26 de novembro de 2010

Fé viva ou fé morta


“Tradição é a fé viva dos que já morreram e tradicionalismo é a fé morta dos que ainda vivem” (Jaroslav Pelikan)

Um dos maiores perigos da nossa fé é cair num tradicionalismo morto, e talvez mais difícil ainda é perceber se nós mesmos entramos nele. Os autores bíblicos do Antigo Testamento, inspirados e orientados por Deus, falaram por diversas vezes do perigo de se abandonar a Ele seja por meio do esquecimento daquilo que Ele é e tem feito pelo seu povo ou simplesmente pelo mero formalismo morto.
“O Senhor disse: Visto que este povo se aproxima de mim e com a sua boca e com os seus lábios me honra, mas o seu coração está longe de mim, e o seu temor para comigo consiste só em mandamentos de homens, que maquinalmente aprendeu” (Isaías 29.13). Essa expressão de fé em Deus de modo mecânico não ocorre de uma hora para a outra. Em alguns casos se manifesta numa segunda geração de famílias que fazem parte do povo da aliança.
No livro O Universo ao Lado, que fala sobre como filosofias e religiões expressam sua cosmovisão da vida pessoal, do universo e de Deus, e como essas percepções de mundo são compartilhadas até mesmo para maioria da humanidade, tornando assim o “espírito de uma época” (zeitgeist), James W. Sire considera a reação de pensadores cristãos à religiosidade morta de seus dias. Embora eles não tenham permanecido firmes na ortodoxia bíblica, descambando para um existencialismo teísta, ou liberalismo teológico, negando verdades como a veracidade das histórias da Bíblia ou negando os milagres, dentre outros pontos essenciais da fé, eles propuseram um teste que quero que reflitamos juntos.
Vamos ao teste. Como você lida com o pecado: como a quebra de uma regra ou a traição de seu relacionamento com Deus? Com relação ao arrependimento: você simplesmente admite a culpa ou sente uma profunda tristeza por ter adulterado sua relação com Deus? Você vê o perdão como a suspensão da pena ou a renovação da amizade? E a , é a crença em um conjunto de proposições ou o comprometimento com uma pessoa, ou seja, com o Deus trino? E por fim, sua vida cristã é a obediência de regras e mandamentos ou uma forma de expressar toda sua gratidão a Deus? (Sire, 2010:167).
Se suas respostas tenderem para a primeira parte das perguntas, isso revela a ênfase em um relacionamento com Deus de modo impessoal ou despersonalizado. No entanto, se você concebe o pecado como trair Deus; o arrependimento como um sentimento de pesar por causa dessa traição; o perdão como uma reconciliação com o Deus santo; a fé como um compromisso radical; e a vida cristã como um estilo de vida grato por tudo que Ele fez, faz e fará, você está no caminho da fé viva, verdadeira e relevante.
Lembremos sempre que Deus é tão gracioso que mesmo que a nossa religiosidade seja legalista, morta ou impessoal, Ele insiste: “continuarei a fazer obra maravilhosa no meio deste povo; sim, obra maravilhosa e um portento...” (Is 29.14a).

Pr. Robson Santana
IGREJA PRESBITERIANA DO BRASIL