22 de junho de 2017

Definindo Missional

ALAN HIRSCH
 A palavra está em toda parte, mas de onde veio e o que realmente significa?

Tornou-se cada vez mais difícil abrir um livro sobre ministérios ou participar de uma conferência em igrejas e não ser abordado pela palavra missional. Uma busca rápida no Google descobre a presença de "comunidades missionais", "líderes missionais", "adoração missional", até "reuniões missionais informais" e "café missional". Hoje, todo mundo quer ser missional. Você pode pensar em um único pastor orgulhosamente anti-missional?
  
Mas, à medida que os líderes das igrejas continuam a embarcar no movimento missional, o verdadeiro significado da palavra pode ser enterrado sob uma pilha de pressupostos. É simplesmente uma nomenclatura atualizada para “igreja com propósitos” ou “igreja sensível às necessidades”? Será que Missional é uma nova e mais madura influência do movimento das igrejas emergentes?

É hora de parar e considerar a origem e o significado da palavra que está reformulando nossa compreensão do ministério e da igrejaEste diagrama em forma de árvore[1] mostra as raízes da palavra missional e como seu alcance se expandiu para diferentes áreas do ministério. Alan Hirschque se auto define como "ativista missional", também fornece uma definição concisa do termo abrangente.

Há consequências quando os significados das palavras ficam confusos. Isto é particularmente verdadeiro dentro de uma cosmovisão bíblica. Os hebreus desconfiavam das imagens como comunicadores da verdade, então guardavam as palavras e seus significados cuidadosamente. Parte da teologia, portanto, inclui a proteção do significado das palavras para manter a verdade dentro da comunidade de fé. 

É por isso que estou preocupado com a confusão que envolve o significado da palavra missional. Manter a integridade desta palavra é fundamental, porque a recuperação de uma compreensão missional de Deus e da Igreja é essencial não só para o avanço da nossa missão, mas também, eu creio, para a sobrevivência do cristianismo no Ocidente.
  
Primeiro, deixe-me dizer o que missional não significa. Missional não é sinônimo de emergente. A igreja emergente é principalmente um movimento de renovação tentando contextualizar o cristianismo para uma geração pós-moderna. Missional também não é o mesmo que evangelístico ou sensível às necessidades. Esses termos geralmente se aplicam ao modelo de atração da igreja que dominou nossa compreensão por muitos anos. Missional não é uma maneira nova de falar sobre o crescimento da igreja. Embora Deus deseje claramente que a igreja cresça numericamente, isto é apenas uma parte da maior agenda missional. Finalmente, missional é mais do que justiça social. Envolver-se com os pobres e corrigir as desigualdades faz parte de ser agente de Deus no mundo, mas não devemos confundir isso com o todo.

Uma compreensão adequada de missional começa com a recuperação de uma compreensão missionária de Deus. Por sua própria natureza, Deus é um "enviado" que toma a iniciativa de redimir sua criação. Esta doutrina, conhecida como missio Dei - o envio de Deus - está fazendo com que muitos redefinam sua compreensão da igreja. Porque somos o povo "enviado" de Deus, a igreja é o instrumento da missão de Deus no mundo. Como as coisas estão, muitas pessoas veem o contrário. Elas acreditam que a missão é um instrumento da igreja; um meio pelo qual a igreja cresce. Embora frequentemente digamos "a igreja tem uma missão", de acordo com a teologia missional, uma declaração mais correta seria "a missão tem uma igreja".

Muitas igrejas têm declarações sobre missões ou falam sobre a importância da missão, mas onde verdadeiramente as igrejas missionais diferem é na sua postura em direção ao mundo. Uma comunidade missional vê a missão como impulso originador e seu princípio organizador. Uma comunidade missional é modelada segundo o que Deus fez em Jesus Cristo. Na encarnação Deus enviou seu Filho. Da mesma forma, ser missional significa ser enviado para o mundo; não esperamos que as pessoas venham até nós. Esta postura diferencia uma igreja missional de uma igreja atracional.

O modelo de atração, que dominou a igreja no Ocidente, busca alcançar a cultura e atrair as pessoas para a igreja - o que eu chamo de busca e apreensãoMas este modelo só funciona onde nenhuma mudança cultural significativa é necessária quando se move de fora para dentro da igreja. E à medida que a cultura ocidental se tornou cada vez mais pós-cristã, o modelo de atração perdeu sua eficácia. O Ocidente parece mais um contexto missionário transcultural em que os modelos de igreja atração são autodestrutivos. O processo de extrair pessoas da cultura e assimilá-las na igreja diminui a capacidade de falar com aqueles que estão lá fora. As pessoas deixam de ser missionais e, em vez disso, deixam esse trabalho para o clero.

Uma teologia missional não está contente com a missão de ser um trabalho baseado na igreja. Em vez disso, aplica-se a toda a vida de cada crente. Todo discípulo deve ser um agente do reino de Deus, e todo discípulo deve levar a missão de Deus em todas as esferas da vida. Todos somos missionários enviados para uma cultura não-cristã.

Missional representa uma mudança significativa no modo como pensamos a igreja. Como povo de um Deus missionário, devemos nos relacionar com o mundo da mesma forma que ele - indo ao invés de apenas alcançar. Obstruir este movimento é bloquear os propósitos de Deus em e através do seu povo. Quando a igreja está em missão, então ela é a verdadeira igreja.


Alan Hirsch é autor, palestrante e diretor fundador da The Forge Mission Training Network, uma organização internacional.

Usado com permissão do autor

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Título original: Defining Missional
Acesso05/06/17
Tradução: Pr. Robson Rosa Santana (Igreja Presbiteriana do Brasil)
Revisão: Pr. Walter Leite (Igreja Batista Betel - Aracaju – SE)
   


[1] Há link aqui mais não abre no site. Dá como erro.

2 de junho de 2017

A Verdadeira Felicidade

“... ainda assim eu exultarei no Senhor e me alegrarei no Deus da minha salvação” Hc 3.18

Onde está Deus em meio a tanta injustiça e maldade? Essa dúvida permeia o coração de muitas pessoas em todos os tempos! Ontem e hoje, somos afligidos por situações de dor, angústia e indignação. O profeta Habacuque levantou esse mesmo questionamento: “até quando, Senhor?”.
Habacuque foi um profeta do Antigo Testamento, contemporâneo de Jeremias e Naum. O livro que leva o seu nome foi escrito no final do século 7° antes de Cristo, por volta dos anos 610 a 605 a.C. O quadro existencial dele não é diferente de nosso contexto brasileiro. Grassava a injustiça, opressão e propina dos líderes de sua época. Além disso, a ameaça imperialista da Babilônia jazia às portas de Jerusalém.
Por isso ele ora fervorosamente: “até quando, Senhor?”. Creio que ele conhecia a Deus e reconhecia sua soberania, mas a aflição do seu coração foi tanta que ele pensou: “por que demora tanto a ação do Senhor?”. “Será que o Senhor não vê a nossa situação calamitosa?”.
Entendo plenamente seus questionamentos. Sou homem igual a ele e, nas minhas angústias, tento entender os planos de Deus que não são claros para mim. Mas o que aprendemos desse livro é que não devemos duvidar dos propósitos soberanos dEle. Ele sabe o que faz.
Deus lhe responde. Mas a resposta nem sempre agrada. Deus lhe disse que usaria a Babilônia, exército poderoso e perverso, para castigar o reino de Judá. E diante de mais outro questionamento de Habacuque, o Senhor diz que no tempo certo trataria dos babilônios. Há cinco “ais” para eles.
Nesse contexto, podemos aprender da atitude do profeta. Ele se pôs na torre de vigia e esperou no Senhor. Não existe outra ação mais proveitosa para nossas almas do que colocar toda a nossa situação em oração e confiar no Senhor. Nada acontece por acaso, mesmo que achemos toda situação triste e angustiosa. Como disse bem o salmista, entregue o seu caminho ao Senhor; confie nele, e ele agirá” (Sl 37.5).
Na torre de vigia o profeta passa por uma renovação da sua visão sobre Deus. Deus é soberano, justo, santo e amoroso. Restou-lhe, assim, orar mais uma vez. Ele ficou alarmado e clamou: “aviva a tua obra, Senhor”. Suplica uma operação maravilhosa do Senhor no meio de seu povo.
Habacuque não apenas orou, esperou, viu as coisas pela ótica de Deus, mas também entendeu algo de suma importância: só Deus é nossa alegria e satisfação verdadeira. Tudo mudou depois desse derramar-se diante do Pai. Ele declara que mesmo que faltasse tudo, ele exultaria e se alegraria em Deus. Esse estágio poucos conseguem alcançar. É fácil estar feliz e satisfeito quando tudo vai bem. 
Davi, mesmo em face de todas as lutas que passou, dizia: “na tua destra há delícias perpetuamente” (Sl 16.11). Os apóstolos regozijaram-se mesmo sofrendo por causa do nome de Jesus (At 5.41). Paulo, embora preso, escreveu a carta aos Filipenses na qual a tônica é a alegria: Alegrem-se sempre no Senhor. Novamente direi: alegrem-se!(Fp 4.4).
Onde você está colocando sua identidade, satisfação e alegria? Se for em coisas ou na situação político-social-econômica, você será muito infeliz. Mas se for somente em Deus, no seu amor e graça, você encontrou o verdadeiro significado da vida e verdadeira felicidade. Bem disse Steven Lawson: “Se olho para mim, me deprimo. Quando olho para os outros me iludo. Quando olho para minhas circunstâncias me desencorajo, mas quando olho para Cristo estou completo”.
Pr. Robson Santana