártires. Se o significado óbvio dessa passagem for o significado correto; se ele viu as “almas” dos mártires, não os “corpos”, isso pareceria excluir a noção de uma ressurreição literal, e, como conseqüência lógica, derrubaria muita das teorias de uma ressurreição literal e de um reino dos santos durante os mil anos do milênio.

Vemos também que depois do pouco tempo que restou para Satanás seduzir as nações, fala da ressurreição geral v.12-15 e um julgamento geral também, os crentes entram no novo céu e nova terra, enquanto os impenitentes irão para o lago de fogo e enxofre, essa é a segunda morte.

Aqui retrata a vida eterna que o crente já desfruta quando crer em Cristo, e continua depois da morte física, até a sua segunda vinda, quando os corpos serão ressuscitados.

Paulo diz acerca do depois da morte: Fp 1:23 Ora, de um e outro lado, estou constrangido, tendo o desejo de partir e estar com Cristo, o que é incomparavelmente melhor.

V.5 diz que os restantes dos mortos não reviveram (e;zhsan - viveram), continuam mortos em seus delitos, separados de Deus. Essa é a primeira morte. Contrastada com a segunda morte do verso 6.

Em Ap 1.6 diz ele Jesus nos constituiu reino e sacerdotes para o seu Deus e Pai... Na terra já fazemos parte do seu reino e também somos sacerdotes. No céu, depois da morte do crente, reinaremos com ele e continuaremos a servir a Deus de forma mais plena, ainda que não totalmente plena, uma vez a plenitude do sacerdócio acontecerá quando formos ressuscitados em nossos corpos.

3. O Triunfo Final de Cristo sobre seus Inimigos

7 Quando, porém, se completarem os mil anos, Satanás será solto da sua prisão

8 e sairá a seduzir as nações que há nos quatro cantos da terra, Gogue e Magogue, a fim de reuni-las para a peleja. O número dessas é como a areia do mar.

9 Marcharam, então, pela superfície da terra e sitiaram o acampamento dos santos e a cidade querida; desceu, porém, fogo do céu e os consumiu.

10 O diabo, o sedutor deles, foi lançado para dentro do lago de fogo e enxofre, onde já se encontram não só a besta como também o falso profeta; e serão atormentados de dia e de noite, pelos séculos dos séculos.

O texto nos diz que Satanás será solto para seduzir as nações por pouco tempo. Ele bem sabe que seu destino está predito e assim acontecerá. Ele fará tudo aquilo que Deus nos avisou por intermédio de João. Como diz Martinho Lutero, “O Diabo é o Diabo de Deus”.

Ele será solto, mas seu intento será frustrado. Ele é um derrotado insistente. Ele é como aqueles rebeldes chechenos que tentaram se rebelar contra o governo russo, mas foram totalmente aniquilados. A vitória do Senhor é certa. Satanás nunca foi obstáculo para os planos do Senhor. É como a guerra dos Estados Unidos contra o desfacelado Afeganistão. Só que com uma diferença, enquanto as guerras terrenas envolvem muitas injustiças e situações excusas, a guerra de Deus é santa e justa. Ele está irado contra toda impiedade e injustiça, e um dia Ele porá um fim a tudo isso.

Ele enviará fogo do céu e porá o diabo, as bestas, os seus demônios e todos os pecadores impenitentes no lugar que lhes cabe, ou seja, o lago de fogo e enxofre. O juízo é severo, no entanto ressalta o quanto Deus é insultado em seu governo e santidade. O juízo é na mesma medida do ultraje que lhes fazem.

Conclusão

1ª) mesmo em face das maiores tribulações e sofrimentos por causa do nome de Cristo, nunca podemos esmorecer, uma vez que Ele reina e promete glórias indizíveis para aquele que permanecer fiel e perseverante. Esse foi o propósito primeiro de Cristo ter deixado para os cristãos do final do primeiro século, essas revelações acerca da sua vitória, bem como da igreja, sobre todos os seus e nossos inimigos.

2ª) Jesus deixa um alerta para que ela esteja atenta e vigilante. Não devemos esperar como se Jesus não viesse. Ele está às portas, em breve voltará. A Igreja deve continuar seu processo de santificação, através da vida individual de cada crente. Pois João escreveu em 22.11: continue o justo fazendo injustiça, continue o imundo ainda sendo imundo; o justo continue na prática da justiça, e o santo continue a santificar-se.

A vitória de Cristo é certa, não importa qual situação você esteja vivendo, Ele está reinando com os que partiram nele, essa é bendita esperança da Igreja!


23 de setembro de 2009

Heresias na Igreja Evangélica Brasileira

INTRODUÇÃO

O nosso propósito com esse estudo é mostrar algumas Heresias na Igreja Evangélica Brasileira, bem como o ensino bíblico correto. Falo algumas porque seria muito difícil enumerar e avaliar todas as nuanças dos ensinos heréticos dentro da Igreja Brasileira. 

E quando falo da igreja, quero especificar, mais claramente as Igrejas Neopentecostais, pois são dessas igrejas que proliferam com maior evidência as heresias. 

É óbvio que heresias estão entrando nas igrejas pentecostais históricas, e não podemos excluir que sua influência chega também às tradicionais, como as Presbiterianas, Batistas, Metodistas; porém nestas ocorrem como focos isolados de pessoas “fisgadas” pelo ensino de espíritos enganadores, ou no máximo uma boa parte da congregação. 

Mas antes de entrarmos nas heresias propriamente ditas, gostaríamos de diferenciar Seita de Heresia. A palavra seita significa “partido”, “corrente de pensamento”. No sentido original não era pejorativo (At 24.5,6). Em nossos dias tem a ver com um movimento ou instituição que segue um líder humano em torno de doutrinas deturpadas ou errôneas extraídas da Bíblia. 

Heresia, por sua vez, é derivada da palavra grega haíresis e significa “falso ensino”, ou seja, uma exposição de uma ou mais doutrinas que não condizem com as Escrituras. É uma abordagem sutil e distorcida do cristianismo bíblico. 

Como falei antes, as heresias estão mais evidentes nas igrejas neopentecostais, e as que abordaremos aqui são as que causam mais impacto. Em suma, essas igrejas estão ligadas a doutrinas da Teologia da Prosperidade ou Confissão Positiva. Citarei algumas dessas igrejas e seus líderes sem a pretensão de julgá-los ou incriminá-los. Igrejas: Internacional da Graça de Deus, Universal do Reino de Deus, Mundial do Poder de Deus, Ministério Palavra da Fé, Sara Nossa Terra, Fonte da Vida, Verbo da Vida, Verbo Vivo, Cristo Vive, Renascer em Cristo. Líderes: Miss. R. R. Soares, Bispo Edir Macedo, Miss. Valnice Milhomes, Jorge Linhares, Jorge Tadeu, Cácio Colombo, Miguel Ângelo da Silva Ferreira, Estavam Hernandes, Valdemiro, etc. 1.


1. ORAÇÃO E SOBERANIA DE DEUS

Quando vemos líderes de determinadas igrejas fazendo oração, em programas de televisão e rádio, ou em livros, dá para ficar estarrecido com seu modo de falar com Deus. Suas palavras revelam que a soberania de Deus é ignorada. Não se chega na presença de Deus com um coração de servo, contrito e compungido. Mas, sob a alegação de fé, é exigido de Deus que responda as suas orações como uma apropriação. Os verbos usados, principalmente, são: exigir, decretar, reivindicar e determinar. Não se dá espaço para a expressão “seja feita a tua vontade”. 

A vontade de Deus deve ser feita de acordo com a vontade deles. A título de exemplo, certa feita um desses pastores disse que na igreja dele não tinha esse negócio de “se Deus quiser”, pois lá Deus quer. E não tinha isso de “bater” (Lc 11.9), pois se não abrir, ele arrebenta a porta! 

O verbo pedir perdeu o significado. Isso é um conceito muito diferente daquele ensinado nas Escrituras. “O verbo pedir em João 14.13,14 sugere a atitude suplicante, uma petição de alguém que está em posição menor a daquele a quem é feita a petição”.[1] Vários textos mostram essa atitude do coração ao orarmos ao Pai (Mt 7.11; At 12.20; Ef 3.20; Cl 1.9; Tg 1.5-6 e 1 Jo 5.14-15). O próprio Jesus buscou fazer a vontade do Pai (Jo 4.34; 5.30; 6.38; 7.17). Os cristãos podem ser específicos em suas petições que faz a Deus, derramando seus corações e compartilhando seus desejos, mas não deve esquecer que Ele é quem sabe o que é melhor para suas vidas.


2. CRENTES ENDEMONINHADOS

Fui testemunha desse ensino. Ao visitar uma determinada Comunidade Evangélica em Goiânia, fui surpreendido ao final do culto quando o missionário começou a orar pelas pessoas, e jovens obreiros que davam assistência ao culto foram até o altar e ficaram endemoninhados, precisando de orações para serem libertos. 

Será que o crente fica endemoninhado? Quando analisamos a prática de algumas das igrejas neopentecostais, vemos que a característica principal desses movimentos é a expulsão de demônios, pois para eles todos os males são causados por alguma atuação do maligno. 

Tanto no âmbito da pessoa, da sociedade, como da igreja e dos crentes individualmente, tudo que acontece de ruim são resultados da obra de espíritos malignos. O "bispo" Edir Macedo, no livro Orixás, Caboclos & Guias: deuses ou demônios?, começa o cap. 15 dizendo: “Este capítulo não existiria se eu não tivesse visto constantemente pessoas de várias denominações evangélicas caírem endemoninhadas, como se fossem macumbeiras, ao receberem a oração da fé”.[2] Como disse Macedo, esses fatos são “casos” que presenciou, logo, fruto da experiência que teve e tem, em vez de citação ou exemplo bíblicos.

Na verdade, a Bíblia nos dá conta que o crente genuíno não pode ficar endemoninhado. Como diz o dr. Augustus Nicodemus Lopes, “a Escritura ensina que o crente está assentado com Cristo nos lugares celestiais, acima de todo principado e potestade (Ef 1.21-22). O crente está em Cristo, e Cristo nada tem a ver com o maligno (Jo 14.30). E, naturalmente, o diabo não toca os que são de Cristo (1 Jo 5.18), pois o que está no crente (o Espírito Santo) é maior que os espíritos malignos que habitam este mundo (1 Jo 4.4)”[3]. 

Crente genuíno não pode ficar endemoninhado. O nominal sim, mas o regenerado e habitado pelo Espírito Santo, nunca!


3. CURAS

O argumento principal é o de que Deus cura sempre e a todos. Seus advogados dizem “que Deus prometeu curar a todos os doentes, pois as doenças não são da vontade dEle para o seu povo, pois Deus é amor”.[5] O texto chave usado é Is 53.5: “…o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos sarados”. Por isso, se algum crente está doente é por causa de pecado ou falta de fé. 

O apologeta Paulo Romeiro argumenta: “Apesar de ter sido um profeta de Deus e de ter tido um ministério marcado por muitos feitos sobrenaturais, Eliseu morreu em consequência de uma enfermidade. Será que ele não tinha fé ou estava em pecado?”.[6] 

Podemos citar outros homens de Deus que ficaram doentes e podemos fazer a mesma pergunta, como por exemplo Paulo (2 Co 12.7-10), Timóteo (1 Tm 5.23,) Trófimo (2 Tm 4.20) e Epafrodito (Fp 2.30).

O texto de Isaías se refere a cura no aspecto geral da pessoa, primeiramente a cura da alma, através do perdão dos pecados, bem como a cura física. Nada melhor do que o Novo Testamento interpretar textos do Antigo. Por exemplo, Mateus 8.16-17 foca na cura de doenças e enfermidades, incluindo libertação demoníaca. Em alguns casos, as enfermidades são causadas por demônios. Veja o texto citado acima: "Chegada a tarde, trouxeram-lhe muitos endemoninhados; e ele meramente com a palavra expeliu os espíritos e curou todos os que estavam doentes; para que se cumprisse o que fora dito por intermédio do profeta Isaías: Ele mesmo tomou as nossas enfermidades e carregou com as nossas doenças".

O apóstolo Pedro fala também da obra de Cristo na cruz que nos sara das consequências do pecado. Diz ele em 1 Pedro 2.24: "carregando ele mesmo em seu corpo, sobre o madeiro, os nossos pecados, para que nós, mortos para os pecados, vivamos para a justiça; por suas chagas, fostes sarados." (sublinhado meu para se reportar o texto de Isaías).

Nesse sentido é importante destacar. O sacrifício ("chagas") de Jesus nos cura por completo, tanto no corpo, como na alma. Mas mesmo sendo salvos pela obra da cruz ainda, por vezes, pecamos contra os santos mandamentos do Senhor. Assim, da mesma forma, ainda nesse mundo atual, ficamos doentes. Sua obra se tornará plena quando nos encontrarmos com Ele. Seja quando morrermos, ou, ainda vivos, no encontro com o Senhor Jesus nos ares, na Sua segunda vinda.


4. MALDIÇÃO HEREDITÁRIA

A base bíblica que têm é especialmente o texto de Ex 20.5-6, onde Deus diz: “visito a iniquidade dos pais nos filhos até a terceira e quarta geração daqueles que me aborrecem…”. Na verdade, esta expressão “não indica a existência de uma maldição hereditária, mas que qualquer violação da lei de Deus numa geração, fatalmente irá afetar as gerações futuras”.[7] 
As consequências da desobediência vão até a terceira e quarta geração, no entanto, os frutos da obediência não têm fim. 

Quando analisamos coerentemente essa palavra do Senhor, vemos que não se trata de maldição hereditária. Recorrendo a outros textos em que o Senhor fala, essa possibilidade é irreal. Vejamos: “Que tendes vós, vós que, acerca da terra de Israel, proferis este provérbio, dizendo: Os pais comeram uvas verdes, e os dentes dos filhos é que se embotaram? Tão certo como eu vivo, diz o SENHOR Deus, jamais direis este provérbio em Israel. Eis que todas as almas são minhas; como a alma do pai, também a alma do filho é minha; a alma que pecar, essa morrerá” (Ez 18.2-4). 

Desse modo, chega-se a algumas conclusões. Primeiro, ninguém paga por ninguém (cp. Rm 14.12). Segundo, em Cristo somos absolvidos (Rm 8.1). E, por último, Cristo se tornou maldição por nós (Gl 3.13). Há outras conclusões, mas creio que estas são suficientes (leia Nm 23,8 e 23 – Ninguém pode amaldiçoar o povo de Deus se este não quiser).


5. PROSPERIDADE FINANCEIRA

O conceito de prosperidade financeira faz parte do conceito maior da Teologia da Prosperidade ou Confissão Positiva. Dentro desta percebe-se ensinos como a diferenciação entre Logos e Rhema [8], a Saúde Perfeita, Cura para Todos, Oração da Fé [9] e a Prosperidade Financeira [10]. 

Kenneth Hagin, o porta-voz da Confissão Positiva, disse: “Deus quer que seus filhos usem a melhor roupa. Ele quer que eles dirijam os melhores carros e quer que eles tenham o melhor de tudo… simplesmente exija o que você precisa (New Thresholds of Faith, [Novos Limiares da Fé] 1985, p.55). 

A loucura chega a ponto de ensinar que o próprio Senhor Jesus foi um homem rico (pelo fato de ter um tesoureiro), ter boas vestes (a túnica sem cortes) e usado o melhor veículo (um jumentinho) da época, que segundo eles é comparado ao Cadillac. 

Mas quando estudamos a Bíblia, vemos que as coisas não são bem assim. Jesus nasceu em um curral, e durante o seu ministério não tinha onde reclinar a cabeça. No Antigo Testamento vemos Deus se preocupando com a situação do pobre (Dt 15.11). Jesus endossa o que o Pai desejava (Mc 14.7). Também Paulo demonstra sua preocupação (1 Co 11.22). 

Um evangelho que se preocupa essencialmente com a questão de posses financeiras levanta a questão da crise do ser e do ter. Falando sobre o materialismo e o cristão, a artista Joni Eareckson Tada diz: “A essência do Evangelho não é a saúde, nem a prosperidade, nem a felicidade, mas a submissão a Cristo”.[11]


6. MOVIMENTO G-12

Poderíamos tratar de algumas heresias dentro do Movimento G-12 que afetam a doutrina do ser de Deus (Teontologia), entre outras, mas algumas desses aspectos coincidem com ensinos Neopentecostais, inclusive quanto à liderança das igrejas, pois “defende o fim de colegiados, conselhos e assembleias, e propõe um sistema totalitário e personalista” [12]. 

O fundador “visionário” desse movimento, o colombiano César Castellanos escreveu: “A época das assembleias e dos comitês de anciãos para dar passos importantes na Igreja, já passou na história. Estou convencido de que Deus dá visão ao pastor e nessa medida é a ele que o Espírito Santo fala, indicando-lhe até onde deve mover-se” [13]. 

Desse modo, a autoridade e suficiência das Escrituras foram negadas, a exemplo de Dt 1; At 15; 1 Tm 1.6-16.


CONCLUSÃO

Realmente é de ficar triste e estarrecido quando se olha a situação da igreja evangélica no Brasil. Cristãos de outras nações, quando olham para o fenômeno de crescimento numérico dos evangélicos em nosso país, ficam maravilhados por tal crescimento. Chegam até a dizer que estamos passando por um avivamento. Mas quando se olha para as distorções e os custos desse crescimento, começamos a perguntar se vale crescimento a qualquer custo, especialmente em detrimento da sã doutrina tão vital para a sobrevivência da Igreja do Senhor Jesus Cristo. 

Não se pode negar que o crescimento evangélico tem sido grande, mas também vem acompanhado por heresias devastadoras, como câncer que corrói (2 Tm 2.17). Muitos se ufanam com números e o fervor “evangelístico” da maioria das igrejas, principalmente as de cunho neopentecostal, que são as que mais crescem. 

Creio que a palavra inspirada de Paulo a Timóteo se aplica a essas igrejas e seus líderes carismáticos, e também deve nos deixar alertas com a cobrança que nos é imposta para crescermos igualmente: “Pois haverá tempo em que não suportarão a sã doutrina; pelo contrário, cercar-se-ão de mestres segundo as suas próprias cobiças, como que sentindo coceira nos ouvidos; e se recusarão a dar ouvidos à verdade, entregando-se às fábulas”. 

Esse tempo chegou ao Brasil. “Não me venham com doutrina!”, dizem. Doutrina tem hoje um sentido pejorativo, como algo que denota e gera frieza e inatividade na obra de Deus. Mas muito do evangelho oferecido por aí tem a motivação no homem e em “suas próprias cobiças”. O que sobra são as fábulas que têm sido ensinadas como a verdade. 

A recomendação paulina é para nós hoje: “prega a palavra, insta, quer seja oportuno, quer não, corrige, repreende, exorta com toda a longanimidade e doutrina” (2 Tm 4.1-2).


Robson Rosa Santana
Pastor presbiteriano


* Atualizado em 09/05/2024


NOTAS DE REFERÊNCIA

[1] Paulo César Nunes, O Neopentecostalismo, in Currículo Aventura Cristã: Seitas e Heresias, (São Paulo: Cultura Cristã, 1988), p. 21.
[2] Bispo Macedo, Orixás, Caboclos & Guias: deuses ou demônios?, 13a ed., (Rio de Janeiro: Universal, 1996), p. 115.
[3] Augustus Nicodemus Lopes, O Que Você Precisa Saber Sobre Batalha Espiritual, 2a ed., (São Paulo: Cultura Cristã, 1998), 89.
[4] Paulo César Nunes, “O Neopentecostalismo”, p.22.
[5] Citado por Gildásio Jesus B. dos Santos, O Evangelho da Prosperidade, in Revista Educação Cristã: Entendendo as Religiões Hoje, 3a ed., (Santa Bárbara D’Oeste: SOCEP, 2000), p. 12.
[6] Paulo Romeiro, Supercrentes: o Evangelho segundo Kenneth Hagin, Valnice Milhomes e os profetas da prosperidade, 7a ed., (São Paulo: Mundo Cristão, 1998), 31. Quanto a morte de Eliseu ver 2 Rs 13.14-20.
[7] Arival Dias Casimiro, “Bênção e Maldição”, in Revista Educação Cristã: Entendendo as Religiões Hoje, 23.
[8] Pedro usa as duas palavras como sinônimos em 1 Pe 1.23-25.
[9] Em detrimento da soberania de Deus, como vimos antes.
[10] Para análise de todas essas heresias ver o capítulo 3 do livro Supercrentes, de Paulo Romeiro, citado anteriormente.
[11] Revista Raio de Luz, Ano 21, no 82 (jul., ago., set.), 1991, p.15.
[12] Jôer Corrêa Batista, “Movimento G-12: Uma Nova Reforma ou Velha Heresia?”, Fides Reformata V.5, Nº1 (Janeiro-Junho 2000), 38.
[13] César Castellanos Domínguez, Sonhas e Ganharás o Mundo, (São Paulo: Palavra da Fé, 1999), 146.

22 de setembro de 2009

O Verdadeiro Significado da Páscoa (Êxodo 12.1-28)

 Introdução

Nos dias atuais, a Páscoa tornou-se, para muitos, apenas uma data comercial. É comum vermos a troca de ovos de chocolate — um costume que tem suas raízes no folclore pagão relacionado ao início da primavera no hemisfério norte (Europa).

Nesse contexto, surge também a figura do coelho. Sua origem remonta ao culto à deusa anglo-saxã da luz, chamada Eostre, cujo animal sagrado era uma lebre. Em algumas representações, essa deusa aparece com cabeça de coelho, reforçando o símbolo da fertilidade — tanto os ovos quanto os coelhos têm esse significado e são de origem pagã.

Da tradição católica romana, herdou-se o costume de comer peixe, especialmente o bacalhau, durante a Semana Santa. Práticas assim, por meio de um “jeitinho religioso”, foram sendo inseridas dentro da narrativa da celebração bíblica.

Mas eu insisto: qual é o verdadeiro significado da Páscoa?
Para nós, cristãos evangélicos — e, em especial, dentro de uma perspectiva reformada — o que ela representa?

 Contexto Bíblico

O texto de Êxodo 12 descreve a instituição da Páscoa por Deus, no meio de Seu povo, Israel.

O livro de Gênesis termina com a história de José, vendido como escravo ao Egito, mas que, pela providência soberana de Deus, interpreta o sonho do faraó (das sete vacas magras e sete gordas) e torna-se o segundo homem mais poderoso do Egito.

Como governador, José organiza o armazenamento de cereais durante os anos de fartura. Quando chega o tempo da escassez, povos vizinhos vêm ao Egito comprar alimento — inclusive sua própria família, que passa a viver ali, cerca de 70 pessoas ao todo.

Com o tempo, José morre e se levanta um novo faraó que não conhecia sua história. Assim, o povo de Israel é subjugado e feito escravo por 430 anos.

Deus, ouvindo o clamor de Seu povo, levanta Moisés para libertá-los. Moisés, um hebreu criado como príncipe egípcio, confronta o faraó sob a ordem divina: “Deixa o meu povo ir.” O faraó resiste, e então o Senhor envia dez pragas para humilhar os deuses do Egito (Ex 12.12):

1.        Águas em sangue

2.        Rãs

3.        Piolhos

4.        Moscas

5.        Peste nos animais

6.        Úlceras

7.        Chuva de pedras

8.        Gafanhotos

9.        Trevas

10.    Morte dos primogênitos

 Na décima praga, o Exterminador passou pelas casas dos egípcios, mas poupou os primogênitos de Israel. Como? O sangue do cordeiro pascal foi aspergido nos batentes das portas (hoje diríamos: no “caixão das portas”), e o Senhor passou por cima dessas casas.

A palavra hebraica para Páscoa (pesah) significa justamente isso: “passar por cima” ou “poupar”.

Se alguém lhe perguntar como surgiu a festa da Páscoa, a resposta correta é: a Páscoa é a celebração da libertação do povo de Israel da escravidão do Egito, pelo poder de Deus.

 Nomes da festa na Bíblia:

·  “A Páscoa do Senhor” (Êx 12.11, 27)

·  “A festa dos pães asmos” (Lv 23.6; Lc 22.1)

·  “O dia dos pães asmos” (At 12.3; 20.6)

Como era celebrada a Páscoa?

“No entardecer do dia 14 de Nisã (Abibe), os cordeiros da páscoa eram mortos. Depois de assados, eram comidos com pães asmos e ervas amargas (Êx 12.8), enfatizando a necessidade de uma saída apressada e relembrando a amarga escravidão no Egito” (EHTIC, vol. III, p. 101).

A refeição pascal consistia em:

·       Cordeiros de 1 ano (sem defeito),

·       Pães asmos (sem fermento),

·       Ervas amargas (v.8), lembrando a opressão.

 E como deveriam ser comidos? (v.11)

“Ao comerem, estejam prontos para sair: cinto no lugar, sandálias nos pés e cajado na mão. Comam apressadamente. Esta é a Páscoa do SENHOR” (NVI).

A celebração, portanto, tinha um caráter memorial e pedagógico — era o lembrete anual da salvação providenciada por Deus.

 E no Novo Testamento?

Diante da afirmação bíblica de que a Páscoa seria um "estatuto perpétuo" (Ex 12.14,17), como a entendemos agora, no tempo da graça?

A resposta é: celebramos a Páscoa, sim, mas sob a Nova Aliança — a Páscoa Cristã!

Na última ceia, Jesus celebrou a antiga Páscoa e, ao mesmo tempo, instituiu a nova (Leia Marcos 14.12-17, 22-26).

 Segundo Barclay (Bíblia Vida Nova), os elementos da ceia pascal judaica incluíam:

·       O cordeiro pascal, lembrando a proteção do sangue no Egito (Êx 12);

·       Pães asmos, sinal da pressa na saída;

·       Água salgada, representando lágrimas e o Mar Vermelho;

·       Ervas amargas, a amargura da escravidão;

·       Sopa de frutas, a obrigação de fazer tijolos;

·       Quatro cálices de vinho, simbolizando as promessas de Êxodo 6.6-7.

 Jesus e os discípulos celebraram essa ceia (Mc 14.17). E ali, Ele reinterpretou os elementos, apontando para Si mesmo: “Isto é o meu corpo” (Mc 14.22), “Isto é o meu sangue, o sangue da nova aliança, derramado em favor de muitos” (Mc 14.24; cf. Êx 24.6-8)

 João Batista o havia anunciado: “Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo” (Jo 1.29, 36). Jesus é o nosso verdadeiro Cordeiro Pascal (1 Co 5.7).

 Conclusão

Nem ovos de chocolate, nem coelhinho, nem ervas amargas. A Páscoa é a celebração da morte e ressurreição de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo.

Na Nova Aliança, a Páscoa se cumpre em Cristo. Celebramo-la, de modo especial, todas as vezes que participamos da Ceia do Senhor.

 Agora, os elementos são outros:

·       Pão, simbolizando o Seu corpo oferecido por nós;

·       Vinho, representando o Seu sangue derramado — pois “sem derramamento de sangue, não há remissão” (Hb 9.22; cf. Mt 26.28; Ef 1.7).

 

A Ceia é um memorial:

1.        Do passado: o sacrifício de Cristo por nossos pecados;

2.        Do presente: nossa comunhão com Ele e com os irmãos;

3.        Do futuro: nossa viva esperança, pois anunciamos a Sua morte “até que Ele venha”.

 A Ceia é também um meio de graça:

“Porventura, o cálice da bênção que abençoamos não é a comunhão do sangue de Cristo? O pão que partimos não é a comunhão do corpo de Cristo?  17 Porque nós, embora muitos, somos unicamente um pão, um só corpo; porque todos participamos do único pão.” (1 Coríntios 10.16-17). Significa a benção da comunhão espiritual com Cristo, bem como com nossos irmãos.*

 A mensagem central da Páscoa permanece a mesma:

Pesah — “passar por cima”, “poupar”. Libertação por meio do Cordeiro.

“Pois ele nos resgatou do domínio das trevas e nos transportou para o Reino do seu Filho amado, em quem temos a redenção, a saber, o perdão dos pecados.” (Cl 1.13-14, NVI)

Soli Deo Gloria

 

* Sobre a presença espiritual de Cristo na Santa Ceia veja esse outro meu artigo: https://e-missional.blogspot.com/2018/07/calvino-e-presenca-espiritual-de-cristo.html 

 

Pr. Robson Rosa Santana

Fontes de pesquisa (além da Bíblia):

  • Buckland, Dicionário Bíblico Universal, Editora Vida.
  • W. E. Elwell (ed.), Enciclopédia Histórico-Teológica da Igreja Cristã, Edições Vida Nova.
  • Gabriela Sampaio, “O Coelho da Páscoa”, em: http://www.msn.com.br/homem/classicos/Default.asp (acesso em 27 de março de 2005)